quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Magia e energia em jovens talentos


Magia e energia em jovens talentos

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Emoção ver o piauiense Izael Araújo, de Cocal dos Alves, arrebatar o prêmio SOLETRANDO, em programa de enorme audiência da TV Globo, tarde de sábado. Uma semana depois, a mesma televisão destacava grupo de adolescentes de Bom Jesus do Piauí exibindo talento em festival de rabequeiros naquela cidade. Uma das coordenadoras, emocionada e envaidecida, encheu os pulmões, frente às câmeras: “Como faz bem explorar a magia e energia dos jovens!”

Infelizmente, gestores públicos costumam promover shows, em seus municípios, iludindo a população com o que há de pior em bandas musicais, a preço de ouro, requebrados e palavras obscenas. A cidade de Bom Jesus, com festivais do tipo rabequeiros atrai multidões de todas as idades e do país. Porque bom gosto artístico prevalece sobre mediocridade e vulgaridade, sem onerar parcos recursos da prefeitura. Um dos segredos de sucesso cultural naquela região do sertão piauiense explica-se pela atuação de educadores e líderes entusiasmados, especialmente em desenvolver talentos jovens. “Eles são muitos, mas não sabem voar”, repetindo belo verso da música PAVÃO MISTERIOSO, de Ednardo.

Se se desperta o imenso universo embutido nas crianças e adolescentes, acontece o impossível, como pavões que voam, embora não sendo pássaros. Explica-se o sucesso cultural de estudantes de Cocal dos Alves, estimulados mais por conjunto de coordenadores e pais com o processo educativo do que com iniciativas do poder público.

Qualquer criança ou adolescente tem uma rabeca escondida consigo. Se não lhe ensinam tocar, o mundo ensina-o a se alienar com valores puxados para baixo. Na juventude, Paulo Apóstolo entregava-se a sanguinárias aventuras. Mais tarde, convertido ao cristianismo, escreveu aos gálatas: “Duas forças em mim ficam me puxando, uma para baixo, outra para o alto”. Para baixo, aos olhos de hoje, as forças infernais das drogas, das amizades perigosas, do erotismo exacerbado, da indiferença ao estudo e trabalho, do meter a mão no alheio, do provocar discórdias, do dente por dente, do estupro, do desrespeito à ordem e à vida. Para o alto, a busca constante de valores elevados de construção do caráter, da harmonia familiar, da generosidade para com o próximo, do respeito às filhas alheias, do pudor, do empenho nos estudos, da fuga à mediocridade, do exercício da espiritualidade, da dignidade.

Democratizar o acesso à arte e à ciência, levá-la às praças e ginásios, a palcos a céu aberto, a fim de alcançar público, especialmente jovem. A iniciativa deve partir, além de órgãos públicos, também de lideranças empresariais e comunitárias. Poucos empresários desenvolvem políticas públicas de valorização da arte e ciência. Destaca-se o grupo Claudino com ARTES DE MARÇO, FESTIVAL DE VIOLEIROS e eventos similares, inclusive ligados a atividades paroquiais. Eventos que estimulem pesquisa científica, prática esportiva, concursos literários, exposições de pintura, cultivo de plantas na defesa ambiental, programas radiofônicos com participação de jovens que testemunhem suas vitórias e pendores artísticos.

É possível preparar talentos, como Izael Araújo, vencedor do SOLETRANDRO, ou orquestra composta por adolescentes rabequeiros. Basta encarar educação como o mais importante projeto de prosperidade da nação.                

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