quinta-feira, 19 de março de 2015

Depoimento sobre "Confissões de um juiz"

O juiz e escritor Elmar visto por Gervásio Castro


Depoimento sobre "Confissões de um juiz" (*)

Ivanovick Feitosa Dias Pinheiro
Defensor Público e professor universitário

Sr. Presidente da Academia Piauiense de Letras, professor Dr. Nelson Nery Costa,
Senhoras e Senhores, Meu nobre amigo Elmar Carvalho,

evidentemente não sou a pessoa mais indicada para a tarefa de apresentar o novo trabalho do escritor e Juiz Elmar Carvalho. Certamente não tenho o conhecimento necessário para extrair da obra “Confissões de Um Juiz” tudo aquilo que ela é capaz de transmitir. Somente a amizade e a sensibilidade do autor justificam que a escolha de apresentar o Livro tenha recaído sobre a minha pessoa. E notadamente por tais motivos eu não poderia deixar de aceitar o desafio de estar na presença das maiores autoridades literarias do nosso Estado do Piauí para falar brevemente acerca do novo livro de Elmar Carvalho.

O título fala muito sobre o livro. Confissão, segundo os mais notórios dicionários nacionais, pode ser definido como o ato ou efeito de confessar(-se). Tais dicionários traduzem o ato de confessar em variados comportamentos.

Inicialmente fala-se em revelação que alguém faz de um ato censurável que cometeu. Em seguida, diz-se o reconhecimento, por uma pessoa, da culpa ou da acusação que lhe é imputada. Noutro sentido, desabafo, confidência. Por fim, aproxima-se a confissão da revelação do que se sabe, sente ou pensa.

Na obra não há confissão como o reconhecimento de uma culpa. Certamente que não. A leitura da obra permite concluir que o termo “Confissão” foi utilizado certamente com o último significado: “revelação do que se sabe, sente ou pensa.”

E o livro certamente é obra do saber, do sentir e do pensar.

Do saber e do pensar, pois o autor Confessa aquilo que sabe, aprendeu, ensinou e vivenciou nos anos de Juiz. Ele revela na Primeira Parte do livro experiências de vida, como o episódio no início de 1997 que o levou a comprender com maior rigor a importância do Poder Judiciário. Confessa as angustias da quimioterapia e de como absolutamente não utilizou a doença para angariar qualquer benefício na remoção para Capitão de Campos.

E segue nessa Primeira Parte discorrendo sobre decisões interessantes e, como ele mesmo descreve, “senão mesmo folclóricas” (pág. 32). Cita episódios anedóticos e narra que praticara futebol até completar certa idade e de como a sua participação em um campeonato fora do Estado do Piauí lhe rendeu numa tarde, após o almoço, uma experiência nada comum.

No sétimo item (pág. 40) há uma frase que revela um pouco do autor Elmar Carvalho. Indagado certa vez sobre o motivo de haver comparecido ao Tribunal de Justiça do Estado do Piauí para esclarecer questão alusiva a valores monetários que deveria receber e de que sendo poeta deveria viver de brisa ele imediatamente retrucou: “Perfeitamente, o poeta vive do éter e da brisa, mas o juiz precisa de dinheiro para sustentar o poeta”.

E, ainda na Primeira Parte do livro, apresenta revelações acerca de sua participação como Educador e estimulador da Cultura, do Esporte e da proteção ao Meio Ambiente, desde longa data.

Já defendeu com vigor a tese de que “os restos mortais do poeta Da Costa e Silva fossem trasladados para sepultamento na sua Amarante” (pag. 47), bem como e noutra seara, lutou pela defesa do Rio Parnaíba que, segundo revela na pág. 48, é o mais importante patrimônio do nosso Piauí.

A primeira parte do livro, como acima revelado, é obra do saber e do pensar.

