segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Valério Coelho, tricentenário


Fonseca Neto

Lembra o padre Vicente Britto, de ascendência oeirense, que “o ser humano é história e dos encontros aparecem as respostas”.
Uma das características mais acentuadas do processo seiscentista de repovoamento da bacia do rio Punaré (Parnaíba), é ter ele se dado com a implantação de currais, seguindo a orientação de seus afluentes. Toda a terra necessária à pecuária, foi tirada, por injusta guerra, à população nativa, constituída por grupos humanos há milênios vivendo por aqui.
O casal de fazendeiros, Maria Freire da Silva e José Vieira de Carvalho, está entre os troncos familiares aqui chegados nos cinquenta primeiros anos da colonização, e entre seus filhos, uma delas, Domiciana Vieira de Carvalho, casou com um moço português da corte, Valério Coelho Rodrigues, fixando-se no sítio do vale do Canindé, lugar da hoje cidade de Paulistana. 
Domiciana e Valério tiveram 16 filhos, 8 mulheres e 8 homens. Os filhos se multiplicaram e também as fazendas do casal. E assim como a atividade ligada à gadaria tinha caráter extensivo – os rebanhos se reproduziam e seus donos tinham que incorporar mais terras de pastos e águas – os filhos deles iam casando e fundando cada vez mais longe suas fazendas e currais. Com efeito, espalhar-se-iam pelos vales mais úmidos do rio São Francisco, limites das capitanias de Pernambuco e da Bahia, e da própria capitania do Piauí, rio Canindé abaixo. 
De 1712 a 1762, o que chamamos de Estado do Piauí constituía apenas um município, da Mocha, rebatizado para “Oeiras” exatamente nesse ano de 62, quando efetivada a cidade-sede como cabeça de capitania em 1759, época em que os Vieira de Carvalho e Coelho Rodrigues ganhavam proeminência na vida social piauiense em formação. 
Em meados do século seguinte, o XIX, dos 15 filhos – um tornou-se religioso e celibatário – e dos seus enlaces com várias outras famílias fazendeiras, sua descendência em netos e bisnetos sobe a mais de uma centena de indivíduos. Já misturados, diga-se, e agora, além daqueles, ostentando, entre outros, os sobrenomes de Souza, Sousa Martins, Araújo Costa, Macedo, Andrade, Costa Veloso, Lopes dos Reis, Ferreira, Costa Mauriz. E hoje, viventes, da sexta à décima gerações, a descendência de Domiciana e Valério constitui certamente a mais extensa rede parental piauiense, notadamente da metade sul do Estado, além de ser a maior família do extremo oeste pernambucano e norte baiano e também sul do Maranhão – para este, antigo Pastos Bons, ainda no primeiro quartel do Oitocentos, migrou um ramo dos Souza Coelho, do vale do São Francisco, região de Petrolina e Juazeiro. 
Tão extensa essa teia familiar que é muito difícil andar por Oeiras, Paulistana, Petrolina, Afrânio, Pastos Bons, para não se cruzar em poucos minutos com frutos pendentes da árvore desses avoengos paulistanenses. Descendência visibilizada sobretudo pela proeminência que alcançaram muitos de seus filhos, sobretudo nas funções políticas e no campo das letras. Alguns deles? O famoso Visconde da Parnaíba (neto); José Sarney (hexaneto); Wilson Martins e Roseana Sarney (septanetos); Nilo de Souza Coelho e Nilo Moraes Coelho (ex-governadores de PE e da BA) e Luiz Coelho da Rocha (ex-gov. MA); Abimael Carvalho (general); Dagoberto Carvalho Jr (escritor, da APL); Antonio Coelho Rodrigues e Celso Barros Coelho (juristas e parlamentares federais); Fernando Bezerra Coelho, atual ministro da Integração, de Dilma Rousseff. E a memória familiar assegura que 80% dos prefeitos de Petrolina, quase todos de Afrânio, e de Dormentes (PE), e muitos de Oeiras, inclusive o atual. Clérigos? O padre Marcos de Araújo Costa (neto); o bispo Augusto Rocha, que celebrou a missa tricentenária. Em Passagem Franca, MA, Rosa Coelho, aos 101 anos, neta de José Vasco de Souza Coelho (deputado geral do Império), do ramo de Pastos Bons, é talvez a mais longeva descendente desses Coelho de Valério.   
Domiciana tinha origem paulista, daí o topônimo Paulistana. Valério, um português, da região do Porto, onde nasceu no dia 3 de setembro de 1713. Para celebrar os 300 anos de seu nascimento, grande Encontro se fez no último domingo, no terreiro da fazenda deles, hoje a praça central da cidade de Paulistana. O governador Wilson Martins e o prefeito Gilberto Melo lideraram a grande festa, solene e popular.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário