terça-feira, 3 de junho de 2014

A MINHA CAMINHADA COM CRISTO


A MINHA CAMINHADA COM CRISTO

VIRGÍLIO QUEIROZ

Cinco horas, na João XXIII, sigo olhando para os automóveis que parecem voar. Pessoas de diferentes idades passam sem dizer bom dia e seguem um caminho que não vai dar em nada. O certo é que há vida indo e vindo. Sigo cantarolando um tango que nunca aprendi e troco as palavras. De repente, ao meu lado, surge um homem de cabelos compridos, corpo atlético, vestido em uma camisa branca (quase transparente). Ele usa uma barba não muito longa e de uma cor aproximada dos seus cabelos.
Bom dia, Posso caminhar ao seu lado?”. Claro, respondi. Olhei e vi em seus olhos azuis (ou verdes?) uma serenidade que jamais tinha notado em um ser humano.
- Virgílio, hoje o dia está bonito! Aliás, sempre ele é bonito.
- É sempre quando estamos preparados para vê-lo assim.
- É. A beleza está em nossos olhos.
- Eu lhe conheço de algum lugar...
- Deve conhecer. Eu sei que você me conhece...
- Olhando bem... não é possível!
- É possível sim, Virgílio, tudo é possível. Pode acreditar.
- Cara, você é o Cristo!
- Tem gente que me chama assim. Outros chamam Nazareno, Messias, Salvador, Jesus, Elias... (com um leve sorriso no rosto)
- Eu lhe chamo de Jesus. Acho esse nome lindo.
Ele sorriu educadamente e continuamos a conversar. Passamos por taxistas, pessoas velhas ofegantes em decorrência do esforço físico da caminhada, outros que se abarrotavam em um ônibus em direção ao emprego. Um amigo, ao qual dei um bom dia, cochichou com outro colega: “que pena. Esse cara um dia desses era normal, lecionava... e agora falando sozinho... meu Deus, para alguém ficar doido é daqui prali”. Jesus sorriu e disse: “você se importa em ser chamado de louco?”. Respondi-lhe: nem um pingo! Caminhamos não sei quantos quilômetros e nada de cansaço. Em cada passagem sempre tinha alguém que me olhava com pena e comentando que os meus familiares eram irresponsáveis em deixar um homem doente andar sozinho. Passamos em frente a uma igreja onde havia cartazes de curas milagrosas, fortunas imediatas, harmonia no lar... Pela primeira vez eu vi o meu amigo franzir a testa e balançar negativamente a cabeça.
- Virgílio, você acredita nisso?
- Não, não acredito.
- Os vendilhões do templo estão em todas as épocas.
- É verdade Jesus que você esteve na “cabana”?
- Você acredita?
- É possível você está aqui comigo?
- Valeu, cara! Agora, muitos dizem que estão me vendo, que já me viram e isso é conversa fiada. Eu apareço, assim, para conversar com as pessoas, abraçar e dizer que tudo é possível quando se acredita, quando se tem fé.
Continuamos conversando e uma senhora idosa, atravessou com dificuldade e abraçou Jesus, beijando-lhe na face. “Viu, Virgílio, nós não passamos despercebidos (soltou um leve sorriso). “Mestre, não esqueça da minha visita” (disse a velhinha). Jesus acenou.
-  Jesus, mostre-me um caminho... que religião devo seguir?
- Virgílio, eu não tenho religião.
- Não? Como assim?
- O homem não precisa de religião para chegar ao Pai. Precisa praticar bons atos, fazer caridade, amar o próximo...
- Virgílio, já conversamos bem, tenho que ir.
- Tão cedo! Temos tanto para conversar... é difícil se ter um amigo tão inteligente, tão compreensivo... por que você não fica mais um pouco...
- Qualquer dia a gente conversa mais. Podemos até tomar um vinho. Acredite, você é um dos meus.
Não sei como ele foi embora, que rumo tomou, que estrada seguiu. Voltei para casa e o sol começou a sair. Nunca tinha me sentido tão bem. Liguei o som e ouvi o tango que eu nunca aprendi a letra.   

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