terça-feira, 15 de outubro de 2013

Celso.91.com.pb


Fonseca Neto

Diz o “benjamim” da Academia Piauiense de Letras, Homero Ferreira Castelo Branco Neto, apreciar, particularmente, as conversas que rolam, no “cisco”, ao final das sessões plenárias desse sodalício. E são mesmo das melhores –claro, as conversas rituais são também muito prazerosas. Aqui uma delas que repasso com muita satisfação.
No “cisco” de sábado, 5, disse-me o professor e acadêmico Celso Barros Coelho, com satisfação incontida, que começara a escrever usando o computador – “e já estou começando a escrever as memórias de minha vida política”. Chamei o companheiro acadêmico Zózimo Tavares Mendes para saber da novidade e partilhar a conversa. Muitas vezes instiguei mestre Celso a tentar a façanha, sabedor ser ele um bom datilógrafo. E calhou a compreensivelmente discreta sugestão das “memórias”. 
Mas o que teria de tão impactante nisso? 
Muito. Primeiro, relembro que ele é um notável advogado e professor de Direito, titular da Ufpi, fonte viva de saber jurídico, com a qualidade de jurista, pois intelectual firmemente lastreado nas indispensáveis referências da História e da Filosofia, assim das chamadas Humanidades ou Ciências Humanas e Sociais em sentido amplo. Além de orador de largos recursos é escritor com várias obras publicadas e sabe-se lá as milhares de folhas em matéria jurídico-peticional e memorial que já manuscreveu ou datilografou para o aconchego dos autos forenses; ultimamente, ditando para suas atentíssimas secretárias-digitadoras no PC. Aí está: Celso não havia “caído nas graças” dessa máquina colossal e de seu editor de textos, que ajuda escrever aos que não sabem, imagine-se o quanto potencializa o ato escritural de ases da palavra e da própria escrita, tal ele é. Em segundo lugar, diante da pergunta – “por que não o fizera, antes?” – vale assinalar que ele tem 91 anos de idade e não é fácil um ser humano ultrapassar tantas barreiras culturais/atitudinais diante de certas e radicais novidades, tal essa, significada no computador e aparato tecnológico de seus aplicativos. Superação formidável que motiva esta celebração, dele, e dos que queremos continuar lendo o que ele tem a dizer pela escrita.
Conhecendo-o – pois fui seu aluno de Direito Civil há mais de três décadas no curso de Direito da Ufpi, além do contato acadêmico –, acredito que isso é mais um sinal de seu labor incansável em prol das grandes causas que enredam o ser humano e, claro, grande amor à vida, que para ele deve caminhar sob o imperativo da realização do Justo. Prova de que, para ele, aos 91, “a vida começa amanhã”, tal lembra um antigo pároco de sua Pastos Bons natal.   
Como disse, escrevendo na luz da telinha de cristal líquido, as cintilações “tel/úricas” logo o convidaram a escrever suas lembranças e começou pela vontade de praticar o registro de algo que o apaixona, além do Direito –a militância política. Tem o que contar, do que muito dará o que falar. Mas somado a ele na condição de nossa sertanidade comum, e também com aquele pensar de que “o tempo não para”, renovei-lhe o apelo para nos contar também do seu nascimento e da aldeia que o assistiu: da infância nos sertões onde há serras que pingam; de como a vida operou seus rumos desde Pastos Bons; de Colinas, a antiga Picos, onde “inaugurou” o colégio João Pessoa, o pai um vareiro municipal no Itapecuru, na prefeitura de “Cravo” Reis, seu tio-afim. Quanto será instrutivo contar de como seguiu para a jovem cidade de Benedito Leite e dela passou a Uruçuí, no Piauí, de onde desceu para o Seminário diocesano, em Teresina; o magistério...
Agora que, qual um renascido no prazer essencial, mais uma vez descobre os encantos delas e se entrega a essa diva iluminada de nossa era, onírica, que conte também como, naquelas vizinhanças dos Fortes pastobonenses, ainda nos cueiros, dado como “anjo”, envolvido nos paninhos do enterro, “ressuscitou” para ser sujeito pleno de suas nove décadas e quase dois anos de vida e exemplo. 
Aguardamos, doutor. Afinal, como disse o nosso padre Vicente Britto, ao dobrar a esquina dos 80, “a vida começa amanhã”: Vicente, no Itacor, a quem dedico estas lembranças.  

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