A menina que roubava livros
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Cronista, josemaria001@hotmail.com
O romance do premiado escritor
australiano, Markus Zusak, seduz adolescentes, graças à inclusão da obra em
alguns currículos escolares ou à interpretação para o cinema. Clássicos
brasileiros parecem fora de moda; professores mal leem e conseguem interpretar
Machado de Assis. Encostam-se apenas nos resumos.
Durante a
Segunda Guerra Mundial, uma garota, Liesel, abandonada, sobrevive,
miseravelmente, fora de Monique, através de livros que rouba para estudar.
Ajudada pelo pai adotivo, aprende a ler e partilhar livros roubados com seus
amigos. Conduta reprovável, porém prazerosa, pela oportunidade de colecionar
amigos para leitura e estudo, em busca de sentido da existência. Conquista um
jovem judeu, que vive na clandestinidade em sua casa, no fundo de um porão. Um
afeto que enche as páginas de ternura. Liesel, através da leitura, tenta
amenizar a solidão do judeu.
Não me
interessa desfiar comentário sobre o romance de Markus Zusak. Chamou-me a
atenção, digamos assim, o hábito pecaminoso de uma jovem ladra. Que pecado?
Roubar livro para aprender ler, trocar ideias, conquistar amigos e horizontes
de cultura?
Que apareçam
mais ladrões de livros para estudar. Assaltar para se curar da ignorância. Um
livro, a melhor arma de fogo. Um estudante a mais, um bandido a menos.
“Assalto! Deitem-se no chão, seus irresponsáveis! Quero livro! Quero aprender!
Quero ser gente do bem, uma existência condigna!”
Imagino
delegacias e presídios obrigando detentos a ler, premiando-os com diminuição da
pena a cada livro acompanhado de avaliação escrita. Começar por um livro da
Bíblia, outro de história de heróis e vencedores ou de autoajuda. Nada de
livros político-ideológicos com prontuário esquerdista.
Já apliquei a
receita aos estudantes bagunceiros. Punição com leitura, depois, redação. Os
pais adoravam o santo remédio. Nada de expulsão de classe, suspensão e
similares atitudes ridículas e humilhantes.
Meus filhos queriam sair para baladas nos finais de semana. Permissão
garantida, mas acondicionada à leitura de matérias interessantes acompanhadas
de comentário escrito. Mão na massa, ainda no início da semana. Ver novelas,
sim, mas tinham de comentá-las por escrito.
Nenhum precisou de psicólogo por alguma mágoa, bullying. Ou de médico
para exame de pressão e fezes. Práticas da leitura entre os jovens, e os
presídios se esvaziarão, a vida terá mais sentido.
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