terça-feira, 1 de outubro de 2013

A seca do treze


Edmar Oliveira

O meu amigo poeta Marcos Freitas inundou meu e-mail com notícias sobre a seca. É que o poeta é também especialista em recursos hídricos da Agência Nacional de Águas e está alarmado, como muito dos nossos conterrâneos que não ouvem mais o cantar da asa branca, com a seca, que desde o ano passado castiga o nordeste. A ONU reconhece já a extensão desta seca como sendo a maior dos últimos cinquenta anos. Com a possibilidade, como alerta o poeta, de se agravar. E as obras da transposição do Rio São Francisco secaram no meio do caminho, indiferentes – como são os governos – com a discussão de que seriam ou não parte da solução.

Tomara que lá no futuro outra Raquel de Queiróz não tenha que escrever “O Catorze” como o ano que pode se apresentar, lá depois do dia de São José, como o mais trágico da modernidade para nossos conterrâneos que já começam a viver a tragédia d’o quinze do século passado nos dias atuais.

Foi Euclides d’Os Sertões quem chamou atenção para o migrar do nordestino que é diferente de todos os migrantes da terra. Geralmente as migrações são um eterno caminhar de povos que vivem essa situação para a aridez da terra e seu esgotamento. Nós não. Vamos embora com a asa branca pela a impossibilidade de viver na terra ingrata pela ausência da chuva. Mas basta as primeiras gotas para transformar o cinza em verde, a feiura virar beleza. A asa branca volta e o migrante também. Nós somos um migrante que volta sempre ao torrão que abandonou. E quantas vezes saia, volta. Porque volta para um lugar que fica na saudade. Que não nos deixa nem quando vamos pra não voltar, como diz a canção do poeta triste. Porque a saudade é um lugar que não nos deixa.

O engenheiro Marcos Freitas está preocupado com esta seca do treze do século do futuro. Mesmo com toda tecnologia existente não conseguimos transpor um rio, tirar a água abundante do subsolo, fazer uma irrigação como Israel faz do deserto um oásis. Não. O nordeste não vive nesse futuro. Nossos políticos ainda cultivam a seca como a indústria que lhes fornece votos com pipas d’água, cisternas. Nada se faz para resolver o sofrimento do sertanejo. E o engenheiro, que reclama sem ser ouvido, fala pela boca do poeta: “as caatingas/ como os sertões/ estão/ em toda parte/ na minha solidão”.[1]   

[1] Marcos Freitas, “Vivências”, Inquietudes de Horas e de Flores, Livre Expressão Editora, RJ, 2011, ano em que começava a estiagem da atual seca.

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