UM PAÍS COMBALIDO
Jacob Fortes
Que em 2016 o povo brasileiro consiga estancar a artéria,
aberta pela corrupção, por onde escorre e se perde o imposto dos contribuintes,
a bem dizer o suor dos tributários nacionais. Essa sangria sinistra — aberta em
conluio demoníaco por uma súcia de morcegos criminosos durante o silêncio da
noite — é a responsável pelos atrasos e desmantelos do País, a começar pelo
escangalho na saúde pública e o descaminho daquelas crianças que, deserdadas da
sorte, vivem à margem da opulência e da nobreza doutoral. Às ruas, garimpando
complacência e à cata de pão, elas vão-se amoldando às lições iniciáticas do
crime, avançando nas condutas delitivas, frequentando com empenho os cursos
preparatórios que lhes assegurarão vagas nas galerias da detenção. “A tirania
mudou sua face, já não existe a brutalidade que aniquilava cabeças; os tiranos
de hoje saqueiam a Pátria e degolam as cabeças de outra forma”.
Incrédulos, de olhos aboticados, os brasileiros veem o
Brasil perdendo a sua luminosidade e derivando-se para as trevas; perdendo a
robustez e se prostrando; perdendo o rumo da navegação assegurado pelos
instrumentos náuticos (astrolábio, bússola, quadrante, balestilha) e se
orientando pela incerteza que norteia a canoa, sem dono, que resvala à flor da
correnteza de rio revolto.
Mas se a corrupção for banida ter-se-á a ressurreição da
esperança, circunstância que permite substituir as ruas — palco de todas as
passividades e licenciosidades —, pelo benfazejo e redentor caminho da escola.
Pode parecer um sonho inatingível, mas serve de utopia para iludir a mente dos
brasileiros — já no trapézio instintivo da sobrevivência — que não padecem
apenas por causa das suas privações, mas pelo temor do agravamento: ver a sua
Pátria-mãe (que sofre e resiste, resiste e sofre) combalida, errando por rumos
temerários.
Gostaria que essas imagens, que minhas letras reproduziram,
fossem apenas discursos de retóricas ou simples metáforas do exagero iguais às
que vemos em certos escritos, mas infelizmente é a dura realidade; que confeita
de indignidade o Brasil e sua gente.
Te todo modo, obrigado a Deus por essa Pátria: aviltada,
violentada. É a melhor do mundo, pois é a única que posso chamar de minha;
nisto reside o meu empenho em repelir para longe tudo quanto lhe degrada, lhe
insulta.
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