Salgado Maranhão do Piauí
José Maria Vasconcelos
josemaria001@hotmail.com
Isto mesmo, do Piauí. Salgado no
Maranhão, consagrado na Assembleia Legislativa do Piauí com título de cidadão.
Adolescente, veio de Caxias, só de cuia e familiares, residir em Teresina, na
Piçarra. Nas agruras da pobreza, aprendeu o exercício da poesia, virtudes,
espiritualidade e amigos do bem. Admirado e benquisto na minha família.
Da Piçarra, se mandou pro Rio,
onde seu talento despertou admiração de celebridades das letras e músicas.
Cantores, como Zizi Possi (CAMINHO DO SOL, linda de morrer) gravam com letras
de Salgado, generoso retorno financeiro. O poeta não se desgarra do torrão,
conectado aos eventos e amigos locais. Hoje, consagrado no mundo, traduzido e
estudado em universidades americanas, já na mira dos japoneses.
Para entender Salgado Maranhão,
precisa conhecer algumas técnicas utilizadas na criação de um poema.
Primeiramente, o poeta foge às mesmices frases do cotidiano. Arte não é só
fazer, mas criar, diferenciar. Lapidar a
pedra bruta. Salgado perde tempão, dias para concluir um poema. Escolhe o tema,
sai garimpando fontes históricas, paisagens, tipos e conflitos humanos.
Elementos que servem apenas de pano de fundo para traduzir estados mentais,
abstratos. Substantivos cuja substância escapa ao sensorial ao transcendente.
Observe o poema abaixo, ESGRIMA, inspirado na arte marcial japonesa. Tente
descobrir a mensagem embutida nos elementos associados à técnica de combate,
até morrer. Reuni estrofes para economia de espaço:
“Foi no escudo de aço em alta
têmpera/que Musashi forjou a sua esgrima,/removo agora a poeira dessa era/que a
espada se confunde com a sina,/que o samurai ao despertar a morte,/vai de
encontro à sua própria rima)./ Colhendo os anos ao sabor da sorte,/ aos treze,
racha o crânio de um rival;/foi o carimbo de seu passaporte./ para o caminho do
risco integral:/ o Bushido, a katana, o sangue em flor,/sob o clamor de um céu
medieval!/Eram combates de um certo esplendor,/de cortes limpos, quase sem
fratura,/para alcançar a perfeição da dor./pois esse deus de fogo e de loucura,/em
cuja lenda um povo se conduz,/largou no esquecimento a tal bravura,/para
fundir-se ao Zen e à sua luz/de cerejeira na estação que cai:/pra não deixar do
antes no depois,/nem sombra do que fora no que vai,/e, entre pincéis, pinturas
e Kanjis,/reinventar seu mito num hai kai.
Elementos históricos que compõem
o poema: Esgrima, espada fina de aço muito resistente; espadachim, o lutador, o
samurai; Musassi, maior samurai (lutador) da arte marcial, nascido em 1584, em
Harima, atualmente Japão. Samurais, classe feudal, guerreiros da elite feudal
japonesa; Niten, apelido de Musassi, por criar o estilo de luta com duas
espadas, isto é, dois céus, deus, que, aos treze anos, mata um rival. Bushido,
código rigoroso de honra, alma e espírito (katana) do samurai, até de morte, se
rompido, por exemplo, tornando mais perfeito do que o mestre; Musassi foi além
do mestre, por isso, ele mesmo ofereceu o pescoço a um samurai, durante duelo:
“Mata-me!”. Negado, ele mesmo desferiu a esgrima no pescoço. Alcançou a máxima
perfeição, iluminado, Zen, divino, festejado nas flores de cerejeira que caem,
nos Kanjiis (ideogramas japonese), no herói nacional dos samurais) e nos hai
kais, na memoria e artes japonesas.
Se eu não soubesse alguma coisa
sobre as fontes inspiradoras, não chegaria ao fundo do pré sal do poema, para
extrair o recado do poeta: exaltar a grandeza humana e talento dos heróis na
pessoa de Felipe Hiro, 33 anos, filho de brasileiro com japonesa. Jornalista,
escritor, correspondente nos Estados Unidos, fala árabe, alemão, inglês,
italiano, português, japonês e espanhol. Felipe não aparece no poema, porque a
mensagem é universal. Um herói zen. Um poema porreta, quase indecifrável, do
herói samurai das letras, Salgado Maranhão do Piauí.
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