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As Minhas Copas do Mundo de
Futebol (2)
José Pedro Araújo
Romancista, contista e historiador
Na Copa de 1978 eu já estava de
volta ao Maranhão depois de concluir o curso de Engenharia Agronômica. Pela
primeira vez desconfiou-se que a FIFA era influenciável, manipulável. Até hoje
se acredita que aquela foi a copa dos generais argentinos.
Trabalhando na EMATER, na pequena
cidade de Lago Verde-MA, estava mais uma vez obrigado a ouvir as transmissões
pelo rádio, pois a cidade, entre outras coisas, não nos oferecia a
possibilidade de sentar de frente a uma tevê e apreciar alguma imagem nela
refletida. Teimei contra isso e viajei para Bacabal na véspera do primeiro jogo
contra a Suécia. Teimei e me dei mal. Tentei assistir a partida na televisão do
hotel em que costumava me hospedar quando ia àquela cidade, mas a imagem era
tão ruim que somente de tempos em tempos víamos a bola rolar no gramado. E
mesmo assim, ainda precisávamos contar com a ajuda de um rádio, uma vez que o
som também se restringia a um chiado horroroso.
Começamos aquela Copa com um
empate melancólico em zero a zero. Contra a Espanha, na partida seguinte, outro
empate sem gols. Era desestimulante. Fiquei em Lago Verde no dia da segunda
partida por dever de ofício. Meu
Motorádio foi a minha escapatória. Já
para a terceira partida, havia ouvido dizer que no entroncamento rodoviário
para Lago da Pedra havia um restaurante cujo proprietário tinha instalado uma
antena muito alta em uma sucessão de varas de madeira. Afirmavam que lá no alto
a antena conseguia captar uma imagem quase perfeita. Fui conferir. Não era tão
perto assim, mas se valia a pena não poderia perder a oportunidade.
Chegamos ao local animados, mas
qual não foi a nossa decepção: o padrão era o mesmo que vi na TV em Bacabal.
Retornei chateado e, como se diz por aqui, por cima do rastro, e só fui saber
que o Brasil havia ganhado pelo magro placar de 1x0 da Áustria ao chegar de
volta a Lago Verde. Estávamos classificados para a segunda fase, contudo. E
isso era o que contava.
Véspera do jogo contra o Peru, na
segunda fase, fui convocado pelo Coordenador da empresa, em Bacabal, para uma
reunião. Aproveitei o ensejo para solicitar uma folga durante o restante da
semana. Ansiava ir a São Luís. Acompanhando o meu amigo João Carlos, conhecido
desde os tempos da UFRPE, viajei em seu Fusca cor de abacate, com direito ainda
a hospedagem na casa de seus pais que residiam no bairro São Francisco. Vi o
jogo em uma TV colorida de 20 polegadas. O máximo. E o Brasil jogou
esplendidamente bem, ganhando do Peru por 3x0. E ainda ficamos na cidade até
domingo para vermos a partida do esquadrão nacional contra a Argentina.
A seleção jogou muito bem e
esteve perto de marcar, dominando os nossos adversários apesar de jogarem em
casa. O empate em 0x0 não fez justiça ao melhor time em campo. Mas, enfim,
restava torcer para vencermos bem a Polônia e fazermos um bom saldo de gols.
Ganhamos bem, pelo placar de 3x1, e somamos um saldo de 5 gols. Mas a Argentina
não poderia ganhar do Peru por um placar maior que três gols de diferença para
passarmos para a fase seguinte. E achávamos que seria muito difícil que eles
batessem o time peruano por um placar tão elástico que nos tirasse da decisão
da copa.
Mas, o que vimos em campo foi uma
seleção peruana entregue, batida em campo desde o primeiro tempo, o que nos
levou a ponderar que eles haviam facilitado o jogo para os argentinos. Perderam
por 6x0 e até hoje dizem que eles, de fato, entregaram o jogo, pressionados que
foram pelos generais de plantão, e pela própria FIFA. Fomos disputar o terceiro lugar e os
argentinos seguiram para decidir com os holandeses.
Vencemos a Itália pelo placar de
2x1, enquanto o carrossel holandês foi batido pela Argentina pelo placar de
3x1, em um jogo em que os holandeses estiveram perto de ganhar o jogo. Mas
surgiu o herói de plantão, o cabeludo Mário Kempes, da Argentina, que estava em
dia inspiradíssimo e mudou o resultado do jogo. Assisti aos dois jogos da
final que definiria os classificados do
primeiro ao quarto lugar em Bacabal, para onde retornei após a eliminação do
Brasil da disputa do primeiro lugar. Assisti é o modo de dizer, pois voltei
para a TV quase sem imagem assessorada por um rádio de pilhas. Mas, não fazia
mal: já havia perdido o interesse pela copa do mundo na Argentina com a
eliminação do Brasil de forma tão dolorida. Saímos da copa sem perder uma
partida sequer, e com o sentimento de que merecíamos, pelo menos, disputar com
a Holanda a final do certame.
