José
Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
Quando
passei em frente ao Palácio do Karnak, de olho no templo de São
Benedito, parecia ver o governante, em carro de luxo, acompanhado de
batedores... ah, como ele adorava o poder e a ostentação!
Governador
do Estado, belo, sábio nas decisões, sedutor. Selecionadas garotas
atendiam-lhe o instinto insaciável. Um cronista afirma que foram
centenas, sempre recebidas com privilégios palacianos. Uma bela
psicóloga estrangeira, conceituada em seu país, acompanhada de
comitiva, veio visitá-lo para uma entrevista. Trouxe-lhe presentes.
Recebeu-a com honras de Estado, além de festivo banquete. O cronista
relata, ainda, que a visitante “ficou estupefata” com os
finos manjares, licores, vinhos e galanteios do
governante. Pode-se concluir o resultado do encontro em alcova.
Governante
era fascinado com a opulência: frota de carros, joias raras, barcos,
imóveis de luxo e, claro, “mulheres de alta sociedade.” De toda
parte.
No
início do governo, cultivava espírito puro e sábio como o pai, mas
a riqueza e fúria sexual lhe entorpeceram o espírito. Antes, não
se envergonhava de participar das cerimônias no templo, jurava
fidelidade ao Senhor. Até produzia lindos versos, como estes: “O
que ganhamos com nosso orgulho/E o que nos traz a riqueza unida à
arrogância?” Veja só o paradoxo dos princípios pregados com a
fortuna acumulada e loucas aventuras amorosas.
De
coração puro, espirituoso e sábio, o governante que falava de Deus
resvalou-se para bebedeiras e banquetes, sempre acompanhado de
mulheres fogosas. Estes versos de sua autoria bem o retratam:
“Gozemos das criaturas durante nossa juventude/E não deixemos
passar a flor da primavera/ Nenhum de nós falte à nossa orgia!” E
chega à canalhice: “Não tenhamos consideração com os cabelos
brancos do ancião”.
O
espirituoso e sábio governante escolheu companhias de outros
rituais, com oferendas a espíritos repugnantes e condenáveis.
Presenteou líderes da magia, construindo-lhes casas de feitiços. Às
mulheres de sua paixão, luxuosas residências.
Certo
homem de Deus, profundamente angustiado, encontrou-se com um
secretário do governante e mandou-lhe um recado assustador: “Ele
vai perder 90% de seu poder!” Dito e feito. A desgraça bateu o
trono do rei Salomão, filho e herdeiro do rei Davi, dez séculos
antes de Cristo. Amou centenas de mulheres, inclusive pagãs, como a
filha de Faraó. Por suas práticas abomináveis aos costumes de
Israel, viu seu reinado arruinar-se. Não perdeu o trono, mas das
doze tribos de Israel, somente uma, a tribo de Judá, continuou fiel
ao filho herdeiro de Salomão. As onze outras formaram o reino da
Samaria, que se perdeu no tempo. Daí, porque, até hoje, a raça de
Israel é considerada só de Judeus, de cuja descendência de Davi
nasceu Jesus. Toda a crônica inspirou-se no Primeiro Livro dos Reis
e no Livro da Sabedoria. Assim, consegui amarrar você até o fim, e
concluir quanto os governantes precisam tirar lições das desgraças
e virtudes de seus antepassados. Porque pecados e virtudes mudam de
aparência, mas a essência é sempre a mesma.
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