terça-feira, 27 de setembro de 2016

CONSIDERAÇÕES EM FORMA DE CARTA A ELMAR CARVALHO



CONSIDERAÇÕES EM FORMA DE CARTA A ELMAR CARVALHO

Cunha e Silva Filho

             Era para lhe ter feito o comentário que ora lhe faço, mas, como usava, aí em Teresina, um tablet, eu não conseguia digitar o texto no espaço adequado.

            Agora, de volta à minha casa, escrevo-lhe, como habitualmente, do meu computador.

         V. me antecipou, poeta "malabarista do verso," na crônica “Passeio sentimental no tempo e no espaço” o que eu faria também sobre a nossa visita a Amarante, quer dizer,   o que nós, em família, experimentamos  na viagem  de algumas horas a Amarante. E o fez em crônica saborosa, fiel aos acontecimentos vividos por mim, V., Fátima e Elza.

            Foi, na verdade, o que poeticamente diz o título da mencionada crônica. Vejo  que o amigo, no seu texto se mostrou, como vem fazendo ao longo do  processo de sua  escrita literária, seja em poesia,  seja em prosa, exemplarmente  nesta  tarefa de relatar  com   naturalidade    e  sentido  lírico, fixando  o olhar  na paisagem  humana,  na paisagem   física e na sua forma de   interpretar  os homens e os fatos  com muita   dose  de humor  saudável, brincalhão,  mesmo fazendo coisas sérias, que é  produzir suas crônicas   no seu conhecido e bem lido “Blog de Elmar Carvalho”.

           A sua crônica, portanto, não deixou um único aspecto de fora em "nossa" visitação à Amarante, ao fundir harmoniosamente as nossas vivências com vida literária.

          Daí, a adequação que teve para declamar um poema seu com o seu sotaque tão característico e cheio de exaltação lírica, resultando num quadro perfeito de escrita posteriormente elaborada.

          É pena que, no mirante de Amarante, a sua empolgação na fala aludindo ao poeta da Costa e Silva (1885-1950) e ao lamentar que foi rejeitado   o pedido  feito  ao filho  do poeta para  que os restos mortais  do maior vate  de Amarante e da poesia  piauiense  fossem trasladados do Rio para Amarante.É pena também que o, ao manejar o meu tablet, me faltasse  competência técnica para realizar  a filmagem com som e tudo.

         Ainda falando de sua crônica, há que nela se destacar a singularidade da escrita como resultado do que, de improviso, do alto da escadaria, ressaltou sobre as belezas bucólicas da cidade de Amarante e das serras do lado do Maranhão tendo como intermediação afetiva e nostálgica a figura do Velho Monge, do hoje maltratado rio Parnaíba, elemento físico inseparável da beleza natural daquela cidade que tanto amamos.

         V., Elmar, me surpreendeu como figura humana bem mais descontraída do que no tempo em que o conheci ainda muito jovem nos idos de 1990, tempo em que tive o grato prazer de iniciar com V. uma amizade que, da minha parte, jamais esvaecerá ainda que  sabendo o quanto, por vezes, as amizades  mudam para   melhor ou para pior. Da minha parte, julgo que será durável nos limites de nossa perenidade na Terra.   Já o considero uma pessoa que conquistou o meu coração e o da Elza.

       Volto à crônica que vinha comentando em alguns traços gerais. Mas, não posso esquecer   de  mencionar  o momento  de encanto quando  entramos no Museu  Odilon Nunes. Ali a história se volta inteiramente para o passado e toca todas as fibras do meu ser saudoso, sempre tentando conviver com o valioso legado da afetividade relacionada à figura de meu pai.

     As fotos que tiramos juntos têm como elemento de identidade e aproximação entre nós o sentimento profundo da afetividade minha e, creio, sua também, cujo ponto de união se manifesta através da presença do busto de meu velho pai, obra que é fruto do talento do meu irmão Winston, um escultor boêmio e desapegado das coisas materiais.

     Tudo naquele ambiente de objetos antigos da cultura amarantina me desconcerta e invade profusamente o meu mundo interior dadas as associações que ali fiz de todo um tempo que já foi vida trepidante, em salas nas quais meu pai, na condição de professor do Ginásio Amarantino, sob a direção de Odilon Nunes (1899-1989) tantas vezes por ali andou e principalmente por ali tinha seu espaço de sobrevivência, suas alegrias e tristezas e todas as vicissitude por que passa   a vida de um  docente.

      Ah, não poderia deixar de mencionar em nossa viagem sentimental algumas circunstâncias, que, no final, acabam por fazer parte da própria andança sentimental: a travessia de municípios no trajeto para Amarante, as cidades de, por exemplo, Regeneração, Angical, Água Branca; a parada de carro para um rápido lanche na Lanchonete do Sales cheia de santinhos de candidatos de todos os partidos; a dúvida que V. teve sobre qual a estrada, na agradável viagem de carro, seria a correta, pois, numa certa altura, ela se bifurcava em dois sentidos, um dos quais nos levaria a Amarante, porém, o problema logo felizmente foi resolvido pela informação de um morador; a dificuldade de encontrarmos o restaurante que queríamos constituíram momentos de muito humor para todos nós. Por último, o fato de que, naquela hora que estávamos em Amarante à procura da casa de minha irmã Sônia, observamos que toda a cidade     poderia estar fazendo sua sesta debaixo do calorão de uma cidade velha, cheia de mistérios e com um ar de solidão e abandono.

