segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Sobre “Bernardo de Carvalho – o fundador de Bitorocara”, por Elmar Carvalho



Sobre “Bernardo de Carvalho – o fundador de Bitorocara”, por Elmar Carvalho
  
Gilberto de Abreu Sodré Carvalho
Romancista, historiador e genealogista

Foi publicada a segunda edição, revista e ampliada, de “Bernardo de Carvalho, o fundador de Bitorocara”, neste ano de 2015, como livro eletrônico pela AMAZON. A qualidade historiográfica da obra me enseja, irresistivelmente, a falar sobre ela.
A segunda edição é tão rica em novidades e na criação de contextos históricos importantes, que poderia ter um novo título. Acresce que o “volume” digital contém anexos muito úteis de matéria relacionada com o corpo do texto.
Outro ponto, que me encanta, é que o festejado poeta e ensaísta Elmar Carvalho, meu primo remoto, com quem compartilho o mesmo sobrenome Carvalho, nos remete, aos dois juntos, o escritor e eu, o seu leitor, aos nossos velhos antepassados Carvalho de Almeida do Piauí. Nada mais prazeroso, para ele, eu imagino, como seria para mim (que tiro proveito fazendo esta resenha), que escrever sobre Bernardo de Carvalho e Aguiar. Esse herói foi tio dos nossos ancestrais, em comum, Manuel e Antônio Carvalho de Almeida, e dos seus irmãos párocos: Miguel de Carvalho, Tomé de Carvalho e Silva, e Inocêncio de Carvalho, esse último ativo no sul.
O livro é um ensaio histórico, com sustentação bibliográfica pertinente, sobre Bernardo de Carvalho, senhor da fazenda Bitorocara, da qual se originaram Campo Maior e outras cidades. Foi ainda o realizador da conquista portuguesa das terras nortenhas do Piauí.   
A questão da localização geográfica da antiga fazenda Bitorocara, que pertenceu ao grande Bernardo, sugere algumas palavras minhas sobre o assunto, em linha com o que é trazido de informação pelo autor. O assunto é bem coberto por Elmar Carvalho, no bojo da sua ágil e agradável narrativa sobre a vida notável de Bernardo de Carvalho, mestre de campo e cavaleiro da Ordem de Cristo.
A velha vila de Campo Maior, no Piauí, teve uma extensão original vasta, na medida em que correspondeu a boa parte da área que esteve sob o domínio de Bernardo, no final do século 17 e início do 18. Com o tempo, desde o ano de 1762, data da criação da vila, o seu território foi sendo reduzido, com a formação de entidades políticas novas, ou seja, vilas e municípios, mediante desmembramentos. Tais novos municípios surgiram a partir do desenvolvimento de antigas ou de novas circunscrições proprietárias, a dizer, fazendas com seus currais, em combinação com freguesias, no sentido de paróquias católicas ao mesmo tempo que unidades políticas seminais.
Na fase histórica anterior à organização político-administrativa do Brasil, os rios foram importantes. Eles serviam tanto para dar acesso a novas áreas para a conquista e ocupação da América Portuguesa, como para nomearem-se as regiões e os sítios, na falta de outras alternativas mais pertinentes. São assim comuns em todo o Brasil, e no Piauí, topônimos que remetem a um rio, quase sempre antecedido por um nome de santa ou de santo. Os rios garantiam aos conquistadores o comércio, o transporte de gente comum e de guerra, a nutrição direta mediante os peixes e os demais, as melhores pastagens as suas beiras, a água para a irrigação da lavoura e a energia para os moinhos.
Elmar Carvalho, em seu ensaio histórico, registra, com desenvoltura e ótima síntese, a argumentação do saudoso padre Cláudio Melo sobre a localização da fazenda Bitorocara, do final do século 17. Tal fazenda foi a origem, por via do povoado do Arraial Velho, nela situado, da freguesia, da vila e da posterior cidade de Campo Maior.
