Edmar
Oliveira
Eu
já tinha até me aposentado das atividades profissionais quando uma
amiga do Piauí me propôs fazer uma aula inaugural de um curso em
Teresina. Sabe como é, na terra da gente a gente abre uma exceção
e faz de um tudo para colaborar.
De
aproveitamento ainda pesa a força do cordão umbilical de ver de
novo a terrinha. Sou meio aperreado, como se diz por lá, e fiquei
querendo saber logo a hora do voo para me organizar, pois a viagem
era justo no dia que ainda faço uma atividade pós-aposentadoria,
aquela que se faz pra não perder o costume. Mas a bicha custou a
chegar. Recebi uma mensagem por celular que a passagem estava no
aeroporto sob um protocolo cheio de consoantes em que constava a
reserva, na companhia aérea que tem base em Campinas. Saindo de
noite, já sabia que mofaria na cidade paulista para pegar um voo na
madrugada para a Filha do Sol do Equador. Não existem voos diretos
para Teresina, o que é uma desconsideração do sudeste com o meu
estado. Por isso, qualquer voo dura uma eternidade em trocas de
avião. Chegaria lá, se não houvesse atraso, madrugada a dentro. E
ainda por cima, a minha aula era de manhã cedo, mas não esmoreci
por isso. Tudo por uma justa causa! Vamos nós.
Mala
pronta, despedida da família, rumei para o aeroporto. Ainda bem que
aqui perto no Santos Dumont. No check in, procura dum lado, procura
do outro e nada. Quando eu consegui soletrar todas as consoantes da
reserva que foi lida no celular, a mocinha com minha identidade na
mão dizia que aquela passagem estava em nome do Sr. Vieira. De modos
que fui impedido de embarcar, tendo que voltar pra casa furibundo.
Não consegui uma autorização para comprar outra passagem antes da
saída do voo.
Como
sou muito bairrista, ficava achando era bom ter acontecido comigo,
que sou filho da terra. Imagina como pegava mal para nós piauienses,
se a trapalhada organizativa tivesse se dado com um professor carioca
ou paulista. Tem coisas que parece só acontecer em Teresina!
Mas
fiquei muito triste, não posso negar. Tem coisas também que
castigam lá na nossa vaidade. Uma vez que me hospedei num hotel, em
Teresina, o recepcionista ficou louco de alegria por ter reconhecido
o autor do blog “Piauinauta”. Eu também, porque afinal estava
atingindo um rapaz humilde filho da terra, o que não era pouca
coisa. Ele fez questão de entrar no blog no computador da recepção
do hotel para dizer que a folha era um dos seus sites favoritos. E
tenho testemunha, meu amigo Pereirinha estava presente.
Eu
que tenho dois livros publicados dedicados à terra fiquei sentido.
Afinal o pessoal de uma Universidade não me conhecia e fui tratado
como um ilustre desconhecido, o senhor Vieira. Além do
constrangimento de me fazer passar pelo professor Vieira e querer
embarcar no seu lugar.
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(*)
“A incrível história de von Meduna e a filha do Sol do Equador”,
Oficina da Palavra, The, 2011 é um livro sobre práticas em Saúde
Mental do Piauí. “Terra do Fogo”, Vieira & Lent Casa
Editorial, Rio 2013 é um romance que se passa em Teresina na década
de 1940. Meu primeiro livro “Ouvindo Vozes”, Vieira & Lent
Casa Editorial, Rio 2009 é muito conhecido no meio acadêmico também
no Piauí.
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