quarta-feira, 19 de março de 2014

São tantas emoções e raros os sentimentos


José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

          Grito de gol, explosão de alegria ou de ódio, canções de arrepiar no culto religioso ou no show da banda. Estresse no trânsito, batida de carro, assalto, ameaça de morte, inocente assassinado, aventuras amorosas descartáveis, apresentador de programa policial, exaltado e dramático: “Mostra as imagens, mostra, minha filha!” O cotidiano das pessoas anda, como nunca, sobrecarregado de fortes emoções, em prejuízo à saúde e aos sentimentos. Afinal, o que distingue emoção do sentimento? Qual das duas atitudes é mais saudável ao corpo e ao espírito?
          As emoções resultam de reações do psiquismo humano, inclusive dos animais, em forma de prazer ou dor, aflição ou medo, aversão ou desejo. Os animais são, naturalmente, movidos pelos instintos. Não entendem por quais razões existem ou reagem. Suas faculdades mentais limitam-se a certa dosagem de memória, inteligência e imaginação. Ao contrário dos seres humanos, apesar de instintivos, distinguem-se com duas mais: razão e vontade, que só se manifestam anos após o nascimento. As crianças, naturalmente, são mais sensíveis ao entusiasmo, à alegria ou à dor, porque ainda não desenvolveram a razão e a vontade.
          A razão é a faculdade que questiona os porquês, causas e efeitos das nossas atitudes e do conhecimento do mundo. A vontade decide entre o sim ou o não. A educação exerce papel imenso na disciplina e desenvolvimento das faculdades mentais, no controle das emoções, quase sempre indomáveis e instintivas. A educação da razão e da vontade começa por simples hábitos disciplinares do cotidiano, como falar, comer, sentar-se, chegar, sair, discutir, escolher amizades, namorar, brincar, estudar, trabalhar, decidir, chorar, zangar-se, relacionar-se com adversários. Sem nunca resvalar para exageros emocionais. Muita gente paga caro por decisões tomadas por instinto emocional, sem controle da razão e da vontade.
          Filósofos estoicos e educadores medievais ensinavam o domínio completo sobre as emoções do prazer e da dor. Para Santo Agostinho, é saudável, todavia, experimentar fortes emoções, enquanto vivemos neste mundo de miséria, com moções de entusiasmo ou de grande dureza, mas não permitir que o espírito se entorpeça.
          Somos produtos de experiências de grandeza, prazer, e desejamos sempre mais, aí descobrimos, também, nossos limites e pequenez. Somente os educados nas sábias lições de espiritualidade e virtudes conseguem viver felizes e equilibrados.
          Emoções nascem dos instintos. Educando-as sob o cabresto da razão e das nobres virtudes, conseguem-se sentimentos nobres. O filósofo Descartes afirma: “A força da alma consiste em dominar as emoções e reter os movimentos do corpo.” Criou um bordão para os apaixonados: “As razões do coração que a razão desconhece”.
          Em momento tão delicado por que atravessa o mundo, especialmente o Brasil, é hora de se destacarem sentimentos do bem, em vez da exacerbada exploração emocional em novelas, Big Brother e pirotecnias, que só servem para alienar nobres ideais. Sonhos e emoções exageradas viram pesadelos no mundo real.     

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