quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A TÍTULO DE POSFÁCIO


25 de fevereiro   Diário Incontínuo

A TÍTULO DE POSFÁCIO

Elmar Carvalho

Em janeiro de 2010 a minha filha Elmara Cristina criou o Blog do poeta Elmar Carvalho (poetaelmar.blogspot.com.br), cuja postagem mais antiga data do dia 22.01.2010. No dia 17 desse mês e ano, fiz o primeiro registro deste Diário, publicado no blog no dia 23. No início, as notas eram mais curtas e não tinham título; traziam apenas a data em que foram escritas. Com a publicação na internet (no meu e em outros sítios informáticos), senti a necessidade de lhes intitular.

No entusiasmo dos primeiros registros, fazia duas, três ou mais matérias por semana, para que a obra mais se ajustasse à sua denominação. Posteriormente, optei por fazer apenas uma (no máximo duas). Passei a lhes dar um caráter mais de crônica, e, às vezes, de artigo ou de pequeno ensaio. Na medida do possível, tornei mais denso e aprofundado o conteúdo dessas anotações diarísticas. Seja como for, sem este Diário e sem o blog, com a consequente possibilidade de publicação imediata, eu não conseguiria a motivação e o ensejo de escrever as centenas de textos que escrevi.

Ainda há pouco, nesta manhã agradável e quase chuvosa, em que rolinhas “fogo-apagou” e bem-te-vis cantavam alegremente, contemplei as árvores do quintal vizinho, a farfalharem ao vento, vestidas de intenso verde, entre as quais se destacava uma gigantesca cajazeira, que durante boa parte do período de estiagem se apresenta desnuda, como se tivesse morrido. Sem esta crônica diarística, é evidente que esses ínfimos fragmentos temporais e de vida ficariam para sempre esquecidos. A muitos acontecimentos efêmeros tentei dar a possível e talvez vã perenidade literária.

Como o Diário já completou mais de seis anos (17.01.2010 a 25.02.2016) pude fazer o registro de acontecimentos importantes da cultura e da vida literária piauienses. Em suas páginas, homenageei os noventa anos da vida de meu pai. Narrei em sentidas crônicas a morte de minha mãe e de pessoas amigas, bem como a das cachorrinhas Belinha e Anita.  Portanto, como Humberto de Campos, sepultei os meus mortos nestas páginas elegíacas e evocativas do panteão de minha saudade. Para mim eles ainda estão vivos, e fizeram apenas uma viagem para outra dimensão, onde algum dia os reencontrarei.

Ao longo desses seis anos feri os mais variados assuntos. Às vezes rememorei uma conversa instigante; comentei alguma leitura agradável ou enriquecedora; relembrei, aproveitando algum ensejo ou “gancho”, algum fato importante da história piauiense e também de sua literatura; discorri sobre acontecimentos da atualidade e aproveitei para contar fatos que reputei interessantes, dentre os que observei, os de que participei ou mesmo acaso os de que tenha sido protagonista.

Aqui estão insertos os “Retratos” de minha mãe e de meu pai, que publiquei em opúsculos, na época em que foram elaborados. Muitas crônicas foram inseridas em Confissões de um juiz e Amar Amarante. Aliás, um leitor atento, que acompanhou a publicação desses textos na internet, me observou, com muita argúcia e pertinência, que eles, coligidos por temas, dariam vários pequenos livros.

Procurei, com todo zelo e esforço de que fui capaz, dar aos registros deste Diário uma dignidade literária, em que tentei verter o conteúdo em boa taça. E lutei para que a sua forma pudesse ter graça e beleza. E emoção, se fosse o caso. Em suma: aqui estão fixadas nesgas de minha alma, de meu espírito e de meus sentimentos.   

5 comentários:

  1. Prezado amigo Poeta,
    Leitor assíduo que sou destas páginas,foi sentir saudades do Diário Incontínuo. Como foi afirmas no ótimo e sentido texto acima, o título de diário fez com que você se desdobrasse para publicar, quase diariamente, algo para o nosso deleite e aprendizado. Temo que sem este título, um pouco da preguiça que acomete a todos nós se assenhore de você e nos prive dos teus esmerados e diários escritos. De fato, tenho dúvidas se isso pode ocorrer com você, pois com esse espírito de usina que se apoderou de você, vai ter que se esforçar muito para parar de produzir diariamente.Por fim, um pedido: mesmo tendo conhecimento do seu projeto para o futuro, não dos prive do pão espiritual publicado no blog do Poeta Elmar.
    Boa sorte no seu novo projeto literário!

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  2. Fiquei feliz com seu comentário, cheio de belas e incentivadoras palavras. Você é um amigo de boa formação moral e intelectual, e que, por isso, sabe reconhecer os méritos alheios. Muito obrigado.
    Irei, a partir de agora, iniciar a organização do Diário Incontínuo, para publicá-lo no formato impresso.
    Aos poucos, com menos assiduidade, espero continuar a escrever algumas crônicas, quando me der na telha e calhar.
    É meu desejo, dentro de um mês ou dois, iniciar um romance, que é um projeto literário antigo meu.

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  3. Estimado Elmar Carvalho:

    Enfim, V. posta o que será o seu posfácio à longa jornada da escrita diarística inciada em 2010. ou seja, um percurso literário de seis bos anos.
    Acompanhei a maior parte dos textos publicados nessa sua coluna de blog. Textos variados, de níveis quase sempre de bom para ótimo. Nele V. contou, nele expôs ideias com caráter ensaístico, noutros textos trouxe à baila temas afetos à vida pessoal, noutros deu formas de ficção, com muito humor, com muita vida e humanidade para com lugares, pessoas, paisagens etc. Outros mais envolveu com pinceladas de teor fantástico,ou melhor, textos de forte teor sobrenatural, outros, por fim, regados ao lirismo próprio de V. escrever em prosa, que o caldo poético de alguns de seus textos. V fez,assim, a travessia do meramente prosaico para o encantamento da criação de imagens, de visualidades, de sons, de ritmos, i.e., com essa a intromissão bem dosada do poético na prosa, essa fusão muitas vezes necessária à configuração do seu estilo de escrever. E é aqui me interessa ver e anotar no seu trabalho com a linguagem, que é dar-lhe todo o estatuto privilegiado de tornar a realidade circunstancial em "realidade possível", o qual - não há como negar, é muita mais envolvente e muito mais denso, já que é aquela realidade construída - não me cabendo aqui ser original -, é a que "completa" a mesmice e o enfado da realidade referencial.
    O amigo agora está em condições para a reunião de tantos textos, de tantas canseiras, de tantas horas destinadas(com horas roubadas a um lazer maior e merecido) no ato da escrita, ato gratuito, às vezes compensador, às vezes não, mas, enfim, do qual se desobrigou ao cumprimento daquilo que se propôs há seis anos no sentido de realizá-lo plenamente. Cumpriu elegantemente sua meta. Está de parabéns!

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    1. Erra: no último parágrafo(linha 30 leia-se "... ao ato da escrita..." e não "... no ato da escrita..."
      Cunha e Silva Filho

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  4. Caro Cunha,
    Seu excelente comentário parece ser um prelúdio do estudo introdutório que você, a meu convite, fará ao livro, conforme já conversamos por telefone.
    Aliás, de certa forma, você praticamente já o fez, através dos vários comentários que já emitiu, com muita propriedade.

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