Da esquerda para a direita (sentido horário): o Didi (D'di), capitão-mor Natim Freitas, imediato Carlos Eduardo, grumete Elmar, Fátima e a Didi |
Nova expedição à Barra do Longá
Elmar Carvalho
No sábado de carnaval, resolvi fazer
nova excursão fluvial ao povoado Barra do Longá, a bordo do agora super
Tremembé. O rio estava cheio, como há muito tempo não o via tão volumoso,
embora muito largo por causa do ininterrupto processo de assoreamento e
desbarrancamento. As matas ciliares, onde as havia, se mostravam em todo
esplendor, ornadas por sinuosos cipós e luxuriante e esmeraldina folhagem.
As coroas de areia, triste sintoma da
decadência do rio, haviam desaparecido, com exceção de uma ou outra. Até as
grandes pedras, a jusante da ponte do Jandira, estavam submersas, de modo que
não as vimos. As rochas a montante, que formavam uma corredeira, entre as quais
passamos em viagem anterior, também foram afogadas pelas caudalosas águas de
agora.
Como não as enxergávamos, temi algum
acidente. Mas o comandante Natim Freitas, coadjuvado pelo imediato Carlos
Eduardo Coutinho, foi perito e nada nos aconteceu, de modo que eu, escrivão-mor
do Tremembé, aqui estou para fazer este relato ou crônica expedicionária.
Mais uma vez, numa das curvas do
velho Rio Grande dos Tapuias, revi umas casas encarapitadas no alto de um
morro. Parecem pertencer a um mesmo grupo familiar. As enquadrei na mira de
minha máquina fotográfica à prova d’ água (pois há muitas ondas, por causa do
forte vento e da influência da maré, o que causa, às vezes, pequenas pororocas,
que nos molham), porquanto, além de escrivão, sou também o repórter fotográfico
da viagem.
Sem maiores incidentes, e muito menos
acidente, chegamos ao nosso destino, a barra do rio Longá, que passa por vários
municípios piauienses, entre os quais Alto Longá, onde nasce, Campo Maior,
Barras, Esperantina e Buriti dos Lopes, onde forma uma lagoa e desemboca no Velho
Monge. O povoado cresceu muito nos últimos anos. É ligado, desde muitos anos, à
sede do município por uma estrada de paralelepípedos. De longe, avistamos as
casas e a igrejinha, que compõem um cenário ainda bucólico.
Como o Tremembé é muito arisco, o
atracamos com muito cuidado no pequeno cais, e fomos até um pequeno bar onde
tomamos duas cervejas comemorativas. Havia alguns pacatos foliões no recinto.
Conversamos um pouco, tendo eles nos perguntado de onde vínhamos. Respondemos
que da Várzea do Simão. Alguns conheciam essa localidade e os seus antigos proprietários.
O bar e mercearia Comercial Ferreira
é uma espécie de sede e quartel general do Liberal Futebol Club. Fomos
informados de que ele é o terror da região, e que os times da cidade de Buriti
dos Lopes o temem. Vários de seus jogadores já integraram a seleção buritiense.
No local estavam expostos vários troféus e taças. Entre os presentes se
encontrava o goleiro Figueiredo, que foi, em seu tempo, o melhor golquíper da
região. Identifiquei-me como seu colega menor, mas que também tinha seus
méritos. O comércio pertence ao senhor Raimundo Ferreira, cartola e mecenas do
Liberal.
Encerrando nosso périplo turístico,
esportivo e cultural, tomamos revigorante e refrescante banho numa das coroas,
que ainda não se encontravam totalmente cobertas pelas águas. Fizemos o arremate
na Toca do Velho Monge e no Cantinho do Poeta, onde degustamos delicioso peixe.
O Tremembé mais uma vez foi bravo, e não deslustrou seus ancestrais homônimos.
Mestre, a volta do Tremembé, em ambiente tão luxuoso, descrito em crônica assaz gostosa, faz-me ver que o armador campomaiorense voltou com todo o gosto a se utilizar dos seus vastos conhecimentos náuticos para singrar as águas sagradas do majestoso Parnaíba, e em grande estilo. Isso sim é uma forma inteligente de brincar o carnaval.
ResponderExcluirAs fotografias também são de ótimo gosto e puro lirismo. Quão belo é o nosso Rio Grande dos Tapuias quando esbanja fartura em águas e esconde as suas indesejáveis "coroas"!
ResponderExcluirDe fato mestre Araújo, o nosso Parnaíba é um bravo rio. E se não fosse, já estaria totalmente liquidado, pelos malefícios que lhe fazem, e pelo que não lhe fazem os governos estadual e federal. Aliás, nenhuma obra é feita em seu favor, mas todas o prejudicam, porque lhe retiram água, porque lhe destroem as matas ciliares, as nascentes e os afluentes, e de quebra ainda o poluem. Por isso se encontra tão largo e tão raso, quando as chuvas param ou minguam.
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