segunda-feira, 1 de maio de 2017

A ESCRAVATURA NA VILLA DE SÃO JOÃO E OS TAMBORES DA PARNAHIBA


A ESCRAVATURA NA VILLA DE SÃO JOÃO E OS TAMBORES DA PARNAHIBA

Vicente de Paula Araújo Silva “Potência”   
Escritor e historiador

    Após a Instalação da Villa de São João da Parnahiba em 18/06/ 1762, João Paulo Diniz implantou a feitoria de salga de carne no lugar “Cítio dos Barcos” ,  onde existiu a primeira oficina sob o comando  do Capitão-Mor João Gomes do Rego Barros, na então Villa de Nossa Senhora do Monserrate da Parnahiba em 1711. A partir daí,  houve uma acentuada movimentação econômica na região tornando-se necessária a importação de mão de obra para os serviços nas lavouras ,  fazendas de gado e  oficinas de charque . Assim, chegaram levas e levas de  escravos principal mão de obra na época.  Dentre os empreendedores  salientaram-se, entre outros,  Domingos Dias da Silva, Manuel Antonio da Silva Henriques, Thomé Pereyra de Araújo, José Lopes da Cruz, Antonio Álvares Ferreira de Veras , Diogo Álvares Ferreira de Veras,  José Pereira Montaldo, Jacinto Botelho de Siqueira, Lourenço de Passos Pereira, Rosendo Lopes Castelo Branco, André Coelho Gonçalves e Manoel Ferreira Pinto de Azevedo, tendo todos eles participado do posicionamento para que a sede da Villa fosse o lugar “ Cítio dos Barcos” atualmente Porto das Barcas. E é exatamente lá na beira do rio Iguará  (Igaraçu) onde estão as principais marcas dos negros que por aqui passaram, vindos de muitos lugares, e dispersaram-se a partir da Balaiada no Maranhão e Piauí em 1839, quando já estava em declínio o poderio da família Dias da Silva após a morte de Simplício – filho de Domingos – e seu primo Manuel Antonio da Silva Henriques .

           No dia 13 de maio p.v., em todo o país a comunidade negra e os órgãos ligados a cultura brasileira celebrarão a data em que a princesa Izabel assinou a Lei Áurea, em 1888, extinguindo institucionalmente a escravatura no Brasil. Entretanto, até agora, não tomei conhecimento de algum evento que venha a comemorar  esse feito histórico em nossa cidade.  Nem mesmo os órgãos a quem de direito é exigível que o faça. Mas, na noite passada de 13 de maio de 2016 , lembrei-me dos tempos de criança , quando  todos os anos  na mesma data,  se ouvia ao longe o batuque dos tambores, ecoando a partir do Catanduvas , Igaraçu, Ilha Grande de Santa Isabel e Tabuleiro, ondem descendentes de negros  comemoravam  na  DANÇA DO CÔCO  a lembrança do fim do cativeiro ao qual os seus antepassados e também meus vivenciaram.  

 O “Gominha”, negro boêmio de saudosa memória , gostava de entoar uma velha cantiga, ainda, hoje repetida por Djalma Borges nas horas brahamais,   a qual , tem o  seguinte trecho :

                  “ Mamãe não quer casca de côco no terreiro
                  Que é pra não lembrar do tempo do cativeiro” ...


        Hoje, as manifestações folclóricas dos tempos da Villa de São João da Parnahiba são vistas nas apresentações dos grupos de macumba e capoeira, onde estão  presentes  e  latentes   as marcas do passado no requebro dançante dos seus figurantes sob a batida forte de batuqueiros dos TAMBORES DA PARNAÍBA.   Phb, 14/05/2012 – Vic

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