sábado, 12 de julho de 2014

Dor, solidão, saudade


José Maria Vasconcelos
cronista, josemaria001@hotmail.com

        Nos últimos dias, Teresina comoveu-se com a tragédia batendo à porta de conhecidas personalidades, cujos filhos, ainda estudantes, saíram a passeio ou diversão e voltaram sem vida. Nessas horas, não há palavras nem orações que confortem. Parece que se vai ao fundo do poço e não se encontra gota d’água de refrigério.

         Seguidas noites de pranto, solidão, saudade. O bem mais precioso da vida rompeu com o mundo da matéria e se foi. Perguntas cruéis no desespero: “Para onde? Que Deus é esse que retira o direito  felicidade, jovens promissores e virtuosos?” Basta ser carne e osso para se aguardar, a qualquer momento, a ruptura com este mundo.

Até o miraculoso e divino Filho de Deus não se livrou da inexorável presença da morte: “Pai, se possível, afasta de mim este cálice!” Agonizante:

“Pai, por que me abandonaste?!” A morte de entes queridos, uma experiência trucidante que não encontra consolo, só dor, solidão, saudade. Dor, a tonalidade da vida afetiva que se torna hostil e desfavorável a qualquer consolo. Paira apenas a pergunta vazia, existencial e desesperadora: “Por quê?” Nesse momento, vale o exercício do solilóquio, em vez da solidão doentia. O solilóquio espiritual com o Senhor da Vida. O colóquio interior com a essência de Deus, aí, sim, encontra-se o ‘refrigério que borbulha no fundo do poço. Só pessoas exercitadas na espiritualidade entendem e enfrentam vicissitudes. O tempo passa, a saudade fica, o desespero desaparece.

         Muita gente experimentou desertos que a vida impõe, porém aprendeu sábias lições: descoberta de valores mais elevados, a prática da generosidade, o desapego ao exacerbado uso de bens materiais e conquista de poder, que tanto roubavam preciosas horas da família e do convívio com os mais humildes. A dor descobre novos paradigmas iluminados de virtudes e espiritualidade. Ai do ser humano se não sofresse, adoecesse, envelhecesse. Muita gente, antes soberba, nariz empinado, arrotando impropérios contra o divino, hoje, totalmente renovado e espirituoso.

O sábio extrai lições das vicissitudes. Em vez de pedir a Deus que o livre das batalhas, pede-lhe as armas para se defender. Sábio guerreiro, não refém do inimigo. O que torna as pessoas angustiadas é a constante busca, nesta vida, de possibilidades que apenas lhes interessam. Têm de ser do jeito que as tornem felizes, que lhes aumentem o patrimônio, que gozem saúde, que se usufruam, à exaustão, de tudo que é material e poderoso. Essa máxima de vida vale como felicidade, mas lhes faltam valores mais sublimes. Quem já passou por vale de lágrimas, como paralisia e perda de membros, hoje agradece aos céus poder manusear um instrumento eletrônico para locomover-se e trabalhar. Souberam transformar limão em limonada.

Teresina perdeu entes que todos lhes queriam bem. Um poço de refrigério, certamente, já mina com água viva da fé e esperança.        

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