sábado, 26 de setembro de 2015

Oh terrinha maravilhosa e tórrida!


Oh terrinha maravilhosa e tórrida!

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
   
         O calorão de Teresina, nesta época de br-ó-bró, desperta humor e piadas até de cariocas, acostumados a verões insuportáveis, mas festejados nas praias.

Não aceitamos qualquer manifestação de censura ou piada, quando os termômetros passam dos 35 graus. Analogias que beiram o ridículo e mau gosto. Quer receber meia volta? Menospreze o caliente br-ó-bró. Quanto mais quente Teresina, mais elevada a autoestima. A eletrizante música de Erasmo Carlos serve-nos de refrão: “Pode vir quente que estou fervendo”.

Apareceu uma foto sarcástica, no face, ironizando o calor da capital: um ovo estalado, estralado, estrelado, em pleno asfalto, às quatro da tarde. Explico a etimologia: durante a fervura, estalado, que estala; estralado, variante para estralos; estrelado, lembra estrela, romântica e sonhadora, adequa-se à paixão dos teresinenses, que reagiram à infame fotografia: ‘Montagem paia!’. ‘Que povo observador, meu Deus!’ ‘Assim também é no Rio’. ‘Também não é assim, gente!’ Sinto muito, mas se foi piada, não teve graça’. ‘É quente, mas eu amo o Piauí’. ‘Piauiense até a morte’. ‘Uma grande mentira’. ‘Orgulho de ser daqui’. ‘Desculpe...sem graça’. ‘Ô terrinha boa demais da conta!’. Até a TV Globo se divertiu com a foto da gozação.

No regresso de Fortaleza a Teresina, de avião, 4 da tarde, ouvi sonoro e amável recado do comandante: “Senhores passageiros, dentro de alguns instantes, pousaremos em Teresina, que apresenta bela tarde de 37 graus”. Quem ouviu gostou do refrigério servido de suco. E é o que não falta, nesta época de calorão, caju, manga, de derreter baiano, cantando saborosa cajuína.

Por que desqualificar nosso clima, se o calor só incomoda no segundo semestre? Mesmo assim, amanhecer na capital, os termômetros ainda cochilam em 24 graus e se divertem nos 30, até às 11, que não nos incomodam, acostumados ao braseiro da tarde.

Futebol feminino pelo campeonato brasileiro, às 3 da tarde de br-ó-bró, em pleno Albertão?! Só pode partir de dirigentes da CBF,  cabeças quentes de denúncias de corrupção. Tadinhas das jogadoras do Viana de São Luís! Entraram em campo e emborcaram, desidratadas. Dez foram hospitalizadas com dez goals, e zero pro Tiradentes, que não protestou.

         Incomodam-nos 37 ou 40 graus? Não importam, Teresina aprendeu a conviver com o calorão br-ó-bró, mais no passado que no presente. Cercada por florestas, quintais sombreados de fruteiras, dava gosto curtir soneca depois do almoço. Ademais, construíam-se residências de teto elevado, avarandadas, janelas avantajadas, tablado suspenso, por baixo livre para circulação de ar, que entrava ou saía por fendas na parede próximas ao chão. À noite, a família sentava-se nas calçadas, conversa fora, aguardando bendita brisa depois das 9. Sem televisão, ser ar condicionado, sem notícias desagradáveis de violência e insegurança. Hoje, conseguem-se momentos assim na Zona Rural, ainda verdejante e de prazerosos momentos de lazer.

         Desculpem, tenho de ir. Penca de bananas, porção de mangas, cajus e acerolas esperam meus filhos. Estou com água na boca nos ficos colhidos há pouco. Br-ó-bró tem dessas delícias. Servido?  

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