terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O NATAL E O TRÊS

Fonte: Google

O  NATAL  E  O  TRÊS

José Miranda Filho
Escritor e compositor

O asterismo Três Marias não deixa por menos a concorrência com a Estrela Guia, ou Estrela do Oriente, e direciona seu brilho para minúsculo ponto perdido na Via Láctea – o hemisfério sul do planeta Terra –, nesta noite sobremaneira especial.   Seus feixes de prata alcançam, cá embaixo, três legionários do exército angelical, que, com sons jubilosos, participam a venturosa notícia relacionada ao cumprimento da milenar promessa sobre a encarnação do Verbo – o início da boa-nova para a salvação da humanidade –, clamando

“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade, por Ele amados!”

à mente e ao coração de três pastores atarefados no pastoreio de seus rebanhos.   Eles, cheios de regozijo e curiosidade, rumam para uma manjedoura – estábulo, estrebaria, curral, em vocábulos mais brasileiros.

Em seguida, apresentam-se três homens de raro traje para aquela região tão simples, próprias vestes reais.   Estes conduzem, cada um, três elementos:  ouro, incenso e  mirra, dádivas que depositam na palha, aos pés do pequenino.   Os três significam, na seguinte ordem, realeza, fé e oração, embalsamento. 

Três plácidos animais completam a cena singela e mística – jumento, boi e ovelha.

No entanto, três pessoas constituem-se no centro deste presépio vivo – a Sagrada Família.  Sob a amorosa proteção dos pais – José e Maria –, dorme aquele que acabou de nascer – Jesus –, a segunda dentre as Três Pessoas, as quais, envoltas em indevassável mistério, compõem a Trindade Santíssima – o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

                                                          *   *   *

Eis que, repentinamente, retornou do seu abismo interior, o olhar fixo no infinito espaço, depois de criar imagens de menino gerado e que se educava no seio da cristandade.  Despertou, então, do encantamento em que se achava fazia hora, ao escutar a última das três badaladas esfuziantes da torre da matriz, conclamando os fiéis para a Missa do Galo.

Já se havia asseado de modo conveniente, desde a noitinha. Mesmo assim, ergueu-se e lavou o rosto para afugentar o sono insistente.  Meteu-se em roupa e sapatos novos, que lhe foram presenteados com antecedência, para uma noite muito especial, na qual é dado presente divino, incomensuravelmente maior que todos.  E saiu sozinho, ainda ouvindo, na calçada, o que exprimiu seu pai dentro de casa:

           — Ele tá um rapazinho mesmo!

Isso era quase meia-noite – Natal de muito tempo atrás.

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