quarta-feira, 30 de abril de 2014

Para onde vai o Brasil?


Cunha e Silva Filho


              Numa entrevista  de televisão  feita com  o  já saudoso  ator  José Wilker,  a certa altura de suas  respostas à entrevistadora, o ator, refletindo sobre o  que pensava  do país,  confessara que, nas suas andanças  por dever do ofício de artista,  passando  por vários  estados brasileiros,  sentia  ser o Brasil um lugar  dividido em  quatro  países.

           Cada um desses países singularizava-se  por suas    diferenças,  costumes,  cultura, níveis sociais  etc. Pouco tempo depois,  - acrescentou -  com as mudanças  grandes  operadas  na estrutura   da nação,  com mais   progresso,   melhoria de comunicações, entre  outros aspectos novos, sua opinião  era outra, i.e.,  já  pensava  no país  como  um todo, porém  não um todo  que lhe viesse dar  satisfação  e alegria.

            O país era um só, mas o ator  não via  no horizonte  nenhuma    possibilidade  definida  de uma  estado de melhoria das condições diversas  do país. Havia em suas palavras o tom de  sinceridade e ao mesmo tempo de perplexidade  no que diz respeito a um caminho  mais definido para a solução dos problemas nacionais. Para Wilker, não havia o mínimo vislumbre de uma  saída,  de uma via  em direção  a uma realidade  futura   e de bem-estar  para o  povo. Percebi que  o ator  não estava contente com  o país e o tom  de suas   palavras era de permanecer  por enquanto  na indagação,  na dúvida,  na expectativa  de  não  divisar  um horizonte.

Foram suas palavras  inquiridoras,  inteligentes,  lúcidas que me inspiraram  a escrever   esta crônica. E, pegando  aquele  gancho  indefinido  do que falara  Wilker, também aqui  me dirijo a tantas  perplexidade diante do que  vemos  no país contemporâneo.

Sem  fazer  nenhuma previsão  geral  quanto ao destino  que  está  reservado  ao meu país, não posso deixar de repisar  questões  que cada vez mais  me  deixam  indignado, sendo a primeira delas  a da insegurança,  na qual vive o país. Continuo a afirmar que nosso  problema  nº 1 é a violência contra  as  pessoas no país afora, e não serão as Forças Armadas que darão cabo  dessa anomalia  onivora que está   matando  o resto  da esperança  do povo brasileiro.

 As Forças Amadas, por melhor boa vontade que tenham, ora  incumbidas de proteger  uma  parte das favelas cariocas,  com data até julho  deste ano, apenas  atenderão a razões  mais  da  imagem do pais com as proximidades da  Copa  Mundial.

Quando as tropas  se retirarem, os velhos hábitos  do crime  retornarão com  toda a força e perversidade nas favelas   temporariamente monitoradas.  Pouco  ou quase nada  vão fazer os militares  para  minimizar  os massacres cometidos pela criminalidade, principalmente  porque as Forças Armadas não  têm  experiência  e know-how nessa  área de atuação. Não é sua  seara específica e constitucional.

 Ontem mesmo,  às  oito horas da manhã,  um  professor de  educação física, no bairro da Tijuca,   foi mais um número  fatal da  estatística  de uma país  de altíssimo nível de   violência. Depois de tomar um cafezinho   numa padaria  perto da academia em que  trabalhava, na saída,  foi surpreendido na calçada  por  dois  meliantes adultos, um deles magro  e baixo e o outro um  homem  grande e massudo.  Usavam bicicletas. Exigiram-lhe  um relógio e  um cordão de ouro  (“Perdeu! Perdeu!," a macabra expressão  usada  por criminosos), que usava no pescoço.

 O professor, de cinquenta e cinco anos,  respondeu-lhe  com um palavrão e avançou contra  os facínoras, um dos quais  lhe atirou à queima-roupa no peito, ou no pescoço. Levaram  o professor a um pronto-socorro mais  próximo, porém  era tarde. Já  estava morto. Uma câmara,  certamente a da padaria, filmou toda a cena  assustadora  e covarde e, assim, pudemos constatar que, enquanto  o adulto magro anunciava o assalto com uma arma de fogo  em punho, o homem  grande e massudo veio  por detrás atacar  o professor  tentando dar-lhe  um golpe no   pescoço.

