sexta-feira, 18 de março de 2016

Indignação: estupro no Palácio Alvorada


Indignação: estupro no Palácio Alvorada

José Maria Vasconcelos

          Os brasileiros foram dormir indignados com a notícia veiculada, à exaustão, nos meios de comunicação e redes sociais. O assaltante, ex-morador da Casa,  fugitivo da Justiça, entrara no Palácio, rendera a frágil e desmiolada primeira dama e a todos, com palavrões de embriagado, ainda cometera estupro contra a digníssima moralidade.

A população reagiu nas ruas e praças do Brasil, com panelaço e bordões. Até o juiz federal mais admirado dos brasileiros, recuado pelo assaltante, sentiu-se reduzida sua autoridade: soltou as gravações com diálogos sigilosos e palavrões do invasor com a primeira dama e demais amigos. A nação, assiste a tudo, de dignidade ultrajada. Refiro-me aos brasileiros de bem, que pagam altos impostos e custo de vida como resgates do assalto aos cofres públicos.  Patriotas que não aceitam contracheques e benesses da empulhação e submissão ideológica.

Há duas décadas, bela jovem e bem-sucedida empresária de 33 anos, casada, sem filhos, tentou, com apoio do marido, engravidar. Ela bateu à porta de especialista de referência nacional, médico das estrelas. Durante os procedimentos no consultório, a empresária, sob efeito de sedativos, acordou com o peso do clínico sobre seu corpo, estuprando-a. “O meu mundo caiu, adquiri várias infeções, perdi vários órgãos e a esperança de ser mãe, entrei em depressão, quase me suicidava”. A empresária montou uma rede de vítimas na caçada ao estrupador de suas pacientes, com apoio da Justiça, até encontrá-lo, fugitivo, e prendê-lo no Paraguai, depois de vinte anos de caçada. A brava senhora, aos 54 anos,  encarou-o no aeroporto. Uma saga quixotesca publicada no livro BEM-VINDO AO INFERNO. A HISTÓRIA DE VANA LOPES. A VÍTIMA QUE CAÇOU O MÉDICO ESTUPRADOR, condenado a 278 anos de cadeia. O livro traz o prefácio do juiz federal Sérgio Moro, o modesto e jovem Davi que enfrenta os gigantes assaltantes da Lava Jato. O Brasil torce pelo sucesso do magistrado e reza por mais dignidade da Suprema Corte. Ele mesmo, assaltante, profetizara, em 1988: “Quando um pobre é pego roubando, vai preso; se é rico, vira ministro”.

Tem razão o profeta de araque: os pobres foram feitos para a política, mas para sustentar o poder. Sustentar-se e contentar-se com migalhas da fome, porque a política, no Brasil, virou ciência da corrupção, começando pela Casa mais nobre da nação e das Conchas Acústicas.


Espero, como destemida empresária Vana, que dias melhores ainda virão, até porque invoco filósofo e teólogo Santo Agostinho, que viveu em período de gigantesca corrupção do Império Romano: “A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las”.  

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