Edmar
Oliveira
O meu amigo
poeta Marcos Freitas inundou meu e-mail com notícias sobre a seca. É
que o poeta é também especialista em recursos hídricos da Agência
Nacional de Águas e está alarmado, como muito dos nossos
conterrâneos que não ouvem mais o cantar da asa branca, com a seca,
que desde o ano passado castiga o nordeste. A ONU reconhece já a
extensão desta seca como sendo a maior dos últimos cinquenta anos.
Com a possibilidade, como alerta o poeta, de se agravar. E as obras
da transposição do Rio São Francisco secaram no meio do caminho,
indiferentes – como são os governos – com a discussão de que
seriam ou não parte da solução.
Tomara que lá
no futuro outra Raquel de Queiróz não tenha que escrever “O
Catorze” como o ano que pode se apresentar, lá depois do dia de
São José, como o mais trágico da modernidade para nossos
conterrâneos que já começam a viver a tragédia d’o quinze do
século passado nos dias atuais.
Foi Euclides
d’Os Sertões quem chamou atenção para o migrar do nordestino que
é diferente de todos os migrantes da terra. Geralmente as migrações
são um eterno caminhar de povos que vivem essa situação para a
aridez da terra e seu esgotamento. Nós não. Vamos embora com a asa
branca pela a impossibilidade de viver na terra ingrata pela ausência
da chuva. Mas basta as primeiras gotas para transformar o cinza em
verde, a feiura virar beleza. A asa branca volta e o migrante também.
Nós somos um migrante que volta sempre ao torrão que abandonou. E
quantas vezes saia, volta. Porque volta para um lugar que fica na
saudade. Que não nos deixa nem quando vamos pra não voltar, como
diz a canção do poeta triste. Porque a saudade é um lugar que não
nos deixa.
O engenheiro
Marcos Freitas está preocupado com esta seca do treze do século do
futuro. Mesmo com toda tecnologia existente não conseguimos transpor
um rio, tirar a água abundante do subsolo, fazer uma irrigação
como Israel faz do deserto um oásis. Não. O nordeste não vive
nesse futuro. Nossos políticos ainda cultivam a seca como a
indústria que lhes fornece votos com pipas d’água, cisternas.
Nada se faz para resolver o sofrimento do sertanejo. E o engenheiro,
que reclama sem ser ouvido, fala pela boca do poeta: “as
caatingas/ como os sertões/ estão/ em toda parte/ na minha
solidão”.[1]
[1] Marcos
Freitas,
“Vivências”, Inquietudes de Horas e de Flores, Livre Expressão
Editora, RJ, 2011, ano em que começava a estiagem da atual seca.
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