quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O Facebook: uma ferramenta útil para a democratização da escrita


O Facebook: uma ferramenta útil para a democratização da escrita

Cunha   e Silva Filho

        Ninguém  pode  negar  o  grande passo dado a milhões  de  pessoas  que,  no  Face, como  é  com certa intimidade  tratada essa rede   social,  trocam  ideias e    se comunicam  por   escrito. E  não seria exagerado  afirmar:    grande  chance tem o  usuário de   poder expressar-se livremente tanto quanto  possível através desse meio  grandioso que  - não podemos    esconder esse fato - possui, sim,  seus defeitos  quando  empregado  para  fazer o mal. No entanto,  o saldo  é  positivíssimo. Tornou-se um  modo  autodidático  de   levar as pessoas  a  pesquisar, refletir,   organizar  seu pensamento, muitas vezes de  forma  extraordinária  dependendo  do talento e da competência de cada um.
     Algumas vezes,  me queixei  de que o Face seria  um espaço para  futilidades,  fofoca e exibicionismo. Pode até ser em alguns  aspectos, mas,  no geral,   é  uma  fonte geradora   de ideias,  de discussões,   de  expressão  livre  do pensamento, ainda que  o seu seja  algumas  vezes discordante de  outros.  Pouco  importa.
   O que  é evidente é sua capacidade aglutinadora,    de fórum  de  debates, de permitir  o extravasamento  da indignação  contra  injustiças,  de  divulgar   ideias   iluminadoras,  de suscitar   novos  ângulos  de  ler o mundo, as pessoas. Todos  os  aspectos   do cotidiano  nacional  ou mesmo   do exterior  no Face  podem ser    veiculados  com erros,  com acertos,  mas  sempre com  a  liberdade  dos que  pensam  de forma igual ou  diferentemente.  O Face vive desses contrates,  dessa espécie de  “melting  pot”   de fatos e acontecimentos  que   atiçam  a curiosidade  e  a  intervenção  por escrito dos indivíduos. O Face veio para ficar.
     Já se disse que ele   estava  alimentando  o mau hábito de escrever errado ou  de forma  excessivamente   abreviada. Qual nada!”  Tenho  lido  textos,   frases  que   bem poderiam   ser assinadas  por  bons  jornalistas,   escritores,  cronistas,  pensadores, filósofos,  poetas, dramaturgos, cientistas, enfim, profissionais de  várias  áreas, enfim, uma  gama de   pessoas  comuns ou com  maior ou menor  visibilidade. Porém, refuto  aquele argumento  visto que o usuário,   ao  escrever,  em geral, de  maneira  rápida,   com esse ritmo   fortalece e desenvolve  a habilidade  de  selecionar    ideias,  formas  de escrita,  sentido   de  concisão e coerência  a fim de  poder   organizar  os  enunciados.
    Politicamente, o Face muito tem ajudado a  evitar  o pensamento  chamado  “único,”   mostrando, através de seus  diversos   usuários, que   aquele  é múltiplo e nenhuma ideia  semanticamente  unívoca  pode ser   geradora    de avanços    em qualquer   campo  da  inteligência. Reconhecer o outro,  o diferente,  ainda que  possamos   achar que  ele está errado, é não  perceber que   algumas  ideias  podem ser  relativizadas.  O pensamento  único  é próprio  dos governos   antidemocráticos, que   julgam  o mundo  sob  um  só  lado, uma  só dimensão.  Sua natureza  tem  traços  fascistas, autoritários,  absolutistas.  O pensamento deve ser exercido  de  modo  construtivo,   dialeticamente,  sem donos das verdades.
   Outro papel saliente do Face é  conceder  a possibilidade   de liberdade  de  crenças,   religiosas,  políticas,  filosóficas,   de modos de vida,  de mostrar   diversidades culturais,   nacionais,   universais. .
    É pena que o Face  possa  por vezes  levar, como  já  aludi linhas atrás,  a certo exibicionismo, excessos   de  narcisismos, exposições  sensualistas  que  não   se ajustam  a  uma  ética    desejável  neste sentido.  
   Mas, o que  centraliza  a linha  deste artigo  são os   pontos   qualitativos   do usos da linguagem,  do    treinamento,   do  escrever  continuadamente e ao mesmo  tempo  do ler  o que  se escreve  nessa  rede  social.  Ler e escrever são habilidades que  se harmonizam e  só produzem      melhoria    de nível   de  escrita, propiciando  a “fluência”   da linguagem  escrita. Acredito que em  nenhum tempo,  antes  da internet,  o mundo  tenha  escrito tanto.
