No Caminho de Volta pra Casa
Ninguém se Perde
José Pedro Araújo
Cronista e historiador
Vivi menos de quinze anos na
minha terra, na minha querência, dos mais sessenta que tenho hoje. No mais,
minha convivência com o velho Curador tem sido menor do que eu desejava. A
necessidade de batalhar pelo pão de cada dia me levou para longe da singeleza
que tanto aprecio, lugar em que vi a claridade do sol pela primeira vez.
Todavia, mesmo para passar
fugazes momentos, começo a sentir aquele friozinho gostoso na barriga desde o
dia anterior ao da partida. Aliás, preciso fazer um parêntese aqui para justificar
porque uso tão frequentemente o nome Curador no mais das vezes em que me refiro
à terrinha. Querem mesmo saber? Porque tem maior sonoridade, é mais palatável,
deixa sabor na língua. Acho-o mais poético até. Sinceramente, experimentem
falar Presidente Dutra ao se referirem à terra querida. Depois, empreguem o
termo Curador. Sou de Presidente Dutra. Sou do Curador. Gosto mais da segunda
frase. Entretanto, não discuto com quem ache o contrário. Trata-se, apenas e
tão somente, de um jeito de ver as coisas, de sentir gosto ao pronunciar o
topônimo das duas maneiras. Já quanto ao gentílico, tenho dúvidas se
presidutrense não é mais gostoso de pronunciar do que curadoense. Mas, voltemos
à estrada que trafegávamos antes de investir por este atalho.
Falei que já sinto um friozinho
leve na barriga ao se aproximar o dia da minha viagem à minha querência. Esse
sentimento aumenta à medida que ultrapasso os chapadões de Caxias e começo a
ver os coqueirais de Codó, ali bem antes do Dezessete. Notem que estou trafegando
pela estrada habitual e de melhor condição, a BR-316. Em Peritoró então, já me
sinto em casa. Pouco mais de uma hora depois já avisto a torre da matriz de São
Sebastião, ai então o friozinho se transforma em pura adrenalina. A alegria de
voltar para casa me faz entrar em profundo êxtase, em um estado de felicidade
total.
Certo pensador inglês, George
Moore, cunhou a seguinte frase: Um homem percorre o mundo inteiro em busca
daquilo que precisa e volta a casa para encontrá-lo. É como me sinto ao voltar
para casa. Tal alegria só encontro lá. Caminhar pelas ruas da cidade é como
reviver um passado que sempre teima em voltar à memória. Sinto-me andando pela
minha casa de morada. Não preciso da claridade para andar firme e seguro pelas
ruas por onde sempre andei, corri, tropecei e aprendi a me erguer a cada tombo.
Estar com os meus, abraçar a
minha mãe e os meus irmãos e amigos, é um aditivo a mais nesse alegre exercício
de voltar no tempo. Claro, a falta que meu pai me faz, não pode ser substituída
por nenhum outro sentimento. Do mesmo modo, sinto a falta daqueles parentes e
amigos que já nos deixaram. Consolo-me ao adentrar em alguma das casas onde moraram. Requer forças
redobradas para impedir que as lágrimas me toldem os olhos. Somos recompensados
com a imagem dessas pessoas nas fotografias pregadas nas paredes ou postadas
sobre os móveis na sala. Sei que eles ainda estão ali, em espírito, mas, estão
e sempre estarão.
Tenho procurado, nos últimos
anos, conviver diariamente com as coisas do meu querido torrão, através das
pesquisas. Tudo o que aconteceu no passado me interessa. Quero reviver os
acontecimentos que nortearam a nossa caminhada para recontar a todos que se
interessam pela história de um povo que precisou superar todos os tipos de
dificuldades para tornar aquela região deserta e insalubre em um lugar bom para
se viver. Deste modo, todos os dias estou em contato com o meu passado. O
presente também me interessa sobremaneira. E as novas tecnologias tem
facilitado isso. A internet e o telefone são instrumentos que me ligam
diariamente ao meu velho e querido Curador. As tristezas e as alegrias são
vividas quase em tempo real. Portanto, estou sempre retornando ao meu pedaço de
chão.
Como agora quando tento passar
para o papel o presente texto.
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