Em 1982 já estava residindo
novamente em Teresina, e também já estava casado. Assistia aos jogos na minha
própria casa, junto com a minha mulher e com alguns amigos. A copa foi jogada
novamente na Europa, na Espanha, mais precisamente. E enviamos uma seleção de
altíssimo nível e, em contra partida, ficamos aqui com uma enorme esperança de
trazer de lá o caneco que não ganhávamos desde a copa de 70. Zico, Falcão,
Sócrates, Cerezo, e companhia, compunham uma seleção de respeito que, comandada
por Telê Santana, encantou o mundo com um futebol de altíssimo nível.
O Brasil, como não se via desde a
copa de 70, vestiu-se inteiro de verde-amarelo para torcer pelos nossos craques
na Espanha. E eles já haviam nos mostrado que podíamos confiar, desde quando
jogamos as eliminatórias e ganhamos os quatro jogos da nossa chave (naquele
tempo as seleções sul-americanas eram dividias em quatro grupos,
classificando-se as primeiras colocadas de cada um).
Comprei a minha primeira TV em
cores (uma Toshiba de 10 polegadas) para assistir aos jogos. Era pequena, não
posso negar, sobretudo para os padrões de hoje. Mas era uma satisfação para mim
possuir a minha primeira tevê em cores. Juntava um grupo de amigos, como já
disse, e entornávamos todas as geladas que aparecessem em incontida
alegria. Apesar do aparelho de TV ser
diminuto, a qualidade da imagem era perfeita, isso era o que bastava depois de
passar pelas copas anteriores em que ouvia pelo rádio ou assistia em TV’s de
outras pessoas. E com imagem péssima, na maioria das vezes, como já afirmei.
Fomos muitos bem na primeira fase, apesar do susto contra a Rússia na primeira
partida, e passamos para a fase seguinte em primeiro do grupo. E tome festa! E
tome cerveja!
Até o jogo contra a Argentina(que
vencemos por 3x1), já na segunda fase, íamos esplendidamente bem. Era a copa
dos meus sonhos. A primeira que assistia com todo o conforto e como anfitrião
de um grupo de amigos. Preparamo-nos como nunca para o jogo com a Itália no
funesto Estádio Sarriá, em Barcelona. E aconteceu o que todos sabem: uma
derrota inexplicável e muito dolorida. O Brasil jogava contra a Itália, seleção
que vinha mal das pernas e havia se classificado a duras penas na primeira
fase, após empatar seus três jogos pelo placar de zero a zero. A Itália também era
um adversário que vínhamos batendo sistematicamente nas copas anteriores. Mas
naquele dia tinha alguém em campo, inspiradíssimos, e que trazia consigo toda a
sorte do mundo: o franzino atacante Paolo Rossi. No jogo em que perdemos por
3x2, e que custou a nossa eliminação da final, o centroavante italiano fez o
seu hat-trick, assinalou três gols. Os três primeiros gols da Itália naquela
Copa.
A partida entrou para a história
como “A Tragédia de Sarriá”. O Brasil voltou para casa com a sensação de que
algo anormal havia acontecido em campo naquele dia. E eu tomei um porre
homérico e fui dormir sem me despedir das visitas. A minha primeira Copa do
Mundo em casa, junto à minha mulher e com um numeroso grupo de amigos, terminou
com o Brasil em quinto lugar, e uma enorme sensação de que o futebol arte havia
sido suplantado pelo jogo prático, dedicado, mas sem brilho. A Itália, a partir
daí, ganharia todos os seus jogos e se sagraria campeã do mundo com uma vitória
por 3x1 sobre a Alemanha.
Pobre de mim, não sabia o que me
reserva o futuro! Um jogo miserável contra uma certa Alemanha!
Quase direi como o Juca Kfury no seu livro de memórias: confesso que perdi. Até parece que aqueles fatídicos 6x1 que tomamos da Alemanha suplantou a tudo o que conquistamos até hoje! Mas, esse assunto vai ser tratado em outra parte das minhas copas.
ResponderExcluirFoi um verdadeiro "terrorismo" ou massacre, o que a Seleção Alemã fez contra a apática e apagada Brasileira de então. Aguardemos a revanche.
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