    A prática da redação, diria   positivamente  forçada,  a fim de  dar conta   de uma   pergunta e de um  fato ilustrativo de um texto,   de um vídeo, veio  auxiliar enormemente   o ato da escrita e,  em consequência,    melhorar   o uso  da linguagem   das  pessoas. Não sei se a ciência  linguística  já havia previsto  essa    mudança  revolucionária  da comunicação    virtual.
   Deixando  de lado  o  mau uso  da  internet  e das redes sociais,   os ganhos   com  o mundo virtual    são incalculáveis.  Depois da Imprensa de Gutemberg,  a internet é a segunda  mais   importante   invenção  do  mundo  da comunicação. E imagine o leitor que, a princípio, este colunista   até  tinha  receio de  não  aprender a lidar  com  o básico   do computador.Veja-se o  função  informativa do Google. Não obstante  nele muita coisa  não seja  fonte segura,   não deixa de ser  um  instrumento   valiosíssimo  de pesquisa,  em muitos casos   fazendo  as vezes  de  verdadeiras  bibliotecas.  além disso,    pondo  o  usuário,    em fração  de segundos, com dados   que esteja    procurando.
   O Google é uma gigantesca  obra  de referência, indispensável  a várias categorias de profissionais no mundo  inteiro. É claro que é um work in  progress. Contudo,  como seria   o  mundo   atual,   o da pressa, do imediatismo (com  muitas  negativas  desvantagens  para  os mortais) sem a invenção  do computador e de todos os seus  desdobramentos  tecnológicos?
   Não aconselho que  os  viciados  no Face e em  outras redes  sociais  abandonem  esses recursos,  mas que  o   utilizem  com  moderação, porquanto   eles tomam  muito  o nosso   precioso  tempo.
   Não  o substituam  pelo  contato  pessoal,  que é muito mais    importante e não  tem  substituto  à altura.  As amizades  têm  que ser cultivadas no tête-à-tête de preferência. O Face,  ao contrário,  para as  muitas funções  a que  me referi. Da mesma sorte,   outras mídias  escritas não podem ser nunca  negligenciadas,  os jornais, as revistas,  os livros impressos, as exposições,  as feiras  de livros,  as visitas aos museus,  as vernissages,  o  cinema, o teatro,  o circo,   a conferência (presencial), a televisão, o rádio. O grande  barato  é  saber como  combinar  de maneira  harmônica,  sem   excessos  de preferência,  todos  esses meios  de  comunicação,  de conhecimento,   de saber.
   O professor de língua  portuguesa, ou, para outros,  de  língua  brasileira,   deve estar  atento a tudo isso. Na multiplicidade  de  recursos  audiovisuais,  virtuais,  escritos,  falados,   há que  saber  dizer onde  um  deve ser  de preferência   usado, e principalmente  o  professor  competente  há de saber como   lidar  com proveito  e sem  discriminações   com  todo  esse  enorme leque   de opções  em que a língua  falada  se contamina com a  escrita  de modos  variados, a par de  ainda ter que situar  bem  o  papel  da  língua  literária,  seu estudo  e   sua  prática de leitura,  e  hermenêutica.  Tudo isso  não deixa de ser  um   vigoroso   desafio: encontrar   elos  sem embaralhá-los  e confundir  a cabeça  dos jovens  e adultos no sentido de  conquistar, simples e didaticamente   o usos multifacetado da língua na situação própria  e desejável.
   O que nunca será  de bom alvitre  é  dificultar   o  estudo   da  gramática e a prática da redação   empregando  uma metalinguagem  que  às vezes me parece  competir   com   o jargão  tecnicista-terminológico  das ciências. Tecnicalidades em demasia não  significam  uma correspondência  práxis  no  estudo  da língua  e  no manejo de  expressar o pensamento   do espírito  humano.  O caminho  mais  adequado  é  o progresso  nos estudos  linguísticos  sem os vezos   ainda   remanescentes   do estruturalismo que, pelo  exagero   e  ensinamento  mal conduzido,  apavorou,   pelo menos,  a minha geração  nos anos  setenta.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário