sábado, 20 de agosto de 2016

Não voto em caricatura


Não voto em caricatura

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

          Começou o período de campanha eleitoral. Para início de conversa, perpassa-me, como na maioria dos brasileiros, a sensação de náusea à classe política, em geral. Assiste-se a desenfreada e faminta tara por um mandato eletivo, como rapinas atrás da presa, embora estigmatizados de fichas sujas. Sem falar na desavergonhada corporação do que “vou receber, se virar a casaca”.

         Bote de lado qualquer ranço ideológico ao nobre povo cubano, exemplo de cidadania e patriotismo, apesar do implacável cerco americano à sua tentativa de prosperidade. Repare o depoimento do médico cubano, Orlando Leskay, do programa “Mais Médicos”, de Porto Alegre. Acompanhado de colegas de profissão, durante coletiva com a imprensa, Leskay lascou, em defesa de seu povo: “Para nós o mais importante é o sentimento de ajudar as pessoas. Sabermos que temos garantia de segurança. A família cheia de saúde, possibilidade de atendimento médico. Recebo o meu salário, e, no meu país, nenhum de nós está contando quanto nós ganhamos. Isso não é importante para nós. Quando nossa turma se reúne, é para falar do trabalho no posto de saúde. Ninguém fala de dinheiro, do que vou fazer com esse dinheiro. Falamos de quantos pacientes com tuberculose atendemos e estão bem. Ou de um diabético descompensado, agora recompensado. Nós respondemos a um sistema social, enquanto, em outros lugares, as pessoas pensam em dependência do sistema social. No Brasil, um doutor não nos entende, porque responde a outro sistema social. Nós, desde a infância, somos educados com um sentimento diferente, coletivo. É preciso que vocês entendam isso. Nós não vamos mudar. Nós não vamos morrer, tal como éramos no período da colonização e exploração capitalista”.

         Filtrando-se certo exagero da utopia cubana, passada e vigiada pela repressão da ditadura, observa-se, entretanto, testemunho patriótico do médico Orlando Leskay. Provoca inveja na consciência de brasileiros, mais ávidos de direitos pessoais do que deveres de cidadão. Na defesa do prato do que da pátria (só nos esportes).

         Quando se observa o campo político no Brasil, espanta-se com a retórica histérica, populista, apaixonada, ideológica. Por trás da verborreia, só planos pessoais. Apela-se de tudo, até para o nome de Deus, na fúria esbaforida e ofegante pelo voto. Nem precisa citar conhecidas figuras dos escândalos, palavrões, tabefes e garrafadas em público. Servem apenas de caricaturas na missão tão nobre da política, como a inglesa. Na campanha eleitoral para presidente americano, destaca-se uma dessas caricaturas, Trump.


         Candidatos caricaturescos berram, ofendem adversários, prometem o impossível, testemunham a própria mediocridade com palhaçada para seduzir, especialmente, a plebe sofrida, desinformada de consciência cívica, responsável, coletiva, em vez das merrecas prometidas para vender seu voto. Falta um Orlando Leskay nessa história.   

Um comentário:

  1. José Maria, um dia quem sabe, todos sem exceção terão coragem, determinação e consciência política em seguir os profundos ensinamentos do mestre.
    Parabéns!
    Itamar Costa

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