segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A noite é uma criança



A noite é uma criança

Gutemberg Rocha (do Instituto Histórico de Oeiras)


Café Oeiras, sexta-feira, 13 de setembro de 2013. A noite cobre a Velha Capital. A lua quarto crescente já vai alta quando os convidados começam a chegar à praça para prestigiar o lançamento da segunda edição de Sonetos & Retalhos, obra póstuma do poeta e cronista oeirense Gerson Campos, publicada pela Fundação Nogueira Tapety – FNT, presidida por Carlos Rubem, sobrinho do autor. Devagarzinho o espaço vai sendo ocupado. O Passeio Leônidas Melo resplandece resplendente. Multiplicam-se os sorrisos e abraços das pessoas se encontrando sob o fundo musical de clássicos da Bossa Nova e valsas possidonianas.
Músicos de Teresina – Davi ao violino – executam antigas canções dedicadas a dona Amália Campos, irmã de Gerson, pelos seus noventa anos de vida. Fascinação, Marina, Deus abençoe as crianças... A homenagem é reforçada por demonstrações de carinho de crianças e professoras, muitas destas suas ex-alunas. Flores, bolo, parabéns! Confundem-se as homenagens à matriarca dos Campos e ao seu irmão poeta, falecido há quatro décadas, aos trinta e nove anos de idade. Mas ele está aqui, nos poemas, nas cantigas e no coração das pessoas. Amigos e admiradores de se perder a conta. Pedro, Paulo e João, Socorro, Celina e Conceição, Antônio, José, Geraldo e Sebastião, Teresa, Bernadete, Benedito, Francisco e... não sei, não... Não dá pra enumerar. A praça parece um chão de estrelas.
As falas são poucas e breves. Fazem uso da palavra este escriba, como editor, Wellington Dias, como apresentador do livro, e Rita Campos, em nome da família dos homenageados. O clima não está para discursos. É hora de poesia, de música, de descontração, de relembranças. A cerimonialista Cassi Neiva, mui digna presidente da Confraria Eça-Dagobertiana, conduz com maestria o evento. A professora Elimar Barros declama o soneto Pesadelo atroz, de Nogueira Tapety (1890-1918), patrono da FNT e tio de Gerson Campos. O ator Bonifácio Lima veio da capital para recitar, em delirante performance, Monólogo de uma rosa, poema até então inédito de Gerson.
Os Beletristas de Oeiras são pura harmonia. Chico, Vanda e Rodrigo, do clã Queiroz, e mais Vinícius e Felipe, compõem a constelação à qual se integra a exímia bandolinista Petinha Amorim. O repertório é impecável: Linda Morena (de Raimundo e Chico Queiroz), Olhos Verdes (de Gerson Campos e Levi Carmo), Pensando em Ti (de Possidônio Queiroz) e outras maravilhas do gênero. Olhos verdes nos reserva uma grata surpresa: a interpretação de Ferrer Freitas, em dueto com Vanda Queiroz.
E eis que vem chegando a madrugada. É a hora da Serenata do Adeus, é a vez de Wilker Marques. Acompanha-o uma banda composta basicamente por integrantes da Orquestra Sinfônica de Teresina. O show nos faz viajar no tempo, e o vento que sopra traz a recordação daquela fatídica tarde de 11 de fevereiro de 1973, quando o coração de Gerson Campos sucumbiu às emoções de uma partida de futebol. Neste momento, uma voz entoa os versos de Balada nº 7 (Mané Garrincha), composição de Alberto Luiz imortalizada por Moacyr Franco: Sua ilusão entra em campo no estádio vazio / Uma torcida de sonhos aplaude talvez... Não nos resta, então, nada a fazer, a não ser matar a saudade no peito e driblar a emoção. E aproveitar a festa, porque a noite é uma criança.  

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