segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Fazenda Bocaina


Fazenda Bocaina

Reginaldo Miranda
Ex-Presidente da Academia Piauiense de Letras

O povoamento das cabeceiras do riacho Guaribas data de princípio do século XVIII, quando ali fincou a caiçara dos primeiros currais e apascentou seu rebanho, o coronel Antônio Borges Marim(1680 – 1749).

Oriundo de Portugal, o coronel Borges Marim era um respeitado militar que serviu no reino e, depois, nas tranqueiras de Saibana, em Baçaim, hoje Vasai-Virar, porto no extremo sul de uma ilha localizada a 50km de Bombaim, no noroeste da Índia, onde foi graduado ao posto de coronel de ordenanças em 23 de novembro de 1701. Nesse mesmo ano foi mandado para atuar nas vilas de Santo Antônio de Itabaiana, hoje em Sergipe, e Santo Amaro, na Bahia. Por volta de 1712, com cerca de 32 anos de idade viera em missão militar, para combater os indígenas do sudeste do Piauí e proteger os currais que se iam instalando pelos colonizadores lusitanos. Em 1714, segundo relata o padre e historiador Cláudio Melo, ele meteu de paz e aldeou no lugar Cajueiro os índios Jaicós. Os indígenas demoraram pouco tempo no aldeamento, logo mais se rebelando e entrando novamente na mata íngreme.

A sua fazenda se situava entre serras assemelhadas a uma boca, onde nasce uma das vertentes do referido riacho, por isso recebendo o nome de Bocaina. Foi nesta localidade que o aludido militar fixou residência, juntamente com sua esposa Maria de Sousa e parentes que o acompanhavam nas missões militares, sobretudo alguns sobrinhos, a exemplo de Félix Borges Leal. Este último, mais tarde se estabeleceria na vizinha fazenda Curralinho, da mesma ribeira e deixaria enorme descendência. Portanto, é esta a gênese de Bocaina, hoje cidade de mesmo nome.

Não sabemos ao certo quando faleceu o coronel Antônio Borges Marim, o velho colonizador, embora haja registros de que tenha sido no ano de 1749, já velho e doente. Foi ele casado com a senhora Maria de Sousa, que lhe sobreviveu. Um filho do casal, Antônio Borges Marim, o moço, nascido em 1746, continuaria a carreira militar do pai e desempenharia saliente papel na vida pública, tendo sido vereador de Oeiras por diversas vezes, a cujo termo pertencia a fazenda e membro de uma junta de governo do Piauí(1791).

Depois da morte do velho militar português, a viúva Maria de Sousa convolaria novas núpcias com Gonçalo Rodrigues de Brito, que sucederia o primeiro consorte de sua esposa na administração da fazenda. Uma relação de todos os possuidores de terras do Piauí, elaborada em 16 de novembro de 1762, pelo conselheiro Francisco Marcelino de Gouveia, esclarece esse situação: “Gonçalo Rodrigues de Brito, possue hua fazenda na mesma ribeyra(do Itaim, em que vão incluídas as de Guaribas e Riachão), chamada a Bocayna, com três legoas de comprimento e hua de largura, a qual possuía o coronel Antonio Borges Marim, por morte do qual pertenceo a sua mulher, que hoje é do atual possuidor”.

Segundo consta no Censo Descritivo do Piauí, finalizado em 6 de junho de 1765, naquele tempo residia na fazenda da Bocaina, a viúva Maria de Sousa com o segundo esposo Gonçalo Rodrigues e dois filhos seus, Antônio Borges Marim, o moço, e Anna Borges, acompanhados de quatro escravos, cinco escravas, a mulatinha forra Izabel e mais o casal Quitério Luciano e sua mulher Antônia de Sousa. É a população de então, na Bocaina.


Com essas notas fica esclarecido que existiram dois Antônio Borges Marim, pai e filho; que sua esposa casou-se duas vezes, e ao que parece deixou filhos de ambos os leitos; que o senhor de Bocaina, que aparece nos registros históricos ao tempo da capitania e dos primeiros governos, de que tomou parte, é o segundo de mesmo nome. E essas notas são publicadas para o resgate das origens mais remotas de um promissora comuna piauiense, a hoje cidade de Bocaina, na região de Picos.

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