sexta-feira, 27 de setembro de 2013

VARIAÇÕES SOBRE A MATANÇA DE ANIMAIS



27 de setembro   Diário Incontínuo

VARIAÇÕES SOBRE A MATANÇA DE ANIMAIS

Elmar Carvalho

Tempos atrás, uma alta autoridade, numa festa carnavalesca, fantasiou-se de “comandante”. Parece que ele, até numa brincadeira, queria demonstrar ser o que ele de fato era: um comandante. Era como se desejasse levar a sua autoridade e cargo até para o recinto de uma simples brincadeira momesca, ou então precisasse convencer-se a si próprio de que de fato era um comandante, embora de uma nave burocrática e estatal. Parecia necessitar da bengala de seu cargo, mesmo numa festa de fantasia, em que seria mais coerente ele aparentar ser o que não era, já que se tratava de uma festa de simulacros.

Anos atrás, vi um homem, envergando uma roupa militar de camuflagem, com um potente rifle, posar de poderoso caçador, com uma onça morta a seus pés, como se essa covardia fosse um grande feito, digno de figurar nos fastos da história. A foto fora estampada em jornal de grande circulação. Para mim, não passava do registro de uma barbárie travestida de fanfarronice visual.

Até admito que seria um feito notável, talvez mesmo heroico, se ele tivesse enfrentado o animal sem nenhuma arma de fogo, ou apenas armado com um cacete, no máximo com uma faca, que seria uma espécie de prótese ou simulacro de uma poderosa garra. Mas o homem, naquela fotografia, parecia orgulhoso, como se fosse um semideus mitológico e senhor da vitória. Parecia, em seu sorriso, jactar-se de sua covardia, como se tivesse cometido uma façanha homérica e gloriosa, merecedora de uma epopeia.

Meses atrás, vi na revista Veja uma foto que reputei chocante. Nela aparecia um elefante morto, próximo de uma locomotiva e dos trilhos. O animal tinha a boca aberta, como se tivesse emitido um forte e desesperado urro de dor. Sendo o elefante um animal muito inteligente, me pareceu razoável imaginar que ele percorria aquela floresta, por onde passava a ferrovia, com desenvoltura, sobranceria e destemor, vez que era o maior e mais forte animal terrestre, contudo sem insolência e desprovido de ferocidade gratuita para com os outros animais.

Apenas a girafa é mais alta que ele, mas isso mesmo apenas por causa do pescoço, como gosta de dizer um amigo meu, ante as pessoas que se julgam maiores e mais importantes que os outros. O elefante parecia frágil, pequeno e indefeso diante daquele monstro de ferro e aço. Por essa razão, alguma medida de proteção aos animais deveria existir, quando são feitas obras e desenvolvidas atividades de tamanho impacto ambiental, com o objetivo de serem preservados os animais silvestres, inclusive os ferozes, que vivem em harmonia com o seu ambiente natural.

Vi na TV, vários meses atrás, uma matrona rica, que, diante das câmeras e da mídia, se dizia protetora dos animais, se vangloriar orgulhosamente, para um grupo de “turistas caçadores”, dos quais era guia e hospedeira, de haver matado uma onça grávida.


Fiquei enojado dessa mulher tão hipócrita, que para os meios de comunicação alardeava ser ecologista, mas que na verdade era uma cruel exterminadora de espécimes, que dizia proteger e defender. Não consigo imaginar que orgulho possa existir em se matar, sem nenhuma necessidade, um animal, que apenas desejava usufruir a vida selvagem e instintiva, para a qual fora criado.   

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