SOBRE AS ORIGENS DE CAMPO MAIOR
Valdemir de Castro Miranda
Professor, historiador e genealogista
Campo Maior tem sua origem ligada à figura do mestre de campo
Bernardo de Carvalho e Aguiar, fundador da Fazenda Bitorocara no ano de 1695,
na confluência dos rios Longá com o Surubim. Por volta de 1706, o Pe. Thomé de
Carvalho e Silva fez desobriga na região, fundando ali um curato. Mais tarde,
com a ajuda de Bernardo de Carvalho e Aguiar, construiu a Igreja de Santo
Antonio, batizada a 12.11.1712, com a instalação da Freguesia de Santo Antonio
do Surubim ou Longá, a segunda do Piauí e ainda ligada ao Bispado de
Pernambuco. O procedimento para a instalação da nova Freguesia, foi o mesmo
adotado pelo Pe. Miguel de Carvalho quando da instalação da Freguesia da Mocha,
reuniu os moradores da região para definir o local da edificação do templo. Não
contando com a ajuda dos arrendatários das fazendas da região, mas com o cel.
Bernardo de Carvalho e Aguiar que construiu a capela a suas custas, conforme
consta em carta do Pe. Thomé de Carvalho e Silva, Vigário confirmado na Matriz de Nossa Senhora
da Vitória do Piauí de Cima em toda ela Vigário da Vara, pelo ilustríssimo Sr. Dom Manuel Álvares da Costa,
Bispo de Pernambuco e do Conselho de Sua Majestade, que Deus guarde:
“Certifico que sendo esta minha Freguesia muito dilatada
pelas grandes distâncias, principalmente a ribeira dos Longases, aonde não
podia desobrigar a tempo de acudir com os Sacramentos nas necessidades dos meus
fregueses residentes nela, pelos muitos rios que tem em meio para esta minha
igreja, requeri ao Sr. Bispo de Pernambuco, mandasse fazer Igreja curada na
dita ribeira dos Longases, por assim convir ao serviço de Deus, Nosso Senhor,
ao que deu logo cumprimento. O dito Sr. Bispo mandou-me ordem para a poder
fazer e, indo a esta parte, convoquei os principais moradores e, tomando-lhes
os seus votos na parte que havia de erigir a nova Capela, que por invocação tem
o nome do Glorioso Santo Antônio, lhe não achei possibilidade pra fazerem,
dando várias desculpas pelos poucos escravos que tinham, e estando ocupados em
fazendas que tinham os seus donos na Bahia as não podiam desamparar. Nestes
termos, me vali do Coronel Bernardo de Carvalho que, com pronta vontade, buscou
um carapina a quem pagou, e foi pessoalmente com seus escravos ajuntar as
madeiras e os mais materiais, trabalhando o dito com grande zelo. E, com
efeito, fez a capela à sua custa, tanto de escravos como gastos, farinha e
dinheiro. E o acho com ânimo de gastar nela cabedal. Outrossim se me ofereceu
com o gado que necessitasse para a nova ereção desta Matriz de Nossa Senhora da
Vitória, e me prometeu 200$000 (duzentos mil reis) para uma Custódia para a
dita Matriz e que se custasse mais o daria”.
(MELO, Pe. Cláudio. Fé e Civilização, 1991, p. 47-8).
A povoação de Santo Antonio do Surubim foi formada a partir
de muitas fazendas de gado, ali estabelecidas, na segunda metade do século
XVII, dentre elas a dos descendentes de d. Francisco da Cunha Castelo Branco.
Em 1713, o governador do Maranhão, Cristóvão da Costa Freire, nomeou Manoel
Carvalho de Almeida, morador da freguesia, para o cargo de Comissário Geral da
Cavalaria do Piauí (CASTELO BRANCO, 1980, p. 219).
É possível que o distrito da povoação seja de 1757 (BASTOS,
1994, p. 102). É, certamente, anterior a 1761, pois, em 03.03.1761, presta
juramento e toma posse no cargo de tabelião público, judicial e notas da
povoação de Santo Antonio do Surubim de Campo Maior, Manoel Rodrigues dos
Santos. Em 03.04.1761, prestou juramento e tomou posse no cargo de primeiro
juiz de órfãos Manoel Simões do Vale, sendo seu fiador Constantino Lopes
Ribeiro, e testemunhas abonadoras Domingos Pinto da Silva e José Delgado dos
Santos (COSTA, 1974, p. 143). Nesse ano, é, também, nomeado o juiz ordinário
Domingos Fernandes Barbosa.
A vila de Campo Maior foi oficialmente instalada a
08.08.1762, pelo governador da Capitania João Pereira Caldas e o Ouvidor Geral
da Justiça Francisco Marcelino Gouveia. Na oportunidade foi autorizada a
construção de Pelourinho, que ficou no pátio da matriz. Constava de um pilar
quadrado sobre degraus de pedra, o qual se conservou até 1844, quando foi
desfeito por se achar desmoronado pelo tempo. Três dias depois, a 11.08.1762,
ocorreu, na Igreja Matriz, a eleição dos membros do Senado da Câmara da vila,
que ficou assim composta: Antonio de Sousa Carvalho, juiz ordinário e
presidente; João Peres Nunes e José da Cunha Freire, vereadores e Bernardo da
Rocha Fontes, procurador. Os mesmo foram empossados no dia seguinte.
