sábado, 4 de outubro de 2014

Cinismo de candidato, cumplicidade do eleitor


Cinismo de candidato, cumplicidade do eleitor

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

             A campanha eleitoral encerra-se, aliviando a esgotada paciência do eleitor. Candidatos, que tentaram açucarar a retórica do discurso da fé e temor de Deus, mas vestindo roupas inadequadas para participar do banquete democrático, não convenceram. A parábola evangélica do banquete nupcial cai bem nessas horas, porque “muitos são chamados, mas poucos os escolhidos”. Candidato ficha-suja, que exibe cândidas virtudes, contradiz-se, diante de flagrantes condutas de corrupção. Não merece comparecer ao nobre banquete da democracia. Se o eleitor lhe vota, comete o mesmo crime de cumplicidade e traição à pátria.

                252 candidatos a cargos eletivos, em todo o Brasil, estão barrados pela Lei da Ficha Limpa em 2014. De acordo com a Lei, ficam inelegíveis os candidatos que tiverem suas contas rejeitadas por ato intencional (ou “doloso”) de improbidade administrativa, quando exerciam cargos ou funções públicas, ou que foram condenados por determinados crimes em órgãos colegiados. Os eleitores conhecem bem as figuras, porquanto a imprensa tem divulgado, exaustivamente, os fichados.

      Durante os debates promovidos por canais de comunicação, foram execrados por adversários. Então, por que continuam a tripudiar, por anos seguidos e mandatos conquistados, a dignidade nacional? Só se encontra uma resposta: cumplicidade de eleitores e autoridades, portanto conduta antiética e condenável.

      A rejeição da candidatura não tira o político da corrida eleitoral. Permite que ele siga com a campanha até a votação, caso não tenham se esgotado todas as possibilidades de recurso. Se eleito, toma posse. Se a situação dele não for regularizada, seus votos serão considerados inválidos, mas o percurso é longo e proveitoso para continuar no poder. Eis aí um túnel nebuloso, por onde todo tipo de malabarismos jurídicos quase sempre resulta em impunidade, embora a custos altos com advogados. O preço de uma liminar, por exemplo, chega à estratosfera. O acusado, já eleito e desfrutando das benesses do poder, encontra as fontes de onde tirar dinheiro para sua defesa nos tribunais. Ele se encontra na dolce far niente vida de eterno repetidor de mandato, aplaudido e eleito pela ignorância popular, e um exército de cabos eleitorais generosamente pagos.

         O grupo Ficha Suja, conhecendo a impunidade via Recursos na Justiça, segue, com deslavada cara de pau, o "Vai que Cola!", ou “na miúda”, sem aparecer na mídia, esperando serem esquecidos. Eleitor, já acostumado a conviver com a classe política Ficha Suja, cada vez mais tende a se tornar complacente e generoso, abraçando e votando nos impunes. Mais vergonhoso acompanhar jornalistas que jogam confetes por jabás generosos. A impressão de que a sacanagem virou moda na era do “que é que tem?”.

        Cidadãos do bem encontram-se acuados, vendo o barco da decência à deriva, em mares bravios da impunidade. A sensação é de puni-los é não votar neles. Um gigantesco exército do NÃO à impunidade.                   

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