segunda-feira, 8 de agosto de 2016

São Cristóvão, só lenda e superstições


São Cristóvão, só lenda e superstições

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail

         Som agudo dos rojões e foguetes ecoava nos céus da Zona Leste de Teresina, no final daquela tarde. Carros, motos, fiéis a pé, imagem de São Cristóvão entronizada na carroceria de caminhonete da Polícia Rodoviária Federal. Padres e comandante rodoviário respondiam às perguntas de repórteres. E tome rojões, foguetório, hinos religiosos e vivas ao padroeiro do bairro e dos caminhoneiros. Só faltava uma paradinha para reflexão, digamos, menos sentimental.

         Fervor sem análise crítica da razão resvala para a paixão. Só pura manifestação emocional, sem consciência crítica, facilmente se resvala para acreditar no lendário, no supersticioso e ideológico. Devoções e culto a personagens nunca existidos, lendários ou produtos da ficção, seduzem a imaginação das mentes ingênuas. É o caso de de São Cristóvão.

         O Papa João XXIII, aos 77 anos,  assumiu a Igreja de 1958 a 1963, e provocou uma revolução de modernidade, graças ao espírito simples e alegre, quebrando várias tradições, sair do Vaticano para visitar abrigos e países. Rejeitar o tradicional andor, que servia de traslado do Papa, carregado por policiais suíços meio à multidão. Também acabou com a missa em latim ou com o celebrante de costas para o público. Instituiu o Concílio Vaticano II e o movimento de aproximação com “irmãos separados”. Promoveu mudanças no calendário católico, retirando santos consagrados pela fé popular, mas sem provas históricas de sua existência. Saíram Jorge, Cristóvão, Sebastião, o culto às chagas de Francisco de Assis etc. Continuam cultuados, porque dividendos falam alto.

         A lenda de São Cristóvão lembra velhas historinhas infantis: senhor alto e forte residia às margens de um rio. Generoso, e por causa da altura, costumava carregar, na corcunda, quem atravessasse o rio. Um dia, uma criança lhe pediu carona. Depois da travessia, ela lhe agradeceu e se identificou: era menino Jesus. Daí CRISTÓVÃO, do grego, “aquele que conduz o Cristo”.

         Lendas e crendices inebriam a imaginação humana, quando acredita que são verdadeiras. A Igreja Católica estabelece algumas regras para aceitar a Santa Tradição, aquelas fontes históricas, fora da Bíblia, mas fundamentadas e testemunhadas pelas primeiras comunidades cristãs. Evangélicos, em geral, só aceitam fontes bíblicas, mesmo assim, eliminam alguns livros – segundo eles - não passam de lendas e duvidosa inspiração divina.

         Se vigários estimulam e preservam a chamada “fé popular”, com festejos, que atraem mais multidões e foguetório do que os louvores ao Rei dos reis, Jesus Cristo, alguma coisa precisa ser revista, conforme os planos do Papa João XXIII.


A Igreja continua lenta na evolução, como travessia de um rio a pé. “É preciso bater o pó da História”, segundo o querido e popular João XXIII. Papa Francisco ergue a bandeira com grande aceitação popular, que cobra mudanças, porque lendas, superstições e tibieza não alimentam a fé inteligente, corajosa e entusiasmada. Torrente de difícil travessia exige pé no chão, sem fantasias.   

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