domingo, 17 de julho de 2016

COISA NENHUMA


COISA NENHUMA

Elmar Carvalho

Meus olhos jogados ao
acaso como pedaços
de espelho quebrado.
Meus cabelos arrancados
flutuando como
cabelos do vento.
Minhas mãos decepadas
acenando em vão e em vão
apertando coisa nenhuma.
Minha cabeça atirada
numa lata de lixo
onde o lixo era ela.
Minhas células espalhadas
por uma tempestade que
partiu de mim.
Os pedaços de meu
corpo mutilado depois
se agregam como antes,
exceto a cabeça.
(Ai! Dalí, Dalí, Dalí...
O meu corpo sem cabeça,
como o Farmacêutico de Ampurdán,
anda à procura de coisa nenhuma.)


           Parnaíba, 1978.

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