sábado, 22 de fevereiro de 2014

Desgraças de um governante opulento



José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

          Quando passei em frente ao Palácio do Karnak, de olho no templo de São Benedito, parecia ver o governante, em carro de luxo, acompanhado de batedores... ah, como ele adorava o poder e a ostentação!

          Governador do Estado, belo, sábio nas decisões, sedutor. Selecionadas garotas atendiam-lhe o instinto insaciável. Um cronista afirma que foram centenas, sempre recebidas com privilégios palacianos. Uma bela psicóloga estrangeira, conceituada em seu país, acompanhada de comitiva, veio visitá-lo para uma entrevista. Trouxe-lhe presentes. Recebeu-a com honras de Estado, além de festivo banquete. O cronista relata, ainda, que a visitante “ficou estupefata” com os finos  manjares, licores, vinhos e galanteios do governante. Pode-se concluir o resultado do encontro em alcova.

          Governante era fascinado com a opulência: frota de carros, joias raras, barcos, imóveis de luxo e, claro, “mulheres de alta sociedade.” De toda parte.

          No início do governo, cultivava espírito puro e sábio como o pai, mas a riqueza e fúria sexual lhe entorpeceram o espírito. Antes, não se envergonhava de participar das cerimônias no templo, jurava fidelidade ao Senhor. Até produzia lindos versos, como estes: “O que ganhamos com nosso orgulho/E o que nos traz a riqueza unida à arrogância?” Veja só o paradoxo dos princípios pregados com a fortuna acumulada e loucas aventuras amorosas.

          De coração puro, espirituoso e sábio, o governante que falava de Deus resvalou-se para bebedeiras e banquetes, sempre acompanhado de mulheres fogosas. Estes versos de sua autoria bem o retratam: “Gozemos das criaturas durante nossa juventude/E não deixemos passar a flor da primavera/ Nenhum de nós falte à nossa orgia!” E chega à canalhice: “Não tenhamos consideração com os cabelos brancos do ancião”.

          O espirituoso e sábio governante escolheu companhias de outros rituais, com oferendas a espíritos repugnantes e condenáveis. Presenteou líderes da magia, construindo-lhes casas de feitiços. Às mulheres de sua paixão, luxuosas residências.

          Certo homem de Deus, profundamente angustiado, encontrou-se com um secretário do governante e mandou-lhe um recado assustador: “Ele vai perder 90% de seu poder!” Dito e feito. A desgraça bateu o trono do rei Salomão, filho e herdeiro do rei Davi, dez séculos antes de Cristo. Amou centenas de mulheres, inclusive pagãs, como a filha de Faraó. Por suas práticas abomináveis aos costumes de Israel, viu seu reinado arruinar-se. Não perdeu o trono, mas das doze tribos de Israel, somente uma, a tribo de Judá, continuou fiel ao filho herdeiro de Salomão. As onze outras formaram o reino da Samaria, que se perdeu no tempo. Daí, porque, até hoje, a raça de Israel é considerada só de Judeus, de cuja descendência de Davi nasceu Jesus. Toda a crônica inspirou-se no Primeiro Livro dos Reis e no Livro da Sabedoria. Assim, consegui amarrar você até o fim, e concluir quanto os governantes precisam tirar lições das desgraças e virtudes de seus antepassados. Porque pecados e virtudes mudam de aparência, mas a essência é sempre a mesma.   

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