A ESCRAVATURA NA VILLA DE SÃO
JOÃO E OS TAMBORES DA PARNAHIBA
Vicente de Paula Araújo Silva “Potência”
Escritor e historiador
Após a Instalação da Villa de São João da
Parnahiba em 18/06/ 1762, João Paulo Diniz implantou a feitoria de salga de
carne no lugar “Cítio dos Barcos” , onde
existiu a primeira oficina sob o comando
do Capitão-Mor João Gomes do Rego Barros, na então Villa de Nossa Senhora
do Monserrate da Parnahiba em 1711. A partir daí, houve uma acentuada movimentação econômica na
região tornando-se necessária a importação de mão de obra para os serviços nas
lavouras , fazendas de gado e oficinas de charque . Assim, chegaram levas e
levas de escravos principal mão de obra
na época. Dentre os empreendedores salientaram-se, entre outros, Domingos Dias da Silva, Manuel Antonio da
Silva Henriques, Thomé Pereyra de Araújo, José Lopes da Cruz, Antonio Álvares
Ferreira de Veras , Diogo Álvares Ferreira de Veras, José Pereira Montaldo, Jacinto Botelho de
Siqueira, Lourenço de Passos Pereira, Rosendo Lopes Castelo Branco, André
Coelho Gonçalves e Manoel Ferreira Pinto de Azevedo, tendo todos eles
participado do posicionamento para que a sede da Villa fosse o lugar “ Cítio
dos Barcos” atualmente Porto das Barcas. E é exatamente lá na beira do rio
Iguará (Igaraçu) onde estão as
principais marcas dos negros que por aqui passaram, vindos de muitos lugares, e
dispersaram-se a partir da Balaiada no Maranhão e Piauí em 1839, quando já
estava em declínio o poderio da família Dias da Silva após a morte de Simplício
– filho de Domingos – e seu primo Manuel Antonio da Silva Henriques .
No dia 13 de maio p.v., em
todo o país a comunidade negra e os órgãos ligados a cultura brasileira
celebrarão a data em que a princesa Izabel assinou a Lei Áurea, em 1888,
extinguindo institucionalmente a escravatura no Brasil. Entretanto, até agora,
não tomei conhecimento de algum evento que venha a comemorar esse feito histórico em nossa cidade. Nem mesmo os órgãos a quem de direito é
exigível que o faça. Mas, na noite passada de 13 de maio de 2016 , lembrei-me
dos tempos de criança , quando todos os
anos na mesma data, se ouvia ao longe o batuque dos tambores,
ecoando a partir do Catanduvas , Igaraçu, Ilha Grande de Santa Isabel e
Tabuleiro, ondem descendentes de negros
comemoravam na DANÇA DO CÔCO
a lembrança do fim do cativeiro ao qual os seus antepassados e também
meus vivenciaram.
O “Gominha”, negro boêmio de saudosa memória , gostava de entoar uma velha cantiga,
ainda, hoje repetida por Djalma Borges nas horas brahamais, a qual , tem o seguinte trecho :
“
Mamãe não quer casca de côco no terreiro
Que é pra não lembrar do tempo do cativeiro” ...
Hoje, as manifestações folclóricas dos
tempos da Villa de São João da Parnahiba são vistas nas apresentações dos
grupos de macumba e capoeira, onde estão
presentes e latentes
as marcas do passado no requebro dançante dos seus figurantes sob a
batida forte de batuqueiros dos TAMBORES DA PARNAÍBA. Phb, 14/05/2012 – Vic
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