E ouso concluir que a Segunda Parte, intitulada “Mémorias Afins” é obra do sentir e do pensar. Conta com elogiável “Oração à Vila de São Gonçalo de Regeneração”, local no qual tive o imenso prazer de conviver com o autor por alguns anos, quando no exercício do cargo de Defensor Público. Na Oração à Vila, o autor demonstra imenso carinho pelo local, e cita que lá esteve no auge da adolescência, e revela carta que na época o descrevia como sendo parecido com famoso galã das telenovelas de então (pág. 57).

Na Segunda Parte também são confessados os Tempos Ribeirenses. Foram quatro anos (pág. 67) dedicados à Justiça, mas também aos eventos culturais, literários, macônicos e cívicos. Lembra que chegou a lançar livro de sua autoria, bem como de participar de lançamento de outros. Cita que foi eleito por seu amigo e meu tio Adovaldo Medeiros como membro honorário da Fundação Leôncio Medeiros.

Ainda na Segunda Parte o autor revela dois interessantes textos de sua autoria “Exortação à Justiça e à Bondade” e “Evocação de Piracuruca”. Em razão do tempo destinado para essa Apresentação atenho-me tão somente a destacar como é prazerosa a leitura dos citados trechos do livro.

Merece referência, ainda que breve, as notas sobre o seu encontro com pessoa admirável, a Dra. Estelita Guerra. Os “Tempos Recifenses” e a “Visita a Um Lutador Obstinado” são trechos bastantes ricos na obra.

Além desses, a Segunda Parte revela também o tempo na Comarca de Oeiras, o qual descreve como tendo sido entre “Anjos e Poetas”. Conta na Obra sobre o “Memorial a Quatro Poetas de Oeiras” e o “Memorial ao Poeta Da Costa e Silva”.

A terceira parte do livro certamente revela obra do Sentir. São as “Memórias Afetivas” do Poeta e do Juiz. No início dessa Terceira Parte o autor faz um “Retrato” de sua mãe. Diz com especial orgulho que sua vocação (pág. 126) era “ser esposa, mãe e exímia dona de casa”. Tinha o espírito forte e uma grande energia vital.

E o sentir pode ser vislumbrado no trecho “Morte de Josélia”, que certamente apenas a leitura completa pode revelar todo o carinho e sofrimento externado nessa parte do Livro.

E toda a capacidade de transmitir sensações através de suas palavras e escritos pode ser percebida num texto aparentemente simples, mas revelador: “Memorial da Cachorra Belinha”. O trecho que descreve a alegria da chegada de Belinha, bem como aquele que revela o falecimento da cachorra demonstram como o autor tem a natural capacidade de prender o leitor nos mais variados contextos e situações.

Por fim, a última e Quarta Parte do livro contém interessante “Memória Fotográfica”, a qual revela uma época na qual a fotografia digital ainda não tinha dominado o cenário fotográfico mundial. Destaco dois momentos das Confissões Fotográficas: primeiro, a sua Solenidade de Posse (foto 12), na qual aparece professor e Juiz a quem sou imensamente grato e que é amigo comum do Poeta e Juiz Elmar Carvalho, o Doutor Carlos Augusto Brandão; e segundo, a foto 28, em frente a essa Academia Piauiense de Letras, local que ele sempre revelou imenso carinho.

Seguramente essa apresentação não consegue dar a dimensão das “Confissões de Um Juiz”, do Poeta e Juiz Elmar Carvalho; mas penso que talvez sirva como um estímulo à leitura de tão prazerosa obra literária.


Obrigado por me permitir demonstrar um pouco da admiração que tenho pelo Poeta e Juiz, ser humano amável, educado, humilde e inteligente, que sempre se revelou em todas os nossos diálogos jurídicos e literários como merecedor de muitos elogios e que certamente nunca se deixou impressionar por nenhum deles.

(*) Título engendrado pelo titular do blog. Discurso pronunciado pelo Dr. Ivanovick Pinheiro, no dia 14.03.15, no auditório da APL, por ocasião do lançamento de Confissões de um juiz.

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