Magia e energia em jovens talentos
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Emoção ver o piauiense Izael
Araújo, de Cocal dos Alves, arrebatar o prêmio SOLETRANDO, em programa de
enorme audiência da TV Globo, tarde de sábado. Uma semana depois, a mesma
televisão destacava grupo de adolescentes de Bom Jesus do Piauí exibindo
talento em festival de rabequeiros naquela cidade. Uma das coordenadoras,
emocionada e envaidecida, encheu os pulmões, frente às câmeras: “Como faz bem
explorar a magia e energia dos jovens!”
Infelizmente,
gestores públicos costumam promover shows, em seus municípios, iludindo a
população com o que há de pior em bandas musicais, a preço de ouro, requebrados
e palavras obscenas. A cidade de Bom Jesus, com festivais do tipo rabequeiros
atrai multidões de todas as idades e do país. Porque bom gosto artístico
prevalece sobre mediocridade e vulgaridade, sem onerar parcos recursos da
prefeitura. Um dos segredos de sucesso cultural naquela região do sertão
piauiense explica-se pela atuação de educadores e líderes entusiasmados,
especialmente em desenvolver talentos jovens. “Eles são muitos, mas não sabem
voar”, repetindo belo verso da música PAVÃO MISTERIOSO, de Ednardo.
Se se desperta o imenso universo embutido nas crianças e
adolescentes, acontece o impossível, como pavões que voam, embora não sendo
pássaros. Explica-se o sucesso cultural de estudantes de Cocal dos Alves,
estimulados mais por conjunto de coordenadores e pais com o processo educativo
do que com iniciativas do poder público.
Qualquer criança ou adolescente tem uma rabeca escondida consigo.
Se não lhe ensinam tocar, o mundo ensina-o a se alienar com valores puxados
para baixo. Na juventude, Paulo Apóstolo entregava-se a sanguinárias aventuras.
Mais tarde, convertido ao cristianismo, escreveu aos gálatas: “Duas forças em
mim ficam me puxando, uma para baixo, outra para o alto”. Para baixo, aos olhos
de hoje, as forças infernais das drogas, das amizades perigosas, do erotismo
exacerbado, da indiferença ao estudo e trabalho, do meter a mão no alheio, do
provocar discórdias, do dente por dente, do estupro, do desrespeito à ordem e à
vida. Para o alto, a busca constante de valores elevados de construção do
caráter, da harmonia familiar, da generosidade para com o próximo, do respeito
às filhas alheias, do pudor, do empenho nos estudos, da fuga à mediocridade, do
exercício da espiritualidade, da dignidade.
Democratizar o acesso à arte e à ciência, levá-la às praças e
ginásios, a palcos a céu aberto, a fim de alcançar público, especialmente
jovem. A iniciativa deve partir, além de órgãos públicos, também de lideranças
empresariais e comunitárias. Poucos empresários desenvolvem políticas públicas
de valorização da arte e ciência. Destaca-se o grupo Claudino com ARTES DE
MARÇO, FESTIVAL DE VIOLEIROS e eventos similares, inclusive ligados a atividades
paroquiais. Eventos que estimulem pesquisa científica, prática esportiva,
concursos literários, exposições de pintura, cultivo de plantas na defesa
ambiental, programas radiofônicos com participação de jovens que testemunhem
suas vitórias e pendores artísticos.
É possível preparar talentos, como Izael Araújo, vencedor do
SOLETRANDRO, ou orquestra composta por adolescentes rabequeiros. Basta encarar
educação como o mais importante projeto de prosperidade da nação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário