segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Templos luxuosos e confortáveis, errado?


Templos luxuosos e confortáveis, errado?

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

         Três grandes templos de Teresina: Do Amparo, Das Dores e de São Benedito. Despertam certo halo sagrado de majestade, pela riqueza arquitetônica. Ainda garoto, a curiosidade me levava a subir as escadas do templo de São Benedito, aproximava-me dos sinos, contemplava a acanhada cidade, cujos limites não ultrapassavam a Vermelha, Aeroporto, final da Avenida Frei Serafim com o Poti. Como a capital conseguira construir, no final do século 19, com apenas 30 anos de fundação, templos de tamanha beleza, com mármore e utensílios vindos da Europa? Seria fervor maior das gerações passadas, gratidão ao Altíssimo manifestada com doação de bens preciosos, como rebanhos e propriedades, conforme as condições financeiras dos fiéis? 

Em passado remoto, credos religiosos de todas as esferas erguiam suntuosos templos, cuja arquitetura e luxo sobrepujavam demais construções. Ainda hoje seduzem os colossais pagodes budistas da Índia, Japão, Coreias, Nepal e China, cujas altas torres atraíam raios, vistos como fúria divina. Mesquitas muçulmanas de raro esplendor. Igrejas suntuosíssimas, medievais e renascentistas, onde se coroavam reis e papas, projetavam-se pintores, escultores, arquitetos e músicos. Monumentos que encantam turistas: Notre Dame de Paris, Basílica de São Pedro, dezenas outras espalhadas na Europa: belíssima catedral de São Marcos, em Veneza, estilo bizantino, onde entrei com os pés mergulhados em palmo d’água. Suntuosa Catedral de Colônia, na Alemanha, a mais alta do mundo. Templos pagãos, valiosos e artísticos da Grécia e Egito. Ou dos impérios inca, asteca e maia, destruídos pela fúria religiosa e invasora.

A arte surgiu, praticamente, do culto à divindade, através da rara criação e doação. No Antigo Testamento, encontra-se a primeira manifestação de culto a Deus: pastor Abel oferece cordeiros em holocausto, preconizando a figura do Messias, milhares de anos antes. No deserto, Moisés constrói a Arca da Aliança, puro ouro, ornamentado com figura de querubins, que vigiavam as tábuas dos dez mandamentos. A Arca simbolizava a aliança de Javé com o povo de Israel. Rei Davi constrangia-se por residir em luxuoso palácio, enquanto a Arca da Aliança era venerada em modesta tenda. Prometeu construir majestoso templo. O profeta Natan avisou-lhe que a tarefa caberia a um herdeiro do trono, “cujo reinado seria eterno”. O magnífico templo foi erguido pelo rei Salomão, cujo reinado durou algumas décadas. A profecia de Natan apontava para o futuro Messias que nasceria milênio depois. Jesus e discípulos encontravam-se na casa de Lázaro. Uma mulher unge-o com precioso perfume. Judas condena-lhe a generosidade e sugere que o vaso de alabastro seja vendido, e o “dinheiro repartido com os pobres”. Jesus rebate: “Esta mulher escolheu o melhor; pobres vocês sempre terão”. Para celebrar a ceia pascal, o Mestre exigiu uma “ampla sala mobiliada em segundo pavimento de uma residência”. Diante do magnífico Templo de Jerusalém, Jesus afirma: “Destruam este templo, e eu o reconstruirei em três dias”. Referia-se ao templo de seu corpo. O holocausto de seletos cordeiros, a Arca da Aliança em ouro e o esplendoroso templo representavam a prova carnal da existência divina na pessoa de Jesus Cristo. Quando o amor alcança dimensões infinitas, os presentes não têm preço, mas valor. Em se tratando de culto divino, tudo ultrapassa a todos.     

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