O fato, comprovado pelo Padre Melo, com o imediato acatamento de Odilon Nunes (que antes pensava o rio Bitorocara ser o rio Piracuruca), é de que a fazenda Bitorocara tinha, por território nuclear, a região da confluência dos rios Longá, Surubim e Jenipapo. Se o rio Bitorocara fosse o rio Piracuruca, a fazenda Bitorocara não poderia geograficamente corresponder a Campo Maior. São justamente os elementos de convicção, de natureza geográfica, que levam a entender-se que o rio Bitorocara é o mesmo que foi, em seguida, chamado de rio Longá. Disso, dessa conclusão, percebe-se a antiga fazenda Bitorocara no seu verdadeiro lugar. 
Ocorre que, de antes, no tempo de Bernardo e por conta de ele o ter chamado desse modo, o rio Longá era conhecido como rio Bitorocara, e o rio Surubim era chamado de rio Cobras. O nome Bitorocara só consta da “Descrição do sertão do Piauí”, escrita, em 1697, pelo padre Miguel de Carvalho, sobrinho do grande Bernardo.
A argumentação de Elmar Carvalho, sobre a origem do atual município de Campo Maior na fazenda Bitorocara, é a apresentada originalmente, com bastante documentação, pelo Padre Cláudio Melo no seu “Os primórdios de nossa história”, de 1983, páginas 167 a 176, reafirmada por Afonso Ligório Pires de Carvalho, em “Terra do gado – a conquista do Piauí na pata do boi”, Brasília: Thesaurus, 2007, e, mais recentemente, por Valdemir Miranda de Castro, em “Enlaces de famílias”, 2014.
Existem, em Elmar Carvalho, mais argumentos em favor de o berço de Campo Maior ser a fazenda Bitorocara, com sua sede na confluência do rio Longá, antigo Bitorocara, com o rio Surubim e o rio Jenipapo. Mais exatamente, na junção do Longá com o Surubim. Ocorreu de a fazenda Bitorocara ter abrigado um arraial militar, chamado, após os anos, de Arraial Velho. É, com esse nome, que consta do testamento de Miguel de Carvalho e Aguiar, filho de Bernardo, que o passa à sua neta. Tal sítio - de encontro de homens de guerra lusos, mestiços e indígenas - foi estratégico na conquista do norte do Piauí aos índios. Do Arraial Velho, ou seja, da povoação permanente que lá se instalou, surgiu uma freguesia, sendo o primeiro pároco o padre Tomé de Carvalho e Silva, sobrinho de Bernardo e irmão inteiro do padre Miguel de Carvalho. Dela, da freguesia, em seguida, se teve a vila e, por fim, o município de Campo Maior.
Bitorocara, na confluência dos três rios, dava meios para deslocamentos variados de forças armadas de portugueses e índios aliados. Neste cenário físico, o mestre de campo Bernardo de Carvalho e Aguiar, cavaleiro da Ordem de Cristo, era o chefe militar, sendo seu lugar-tenente Manuel Carvalho de Almeida, seu sobrinho e irmão inteiro do padre Miguel de Carvalho.

Em suma, a obra de Elmar Carvalho é uma leitura importante para os campomaiorenses, para os estudiosos da formação histórica do Piauí e do Brasil e para os piauienses e brasileiros em geral. A leitura da biografia desse grande homem é muito relevante em um tempo de penúria cívica.      

2 comentários:

  1. Grande Poeta,
    O Arraial dos partidários da sua causa ganha um aliado de peso e substância com a chegada desse novo chefe de tropas. A leitura que o historiador Gilberto Sodré faz do seu livro, agregando ainda a ele a existência do Arraial Velho, somente vem reforçar o que tens dito sobre a origem da sua Campo Maior. Parabéns ao signatário do presente texto pela lucidez e clareza do mesmo.

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  2. Caro JP,
    Comuniquei ao Dr. Gilberto, grande historiador e genealogista, sobre o seu lúcido comentário. Adiantei-lhe que vc reproduzirá o seu ensaio sobre meu livro Bernardo de Carvalho, o Fundador de Bitorocara.

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