José
Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
Durante
longo tempo, o termo Gerente dominou o mundo corporativo e
empresarial. Hoje, o Gestor é quem se destaca, em vez do Gerente.
Qual a diferença?
Comprei
um carro, precisei regularizá-lo no Detran da avenida João XXIII.
Burocracia, aporrinhação, desculpas: “sistema fora do ar”,
“venha mais tarde”, “fotocópias”, “aguarde uma das nossas
atendentes chamá-lo”, comuns na administração pública.
Aborrecido, eu circulava pelo salão de atendimento, para espantar o
cochilo da espera. Topava com pessoas, algumas angustiadas, e o
desabafo me vinha à pele. Senhor grisalho também circulava pelo
salão, observava a reação dos clientes, ouvia as reclamações com
bálsamo da cortesia: “Aborrecido por que, moço? Em que posso
servir você?” Curioso, indaguei-lhe: “Quem é você?”
Prontamente devolveu: “Meu nome é Raimundo Filho, coordeno este
setor, dê-me a papelada, siga-me até a minha sala”.
Surpreendeu-me tanta gentileza em setor público do Estado.
Raimundo
Filho não esquenta poltrona de seu gabinete. Costuma circular,
observar o desempenho dos funcionários ou alguma insatisfação de
cliente. Em se tratando de órgão público, uma raridade gerencial.
No
universo das organizações corporativas, gerente é o que administra
e ordena, enquanto o gestor, conforme os objetivos da empresa, cria
um ambiente com harmonia sinfônica. O administrador encastela-se em
gabinete e só atende a seletas pessoas, quase sempre estressado,
tentando delegar delicadas funções de confiança a terceiros. Ao
contrário do gerente, o gestor desce do trono e serve. Nem gerente
isolado nem gestor. Quando as funções se unificam, os chefes
seduzem e dividem o pão das alegrias e responsabilidades.
A
função do gestor evoca a atitude do Mestre, levantando-se da mesa,
tomando a toalha e bacia com água, servindo os apóstolos. Ritinha,
professora e diretora da antiga Escola Técnica Federal do Piauí, em
visita à sala dos professores, durante o recreio, observou alguns
papéis jogados ao chão. A diretora debruçou-se, recolheu-os,
lançou-os na lixeira. Nenhum sermão; o gesto seduziu os sujões. Em
cerimônia do cinquentenário do Conselho Estadual de Educação,
Átila Lira, deputado federal e secretário de Educação, presidia a
mesa, mas se levantava a todo instante, descia do palco, dirigia-se à
plateia, distribuía apertos de mão, um estilo peculiar do
secretário, mesmo fora de campanha eleitoral.
O
gerente age, habitualmente, de forma centralizadora. O gestor, porém,
fica no meio-termo, tangenciando: nem gabinete nem salão. No mundo
corporativo, sempre deve funcionar o meio-termo entre o gerente e o
gestor. O adágio popular vele nessas horas: “Quem engorda o gado é
o olho do dono.” Uma esperta diretora da minha escola convencia-me
a permanecer na diretoria e evitar contatos com estudantes e
professores: “Não pega bem a um empresário como você.” E eu me
apavonava, ingênuo. Quando lhe percebi tamanho zelo, já tinha me
engabelado e me usurpado a chave do cofre. Papa Francisco encanta o
mundo pela simplicidade franciscana, de descer do trono da autoridade
para abraçar o pastor evangélico, criança, gente anônima. Nada de
gentilezas hipócritas, interesses eleitoreiros.
Entre
virtudes, defeitos e riscos, o papel do gestor cai melhor que o de
gerente. Raimundo Filho tinha razão.
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