O Mundo em desassossego
Cunha e Silva Filho
Para qualquer
lado que dirigirmos nosso
olhar contemporâneo, seja no
Brasil, seja em outras partes
do planeta Terra, tudo conspira
contra a esperança, a paz, a
tranquilidade das pessoas. Se as
ciências e a tecnologia trouxeram tantas possibilidades de uma vida
melhor, que nos vieram proporcionar
mais conforto, facilidades instantâneas de comunicação, avanços
na medicina, na robótica, nos meios de
aquisição do saber em
todas as áreas conhecidas,
em proporção inversa
têm crescido os desmandos de
nossos dias em crescente
estado de tensão do convívio humano.
Em outras
palavras, o mundo está em desassossego provocado pelas guerras civis, pelos desentendimentos religiosos,
políticos, ideológicos,
étnicos, enfim, por
desentendimentos entre países, cuja manifestação hoje mais
insidiosa se conhece pelo
termo “terrorismo” - recurso
pusilânime de trucidar
vidas de inocentes que não
podem responder pelos
erros e perversidades cometidos
por governos tanto no
Ocidente quanto no Oriente. Sabemos que o Ocidente não é tão anjo assim, como não
são anjos os seguidores
fanáticos do terrorismo
nacional ou internacional.
O alvo agora
não se limita aos EUA. Ele
se desloca intempestivamente para a
Europa e o próprio
Oriente. O pior ainda é que o
terrorismo de grupos do tipo Al –Qaeda, ou dos Estado
Islâmico, tem recrutado europeus para suas fileiras, sobretudo europeus com ascendentes
não-ocidentais. Jovens são facilmente
manipuláveis por lavagem cerebral
inoculada pelo veneno da barbárie.Tais jovens se bandeiam
para facções terroristas autoritárias e assassinas que
invocam para si modos
de vida e de crença
religiosa como se fossem a
melhor forma de
comportamento humano e de
princípios de vida. Se entendermos essa atitude como
islamismo, então os grupos
terroristas estão
deformando a leitura do
Alcorão e, no mínimo, estão apresentando o islamismo
como algo que ele
não é: um doutrina espiritual
que pratica o bem,
que não pode ser assassina nem covarde nem
terrorista, nem expansionista, i.e.,
imaginar-se como a única forma
de o mundo pautar-se
na sociedade atual.
Sabemos que
os modos de civilização
ocidental não são também
modelos, em alguns aspectos da
vida, a serem imitados. Há muitos
erros de mores ocidentais
que precisam ser
corrigidos em várias
dimensões, tanto éticas,
políticas quanto religiosas. Muito lixo moral ainda se mantém intacto
na sociedade ocidental e, se fôssemos citar alguns, teríamos
o excesso do hedonismo, a
desigualdade social, a corrupção
em elevado grau,
a impunidade em algumas regiões
dos continentes sul-americano, asiático, africano, a criminalidade e a violência
galopantes, o populismo demagógico
de alguns governantes e a desmoralização da classe
política, sem deixar de
mencionarmos a dissolução do comportamento sexual
de parte do Ocidente, sendo um bom exemplo
o Brasil.
Alguns setores da indústria cultural não
dão bom exemplo de formação moral
e espiritual da sociedade afundada
no espelhamento propiciado por
algumas formas de
arte de entretenimento, como o cinema trash, um incentivador e
estimulante da criminalidade e do
caos urbano, que faz a riqueza
do produtores e atores em filmes de
baixo nível importados dos EUA. Ora, essa
películas assistidas por
gente praticamente de quase o mundo inteiro e por parte de
consumidores sem nenhum
parâmetro ou código moral e
familiar, concorrem em muito para
a desorganização de um mundo
high tech comprometido até às
raízes com os vício das drogas e o
ingresso, ainda na infância e
adolescência, no mundo do crime
organizado, do narcotráfico, da violência
sem fim como a que temos
presenciado ad nauseam na
vida cotidiana brasileira, sobretudo
nas grandes cidades, porém tampouco
ausentes nas pequenas cidades brasileiras.
Esse planeta em desassossego, pelo terrorismo já
atingiu a nação mais desenvolvida do
mundo, os EUA, já passou,
agora, para a França,
já atingiu a Bélgica e a Alemanha e tem feito estragos
sanguinolentos em conflitos bélicos
na Síria, no Iraque, no Afeganistão, Paquistão e em outras
regiões.
Por outro lado, para
enfrentar o famigerado terrorismo
é necessário que o Ocidente
cumpra igualmente certos deveres de casa, sobretudo em grupos
de sistemas ideológicos neofascistas, como temos
na Europa e em outros países.
Urge que o Ocidente
se conduza da mesma sorte com
comportamentos políticos, sociais à
altura de suas conquistas
de direitos humanos e de cidadania, execrando
quaisquer formas de
retrocessos xenófobos, de
eurocentrismo, de igualdades apenas aparentes
e não reais, e de retaliação com
os estrangeiros que
escolheram países como segunda pátria e lá só
desejam viver em paz com a sua
família, como aquele exemplo de uma
família judia que vivia em Paris e que, após o ataque
terrorista ceifando a vida de cartunistas famosos e de outras pessoas ao mesmo tempo,
apavorada, se dizia sem
segurança na bela e elegante capital
parisiense e, por esse motivo, seus membros voltaram
para Jerusalém onde, segundo o pater familiae, pelo menos
lá se sabia onde ficava o perigo, ao contrário de Paris que, para ele, estava em qualquer parte da velha
terra de grandes escritores, filósofos e artistas, uma espécie de pátria
da cultura com o fascínio de irradiação
pelo mundo.
Questões
fundamentais como controle de
imigração, fiscalização rigorosa
da situação de cada estrangeiro
residente na França (o mesmo valendo
para outros países que recebem
estrangeiros asilados), deles
exigindo direitos e deveres de
estrangeiros e realizando uma
avaliação precisa e
profunda das condições de vida social
dos estrangeiros naturalizados e
dos filhos destes nascidos na França,
têm que ser cuidadosamente examinadas.
De nenhuma maneira,
os imigrantes devem ser
discriminados nem tratados
como cidadão de segunda
classe. Contudo, uma
revisão dessas questões não
pode ser negligenciada pelas autoridades francesas. E essa precauções devem
ser igualmente levadas
em conta em outros
países europeus, ou
não.Todos esses problemas foram
gerados após as guerras
civis no Oriente e, por força dessa condição subalterna, ressentimentos morais
e de submissão imposta pelos
países colonizadores
deixaram marcas de
ódio após o período de colonização de
países por nações
ocidentais. É o caso do Níger em que, hoje mesmo,
queimaram a bandeira
francesa em solidariedade aos terroristas mortos.
É forçoso que os organismos internacionais de defesa das nações, grandes ou pequenas,
se debrucem para encontrar
pontos de convergência
em direção ao confronto,
infelizmente já estabelecido, entre
terroristas ditos muçulmanos e nações ocidentais. É preciso que,
nos debates que virão dos impasses
trazidos pelo alastramento do
terrorismo, localizado ou
internacional, saibamos separar o joio
do trigo. Não confundir muçulmanos bem intencionados com
jihardistas ou "Estado
Islâmico" é uma das vias
mais fecundas em direção
a uma paz ainda que, provisória.
Não é uma questão magna entre bárbaros
e civilizados, mas entre o justo
desejo de combater
quem realmente é o inimigo
que não admite processos
civilizatórios diferentes. O respeito ao outro nem sempre
vale como uma premissa de reconhecimento justo e de justiça isenta.
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