No dia 21.08.1762, foram criados dois lugares de almotacés da
Vila de Santo Antonio de Campo Maior, e promovidos, para os mesmos, João
Rodrigues de Aguiar e Manoel Gomes de Figueiredo, que prestaram juramento
perante o Senado da Câmara e logo entraram no exercício de suas funções.
Em 20.02.1775, na casa do juiz ordinário e órfãos, o provedor
comissário na Arrecadação das Fazendas dos Defuntos e Ausentes, da vila de
Santo Antonio de Campo Maior, comarca da cidade de Oeiras, capitão Manoel Gomes
Figueiredo, foi feito o processo de justificação de fidalguia e nobreza
requerido por d. Francisco da Cunha e Silva Castelo Branco (COSTA, 1974, V. I,
p.183-5).
Em Campo Maior, a 19.09.1821, teve lugar, no paço municipal
da Vila, a solenidade de juramento da Constituição portuguesa, decretada pela
assembleia constituite de Lisboa.
Em 05.02.1823, Leonardo de Carvalho Castelo Branco, a exemplo
do que já havia feito em Piracuruca, proclama, ali, a adesão do Piauí à
Independência do Brasil.
Nas margens do riacho Jenipapo, em Campo Maior, ocorreu a
13.03.1823, a Batalha do Jenipapo, a segunda com derramamento de sangue pela
adesão do Piauí à independência no Brasil de Portugal.
A vila de Campo Maior foi oficialmente elevada à categoria de
cidade pelo Decreto nº 01 de 28.12.1889, do governador republicano do Piauí,
Gregório Taumaturgo de Azevedo.
A resolução de 08.05.1811 criou o distrito judiciário de
Campo Maior, compreendendo Campo Maior e Parnaíba. Em 1833, por deliberação do
Conselho Provincial, em virtude da execução do disposto no Código Criminal, a
sede passou a ser em Parnaíba. Criada a comarca pela Resolução provincial nº 30
de 20.08.1839, compondo-se de Campo Maior e Poti [Teresina]. Pelo decreto nº
437, de 14.10.1845, reuniu-se os termos de Barras, Campo Maior, Parnaíba e
Piracuruca. Extinta pela Resolução nº 1.127, de 12.12.1883, sendo anexada a
União. Recriada, foi extinta por ato de 1894, da Assembleia Legislativa. Restaurada
pela Lei nº 86, de 12.06.1896.
A igreja Matriz de Santo Antonio do Surubim, Freguesia do
Longá, construída por Bernardo de Carvalho e Aguiar, foi demolida em 1944,
sendo em seu lugar construída a atual catedral de Santo Antonio, benta a
15.08.1964, pelo Pe. Mateus Rufino com a presença de Dom Avelar Brandão Vilela.
Castro, Valdemir Miranda de. Enlaces de Famílias. Teresina:
Halley Gráfica, 2014, p. 46-8).
Este livro genealógico encontra-se à venda na livraria Aliança e Entrelivros em
Teresina-PI.
Excelente matéria do Valdemir. Ele me prometeu um exemplar do livro que publicou em 2014, o Enlaces de Famílias mesmo, sobre genealogia, porém, por alguma razão forte, ainda não pôde me entregar o valioso presente.
ResponderExcluirMeu caro Zé Elmar: Sobre a igreja de Santo Antônio (dirijo-me ao templo), cá tenho pensado em algo ultimamente. Todos nós, merecidamente, enaltecemos a obra do nosso Mons. Mateus, espiritual, social, educacional, material de Campo Maior. Destaca-se como o construtor do atual templo de Santo Antônio, Matriz e Catedral. Entretanto, é sobre este último aspecto que desejo falar ao amigo. Terá sido positivo para os bens patrimonial, arquitetônico e histórico de nossa cidade a demolição do velho templo? Opção mais acertada não teria sido a sua preservação e construção, noutro local, também em localização apropriada, de outro templo, ou seja, o atual? Nós sabemos que isso ocorreu noutra cidade brasileiras. Servem de exemplos, entre vários, Aparecida do Norte e Belém do Pará. A velha igreja, como sabemos, tinha grande importância, e, tal qual a do Rosário, estaria propiciando à religião e ao turismo valor muito significativo. Meu pensamento pode ser perfeitamente contestado. Mas é bem pessoal.
Foi um vezo do passado, mas que ainda se mantém, mesmo que como exceção, destruir-se ou modificar-se velhos templos, para a construção de novos. O ideal teria sido a conservação das vetustas igrejas, que faziam parte da paisagem arquitetônica, sentimental e histórica das cidades, com a construção de novas em outros locais, próximos ou não.
ResponderExcluirDr Elmar Carvalho, ainda sobre a igreja: o pequeno templo que Bernardo de Carvalho contraiu em 1711 foi demolido antes de 1779. Há documentação que comprova isso.
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