       V., graças à sua poesia com uma vertente dirigida à condição de poeta geográfico do Piauí, se sente, a meu ver, liricamente preso à velha Amarante, tanto mais que a poetizou engrandecendo assim o repertório da lírica amarantina em versos que seguramente ficarão gravados para sempre na história cultural da cidade.

     A poesia faz parte da sua personalidade literária, meu caro Elmar, e mesmo na sua ficção, ou na crônica, ela se faz presente.

      A sua crônica marca um ponto de convergência saudável e aglutinador entre a minha pessoa e a sua. Isso me é confortante e me desvanece o espírito.

     Sua crônica sela em definitivo uma amizade que passou do domínio da intelectualidade para o domínio de uma amizade que só poderá crescer com os anos. Ou seja, da condição de crítico de sua obra me tornei um seu amigo. Não é o primeiro caso na história literária brasileira ou universal.


    Quero, por outro lado, lhe agradecer mais uma vez pelo gentil convite que me fez e à Elza para, junto com a Fátima, fazermos uma deliciosa, histórica e afetuosa visita à minha Amarante regada a um "causeur" divertido, espirituoso, cavalheiro e sobretudo amigo.

5 comentários:

  1. Nestas linhas cheias de sentimento e agradecimento, é possível ver a índole de uma pessoa que preza sobremaneira a amizade e sabe cimentá-la com a argamassa do agradecimento, do carinho e da simplicidade, tornando-a duradoura, mesmo eterna.Posso imaginar com que ritmo acelerou-se os batimentos do seu coração ao pisar o solo sagrado dos seus pais, que de resto é também o seu. Da minha parte, devo dizer que vi no seu semblante de homenageado, quando da apresentação do seu livro, na Livraria Entrelivros,a pureza d'alma e tranquilidade e a paz de um ser cavalheiresco.

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    1. MEU CARO JOSÈ PEDRO:

      MUITO GRATA A SATIFAÇÃO DE ME HONRAR COM A SUA PRESENÇA NO MEU LANÇAMENTO. FOI UMA NOITE MUITO LINDA. ESTAVAM ALI PESSOAS A QUEM PREZO, COMO A SUA.
      V. É UM INTELECTUAL QUE SABE COMUNICAR-SE BEM E COM ELEGÂNCIA.
      TENHO CERTEZA DE QUE TEREMOS BOM TEMPO PARA TROCARMOS IDEIAS TANTO NO PLANO DA AMIZADE QUANTO NO PLANO LITERÁRIO E CULTURAL.
      UM FORTE ABRAÇO DO
      CUNHA E SILVA FILHO

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  2. Os restos mortais(em forma de cálcareo) de DA COSTA E SILVA, já foram jogados em sua Amarante pelos beija-flor, canários belgas, ben-te-vi, currupião, galocampina e tantos outros pásaros, que realizam como aquelas aves de arribação, viagens frequentes entre o Rio de Janeiro e Amarante. O cálcareo do poeta, estão a melhorar o solo de Amarante, observem a pujança do canavial que existe no Sitio Lira(há 100 anos produzindo a nossa deliciosa Cachaça Lira).
    Cunha e Silva Filho, você fez o "Alegre Retorno"ao seu torrão, você visitou o ambiente e as ladeiras antes percorrida pelo seu inesquecível pai(Professor Cunha e Silva o Bolinha).
    Elmar é um guerreiro e acima de tudo um saudosista e tudo o que ele lhe proporcionou brota do seu bondoso coração( este coração que clama por uma preservação e melhores dias pelas coisas lindas do seu campomaior: Serra, Cemitério, Açude Grande, etc.
    Volte mais vezes ao Piauí...Estamos sempre de braços abertos para recebê-lo.
    Um abraço Itamar

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    1. estimado Itamar:

      A sua menção às aves de arribação que viajam do Rio de Janeiro`´à Amarante transportando os calcários oriundos dos rstos mortais de Da Costa e Silva foi de um engenhosidade rara pela imagem que V. forjou para explicar a inútil recusa do embaixador Alberto em não permitir o traslado dos restos mortais do peta da "saudade".
      Fico feliz com o seu objetivo que me confidenciou pelo telefone e aqui aguardo notícias suas a este respeito.
      Sim, desejo voltar ao Piauí´ outras vezes. Não posso perder contato com a terra e os meus amigos daí, inclusive V.
      Um grande abraço do

      Cunha e Silva Filho.

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  3. Fico contente de que os comentários acima sejam de loas e confetes respeitosos e recíprocos, aos quais me associo, endossando-os e reforçando-os.

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