Deus não é camundongo de laboratório
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Como dizia em matéria anterior, na
quarta vigília da noite afluem sonhos prazerosos, às vezes, de recados divinos.
Conseguir momentos assim exigem algum exercício: corpo relaxado, após
prolongado repouso.
A agitação e competitividade da vida moderna entorpecem o
contato com Deus. Brilhante médica, mestrado e doutorado, professora
universitária, assiste em hospitais de Teresina, expressa, em e-mail enviado,
sobre a crônica, MISTÉRIOS E SONHOS DA QUARTA VIGÍLIA:
“O texto é
pontuado por diversos aspectos ético-religiosos que, até mesmo para uma
agnóstica (como me intitulo!), leva a uma reflexão, mesmo que momentânea.
Afinal, nos dias de hoje, com o acesso irrestrito à web, nem paramos mais para
quase nada. Não sei aonde iremos parar. Há dias, quisera eu ter respondido, mas
as atribulações da vida moderna não me permitiram. A minha capacidade está
muito aquém dos seus muitos seguidores, mas, às vezes, me agrada algum
comentário. Tomara que o agrade também.”
Agradou, e muito, nobre doutora, sua honesta confissão de
agnóstica. Por se tratar de um testemunho bastante pessoal, evitei publicar-lhe
o nome. Mente quem afirma que nunca passou momentos de descrença ou tibieza com
relação à existência ou não de qualquer divindade ou reivindicações metafísicas.
Especialmente, em dolorosos e trágicos momentos.
Agnóstico é aquele que não conhece a Deus ou duvida da sua
existência. Ao contrário do ateu, que anula e combate a existência divina.
Crises de agnosticismo ocorrem até em monges e servos de Deus, quando a fé
resvala para discussões.
Isolar-se da turbulência do mundo, buscar o silêncio, orar,
agradecer aos céus o dom da vida fazem um bem danado à saúde do corpo e do
espírito, como suculento dejejum. Explica-se o interesse de grupos de jovens e
adultos que trocam o carnaval ou final de semana agitado por um retiro
espiritual. Experiências fantásticas testemunham eles.
Muita gente, em vez de exercitar a experiência com Deus,
questiona-lhe a existência com argumentos científicos e filosóficos que apenas
confundem incautos. Tentam questionar o divino como camundongo de laboratório,
até citam cientistas do saber tudo. Imagino ter que explicar as características
e sabores da laranja a quem nunca viu a fruta. Por mais argumentos, inclusive
científicos, não o convenceria. Só exibindo a laranja e convidar a chupá-la.
Experimentá-la. Deus é uma experiência pessoal, e não tema de discussão vazia.
Colocar-se em sua presença, nas caladas da noite ou no escritório, fechar os
olhos e soltar: “Senhor, juro que te desconheço, se existes mesmo. Dá-me uma
oportunidade para te conhecer!” Mais que na quarta vigília da noite, você o
encontrará, quem sabe, na leitura de um livro, num papo com quem tem
experiência de Deus. A doutora do e-mail ainda vai encontrar tempo para uma
quarta vigília.
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