segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

NOSSA TERRA, NOSSA GENTE - TV MEIO NORTE


(*) Francisco Miguel de Moura

Sou formado em Letras, mas também em Crítica de Arte, uma pós-graduação na Universidade Federal da Bahia. Mas não custa nada, de vez em quando a gente meter o bedelho onde não é chamado. Acontece que na sexta-feira 06-12-2013 fui convidado pelo cantor e compositor Lázaro do Piauí, atual Presidente da Fundação Cultural do Piauí, para participar do programa “Nossa Terra - Nossa Gente”, do qual é o apresentador. Era apenas a gravação. O programa só vai ao ar no domingo. Ou seja, conheci a televisão por dentro e por fora.  E posso garantir que não houve cortes, foi tudo para o ar tal como na gravação. Perfeita. 

      Participei como escritor, levei livros e fotos e também minha mulher, aliás, ela me levou, pois já quase não dirijo. Apresentei meus livros, falei sobre o fazer literário, dei minha opinião sobre a literatura de antes e de hoje, referindo as minhas participações na sociedade em conjunto com outros escritores, além de uma parte de minha família e meus amigos – assim quis o apresentador Lázaro do Piauí. Chegou até a falar na data do casamento de Francisco Miguel de Moura e Maria Mécia Morais Moura (minha esposa), completando 53 anos de vida conjugal, no domingo, dia 8.

       Confesso que gostei e senti que repercute na sociedade o dito programa “Nossa Terra, Nossa Gente”. Mas gostei muito de também conhecer os participantes, companheiros daquele evento: Um grupo novo de sambistas do Monte Castelo, um cantor já famoso pelos prêmios que recebeu e que há muito tempo retornou de Brasília e outras parte do país. Nome: My Brother. Esse moreno tem uma voz forte e bonita que bem merece o respeito da classe e dos ouvintes. Realmente é um cantor de boca cheia, com repertório variado, indo do samba do morro ao samba-canção, passando pelas recentes inovações do samba. Deu-me uma saudade quando cantou “Fascinação”, dedilhando seu próprio instrumento, como tocaria em qualquer sensibilidade do planeta, mesmo sem ser artista.  E aqui lembro da história, não sei se folclórica, de que o empedernido poeta João Cabral de Melo Neto não gostava de música. Não posso acreditar. Se assistisse ao My Brother, naquela tarde, estremecer-lhe-ia alguma coisa por dentro.

        Participante do programa foi também a cantora Raquel Moura, com sua doce e marcante voz e um repertório que vai desde as músicas feitas por ela mesma e pelos parceiros que a acompanham instrumentalmente, sem esquecer as grandes marcas da música popular brasileira, tudo já constando do seu CD, em fase de distribuição. Sabem onde ela nasceu? Em Bocaina - PI, perto de Picos, de Francisco Santos. Porém mora em Valença do Piauí, onde seus pais se estabeleceram.  Mas as coincidências foram tão grandes que o Lázaro gritou “Não tem jeito, a Raquel Moura é parenta do escritor Chico Miguel de Moura”.  

        Como escritor, meu propósito era falar intelectualmente, recitar poemas (recitei apenas dois: o mais popular e um outro que eu havia escrito na véspera). Mas terminei cedendo à magia do discurso do Lázaro, divertido, gostoso e alegre, na fala do povo e das coisas do povo. Programa descontraído como é Lázaro do Piauí, onde se misturam tantas coisas, “a bagunça como o povo brasileiro gosta”, mas uma bagunça organizada, dizia ele. E como se não tivesse sido planejado. Mas foi bem planejado pela inteligência e criatividade do apresentador, aqui e acolá, colocando coisas muito engraçadas da nossa gente, junto com gírias e anedotas, ele próprio recitando um belo poema caboclo.

         Ainda não falei do grupo “Estampido”, ali representado por dois participantes que disseram e mostraram a alegria que levam a vários lugares, tais como hospitais de doentes do câncer e abrigo de idosos. 

          Sei que há muitas pessoas que desejam conhecer e reconhecer a nossa cultura popular, que é rica. Mas é preciso ter cuidado, porque há muita coisa oficial que não passa de uma deturpação da cultura do povo. Não vou citar programas nem ninguém, mas que tem, tem. No Carnaval e no São João ainda se pode respirar um pouco do que foram. Mas já está me coçando a língua pra referir o “Boi do Piauí”. Para mim, nosso boi é muito mais aquele que se chama de “Reisado”, onde o boi é apenas uma figura, embora a principal do teatro livre do povo, aquele que assisti quando criança.  Infelizmente num programa de tevê com seu tempo medido e contado não dá para apresenta muitas coisas, mas tenho certeza de que o Lázaro concordaria comigo neste ponto.

    Há poucos dias recebi uma carta de um piauiense que mora na Áustria e tem muita vontade de conhecer a cultura popular piauiense. E para isto gostaria voltar ao Piauí, embora já tendo morado em Teresina, para rememorar algumas coisas e ver outras. Alguma coisa ainda encontrará; mas as manifestações do passado estão morrendo e na tentativa de avivá-las ocorrem muitas deturpações. Mas venham, venham outros mais conhecer nosso povo e nossa gente e não deixem de assistir, se possível ao vivo, o “Nossa Terra, Nossa Gente”. Aí somos apresentados como somos e não como querem que sejamos. 

    Aqui tem muito mais belezas do que no Rio, Minas ou São Paulo. Aqui é o centro cultural do Brasil, como disse Luiz Fernando Veríssimo, em suas andanças por este país, numa crônica bem humorada. Podem acreditar que nosso boi não morreu, morreu foi o boi deles, nos tais “rodeios”, um arremedo das nossas “pegas do boi solto e brabo do sertão, feitas pelos destemidos vaqueiros, em seus gibãos de couro”.
    
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*Francisco Miguel de Moura - Escritor e Membro da APL - Academia Piauiense de Letras, em Teresina (PI) e da  IWA - International Writers and Artists Association, em Toledo,OH, Estados Unidos.        

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