quinta-feira, 16 de junho de 2016

HISTÓRIAS DE ÉVORA - Capítulo X


HISTÓRIAS DE ÉVORA

Este romance será publicado neste sítio internético de forma seriada (semanalmente), à medida que os capítulos forem sendo escritos.

Capítulo X  

Consummatum est

Elmar Carvalho

No liceu, Marcos teve rápida conversa com Fabrício. Este lhe disse que estivera no QG e que a madame Doralice perguntara por ele.
– O menino Marcos está difícil, nunca mais apareceu. Diga a ele para aparecer. A casa continua de portas abertas para ele, e eu continuo a mesma e de braços abertos...

O rapaz gostou da notícia. Estava lendo, com muita atenção, os livros que Madalena lhe emprestara. Dera especial importância aos prefácios, estudos introdutórios e notas de rodapé, para só então devolvê-los. Estava ansioso para rever a mulher do médico, para enfim consumar o que mal iniciara, se tal fosse possível.

 Ante o que Fabrício lhe contara, de forma auspiciosa, decidiu ir ao QG naquela mesma noite de quarta-feira, em que o movimento no lupanar não era tão grande, como nos finais de semana. Com certeza o entrevero amoroso com a madame lhe serviria para apaziguar a sofreguidão que sentia em reencontrar Madalena. Teria mais tenência, e não iria com tanta sede ao pote. Dessa forma, poderia se esmerar nas carícias e nas chamadas preliminares.

A madame, levando muito a sério a sua missão de mestra do jovem, que espontaneamente se impusera, resolveu se exceder nas lições práticas e teóricas. Indicou-lhe as carícias e manipulações que mais excitavam uma mulher. Mostrou-lhe as principais zonas erógenas. Enfatizou que os toques preliminares eram de capital importância para o sucesso de um amante, sobretudo os mais sutis em certas partes da anatomia feminina.

Disse-lhe que ser o gatilho mais rápido só era importante nos filmes de faroeste ou bangue-bangue. Deixasse isso para Ringo, Billy the Kid ou Django. Como no velho brocardo, a pressa era inimiga da perfeição. Os dois repetiram as performances e pulutricas anteriores, e inventaram outras mais. Doralice, demonstrando ser a sacerdotisa suprema do sexo, exercitou a arte do pompoarismo, o que levou Marcos ao delírio, no embalo de sucções e fricções tão ritmadas.

Com essas novas aprendizagens, e após a leitura meticulosa dos livros, o rapaz se sentiu apto a retornar à casa de Madalena, sob o pretexto de devolvê-los. Tocou a campainha. Um pouco depois a dona da casa apareceu, e o cumprimentou com um breve e discreto sorriso. Pediu-lhe para que entrasse e sentasse à mesa da sala, em que ele depôs os livros. Foi até a cozinha, de onde retornou com um delicioso suco de cajá. Com paciência o rapaz o sorveu, demonstrando sentir muito prazer nessa lenta degustação.

Madalena, quase como se fosse uma dedicada mãe a tomar as lições do filho, fez várias perguntas, tanto sobre o conteúdo das obras como sobre o estilo dos autores. O jovem, para impressioná-la e para provar que fizera cuidadosa e profunda leitura, falou com muita vivacidade sobre os livros e seus autores. Falou, inclusive, da escola literária a que eles pertenciam, enunciando suas características mais notáveis.

Nessa breve conversa o rapaz notou que a mulher o mirava com ternura e encantamento. Por seu turno, ele não lhe regateou olhares em que tentou expressar admiração e desejo. Com embevecimento contemplou seu rosto de incomparável formosura, e com certa cobiça mergulhou seus olhos nas colinas de seu colo, tentando adivinhar as curvas, os detalhes, os contornos e a textura dos seus seios, empinados e firmes. Tentando disfarçar a impaciência, ela o convidou a irem até a biblioteca, para que ele escolhesse novos livros.

Marcos só era tímido no primeiro contato. Feita a conquista, tinha a desenvoltura e traquejo de um verdadeiro amante. Observou que, dessa feita, Madalena cerrara a porta. Ele sabia que um livro era bem mais delicado que uma mulher, pois uma simples lágrima podia danificá-lo e manchá-lo para sempre; um simples toque inadequado ou canhestro podia amarfanhar suas folhas. Mas a tocou com muito mais suavidade do que tocaria uma página feita do mais delicado e frágil papel.

Afagou-lhe os cabelos e as têmporas. Em seguida, seus dedos percorreram-lhe as sinuosas e bem delineadas sobrancelhas. Seguiram o contorno da boca. Pousou o côncavo das mãos sobre as maçãs do rosto em inefável massagem. Após fixá-la em profundidade, olhos nos olhos, como se quisesse lhe devassar os mais recônditos pensamentos, colheu-lhe os lábios entreabertos, ansiosos. Beijaram-se longamente, em frenesi, enquanto se abraçavam.

Marcos se afastou um pouco para poder lhe tocar os seios ainda velados pela blusa. Quando quis desabotoá-la, ela lhe afastou as mãos, e o beijou novamente. Depois, conduzindo-o, abriu a porta que separava a biblioteca do quarto do casal. O rapaz, então, a desnudou completamente. Viu a magnífica beleza de seu corpo, cheio de curvas, relevos e encantamentos. Beijou-lhe os seios esculturais. Afagou-os com suavidade e vigor, de baixo para cima, até se fixar nos túmidos mamilos de eriçadas e áureas aréolas. Foi metódico, quase ritualístico. Sussurrou e ofegou ao seu ouvido, como se seguisse profano breviário.


Aplicou em Madalena tudo o que aprendera com Doralice, ponto por ponto, milímetro por milímetro, até a consumação suprema da própria consumação. E ainda assim, como na música, o cio venceu o cansaço.  

2 comentários:

  1. Apresso-me e me adianto àqueles que, por ventura, possam tecer alguma critica ao fato de você penetrar fundo nesse assunto que, para alguns, ainda é tabu, para afirmar a minha admiração pelo fato de discorreres sobre tão instigante assunto, sem incorrer ou resvalar para a futilidade. Enquanto isto, trafegas entre a beleza, a sexualidade e a poesia com estrema maestria. Mais um ponto a seu favor.

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  2. Caro JP,
    Obrigado por suas considerações críticas.
    Venho tentando contar fatos do meu protagonista adolescente sem descambar para grosserias e vulgaridades.
    Abraço,
    Elmar

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