sábado, 5 de abril de 2014

A Uespi avança


Fonseca Neto

Há pouco mais de um mês o governador nomeou e empossou o terceiro reitor da Universidade Estadual do Piauí escolhido pela comunidade universitária.

Aparentemente rotineiro, trata-se de fato político-administrativo muito relevante e que pode ser lido em dupla chave: uma, enquanto ponto de chegada de um processo esforçado para colocar essa Instituição de pé, institucionalizada, com maioria de professores e funcionários não docentes efetivamente contratados e sem a “farra” de criação de cursos – e “de boca” – e  das transferências de estudantes com pistolão; a outra, como ponto de partida e com bons passos dados, para cumprir um papel muito destacado no processo civilizatório piauiense e brasileiro.

A Uespi teve um crescimento qualitativo evidente, fácil de constatar nas avaliações levadas a efeito ultimamente e sobretudo na percepção mediana da sociedade. Os resultados do Enade 2013/14 situaram os cursos de graduação por ela ofertados entre as menções 3 a 5, como assinalou, num breve inventário de experiências exitosas, por ocasião do ato de posse, um membro da instituição, doutor Francisco Soares Santos Filho: “Temos o melhor curso de Fisioterapia do Brasil, por três vezes avaliado com o conceito 5; nosso curso de Medicina é o único no Estado a ter conceito 5, a ordem dos Advogados do Brasil distribuiu 89 recomendações aos cursos de Direito dos mais de 1.500 cursos em funcionamento no Brasil. Destas, cinco recomendações vieram para o Piauí e a Uespi foi a única a receber três cursos recomendados no país inteiro. Tivemos três cursos de Licenciatura com conceito 5. Isto nos valeu o direito de indicar dois docentes destes cursos – História e Geografia – a tomarem assento no Conselho do Ministério da Educação, que avalia livros didáticos nestas áreas no país”. Lembrou a inclusão de vários cursos da Uespi num conhecido “Guia” editado por empresa nacional e referenciado no meio universitário. Sinais, diga-se. Experiência em aberto, com incompletudes desafiadoras.

Originalmente pensada como agência formadora de docentes, essa instituição ressignificou os objetivos e expandiu sua oferta de cursos de graduação, galgando, pouco mais de duas décadas depois, aquela qualidade garantidora da condição de ser ela uma universidade: vem agregando à atividade de ensino a atividade de pesquisa sistemática e a oferta de cursos de pós-graduação stricto sensu.

A afirmação da Uespi como instituição universitária estatal socialmente referenciada não é obra do acaso. Todo o Piauí que queira enxergar há que reconhecer, no seu percurso, de certo modo atribulado, uma crônica de vários erros, inclusive de condução política, superados, contudo, muitos, pelo acerto insistente e perseverante de valorosos atores de entre os quadros humanos que a conduziram, e conduzem, no desempenho cotidiano de suas tarefas institucionais no serviço da sociedade.

Como entidade estatal dependente de provisões do erário estadual, convém lembrar que os êxitos verificados não sobreviriam sem decisão política de governo: decisão mobilizada por forças embatentes; decisão mobilizadora das energias necessárias para sua obtenção. Com efeito, por ser o Piauí um ente federativo de minguados recursos financeiros para tanta tarefa básica que urge –além da pressão enorme por nacos dos fundos públicos emanada do pragmatismo da politicagem–, mobilizar verbas para a universidade requer largueza de visão associada à determinação de fazê-lo. E essa determinação demonstrou tê-la, o atual governante, Wilson Martins, professor universitário eleito para governar o Piauí, portanto, um conhecedor da vida acadêmica.

E o futuro? Estão dadas algumas condições para avanços ainda mais significativos. Assim como em relação a Ufpi, de experiências maturadas com mais vagar, desafia a Uespi, o imperativo exigente de contribuir na requalificação da vida contemporânea engajada por completo na construção prática do Justo. Há que descobrir caminhos inovadores que movam o desenvolvimento de outras possibilidades e fazeres. Há sinais de cansaço, por exemplo, em inorgânicos bacharelados, aliás, formatados ao afã da viçosa e compulsiva burocracia, que, tal diz José Murilo de Carvalho, é “a vocação de todos” no Brasil.

Elabore assim o seu destino, fazendo-se (esse) instrumento compenetrado de provisão de propostas substantivas e a Uespi (assim a Ufpi) será, cada vez mais, a “universidade necessária”, darcyana e piauieira.   

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