 Não há um só dia, leitor,  em que  a  TV brasileira  não  reporte uma agressão, um assalto, um homicídio, acontecido no eixo Rio - São Paulo ou em outras regiões do país. Grande parte dos assassínios é cometida  por  menores, que ficam impunes e voltam a matar outras pessoas,  outros brasileiros, jovens,  adultos,  velhos e até crianças.

O país  exige reformas  urgentíssimas no Código Penal e da mesma maneira  exige dos legisladores  aprovação de leis  que  diminuam a maioridade  penal a fim de que  tirem  o país  dessa fase  espantosa  de crimes e de impunidades. O país  exige  que  se implante  a prisão perpétua para  crimes  hediondos.

O povo  não mais  suporta  tanta  sangue derramado  por inocentes na rua, em casa,  em qualquer parte. Urge dar-se,  com rigor,  um freio  nessa deplorável   passividade  do poder  público  diante  do que está  ocorrendo  em todo o território nacional. Não é bom para o estrangeiro que veja toda essa carnificina   cometida  em nosso  país.

Os nosso  legisladores  em Brasília  precisam  entender  de uma vez que o Brasil  não é terra de ninguém, que  tem  condições de impor  leis  severas contra  quem  é bandido, seja  de menor idade, seja  adultos.Todos os  brasileiros  conscientes  estamos  esperando  uma  posição  da Presidente da República a fim de que  ela  se sensibilize cm  o inferno em que se transformou  o país   nessa escalada  interminável  de violência  contra  inocentes, cujo  número de mortes  equivaleria  a verdadeiras   guerra civis.

Que não venham  os  sabichões do direito,  da sociologia e da antropologia  com discursos elitistas,  segundo o qual a violência  tem causas   assim e assado.  O discurso  esotérico  de especialistas  não  pega mais nem convence a ninguém.   

Desejamos, sim, ações  concretas,   palpáveis e   decisivas  que alterem o status quo da legislação penal  no combate à criminalidade e que  revertam  com   políticas de segurança pública viabilizadas,  dando  satisfação aos anseios  do povo clamando  por justiça, justiça, justiça contra  o crime.

Desejamos, enfim, que o  cidadão em casa ou na rua,  em qualquer parte do país,  na cidade e no campo, nas megalópoles ou “monstrópoles,”  palavra cunhada  recentemente em  notável  e patriótico artigo publicado  emO Globo (“Concerto das cidades”) pelo ilustre  senador   Cristóvão Buarque  para designar  estas grandes urbes  infernais em que  se transformaram  São Paulo,  o Rio de Janeiro e outras capitais.  Somente desejamos que o povo tenha  sossego, paz e confiança  em que  este país melhore, ou se não,  vai cair  no  poço  do caos  e da  anarquia.     

2 comentários:

  1. Crônica muito séria e equilibrada sobre um país que outrora se chamou de Ilha de Vera, Terra de santa Cruz e depois de Brasil, e hoje está espedaçado entre vários países: o da droga, o da violência a qualquer tipo, o da falta de caráter, o da corrupção, entre outros. Não exército que dê jeito. Ou o povo brasileiro, ajudado por Deus. Que podemos mais dizer?
    Grande Elmar, agora também na crônica. O meu artigo sobre a poesia saiu neste sábado, dia 3, no jornal O Dia, e está no meu blogue, à sua disposição.
    abraços
    chico miguel

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  2. Chico Miguel:
    Suas palavras somente me dão mais alento para que dê continuidade aos meus textos, quer tenham cunho estritamente literário, quer tenham uma natureza de crônica jornalística, mais presos e motivados pela minha (sua) indignação de brasileiros que desejam um país diferente do que este que está diante de nossos olhos perplexos e ultrajados.
    Cunha e Silva Filho

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