Dr. Nelson Nery Costa e os 100
anos da APL
Especial 100 anos da Academia Piauiense de
Letras
Uma das mais antigas instituições
de cultura do país faz 100 anos. Fundada em 1917, por uma ativa geração de escritores, a Academia Piauiense de Letras chega ao seu
centenário com muito a comemorar, com destaque para a Coleção Centenário,
conjunto de 135 livros, com possibilidades de expansão de títulos, organizada
em torno de obras piauienses de história, geografia, sociologia e,
principalmente, literárias no sentido específico do termo. A maioria dos livros
compõe-se de obras de domínio público já sem edição na atualidade; muitas,
embora de relevância para se entender o Estado, sequer eram conhecidas das
gerações de hoje.
À frente da Casa de Lucídio
Freitas, o escritor, professor universitário e operador do direito Dr. Nelson
Nery Costa, que promoveu uma revolução na instituição (a história e o tempo
cuidarão de registrar isso) e que foi recentemente reeleito para gerir os
destinos da entidade por mais dois anos, fala sobre os projetos, obstáculos e
desafios da instituição, renovando as esperanças em uma literatura que, de olho
no sagrado papel de preservar a memória, renova-se. Leia entrevista do
presidente da APL, Dr. Nelson Nery Costa, a Entretextos, por meio da Assessoria
de Comunicação da presidência do sodalício.
(ASCOM APL) -- Nos dois anos de
mandato, qual dos projetos o senhor destaca como primordial?
Ninguém representa a si próprio,
mas a seu grupo social ou a sua geração, assim nada mais sou do que a expressão
dos escritores que hoje compõem a Academia Piauiense de Letras. Tive a oportunidade de ingressar na instituição
relativamente cedo, com pouco mais de quarenta anos e agora como seu
presidente, inicialmente por dois mandatos.
Excepcionalmente, em razão das festividades do Centenário, em 30 de
dezembro de 2017, que já começaram e vão se desenvolver no próximo ano, fui
eleito para mais um mandato, o terceiro.
Nos próximos dois anos, então, vamos desenvolver várias atividades, em
2018, tanto pelo Centenário da Academia, como pelo Centenário da Revista da
Academia Piauiense de Letras, com o primeiro número lançado em 1918, uma das
mais longevas do país, publicada até hoje.
Em 2019, fazem trinta anos da doação da sede da Academia, também motivo
para mais celebração. Talvez, nos
próximos dois anos, minha missão principal seja auxiliar no desenvolvimento da
cultura local.
(ASCOM APL) -- Da Coleção Centenário,
quantas edições faltam ser publicadas?
A Coleção Centenário tem vida
própria e está traçando seus próprios caminhos.
Iniciou sem uma fixação de número, ainda na gestão do Reginaldo Miranda,
mas alusiva ao Centenário da Academia Piauiense de Letras. Depois, foi planejada por mim a edição de cem
números, divididos em duas partes. A
primeira, com 51 obras, já foi completado; da segunda, foram lançados 30, com 8
prontos mas não lançados e 24 em produção.
Porém, atualmente, planejo chegar até o número 140, mas foram lançados o
nº 101, Zodíaco, de Da Costa e Silva, bem como o nº 132, Argila da Memória, do
Clóvis Moura, pois não dá para seguir a ordem numérica, vez que os livros têm
tempos diversos de produção.
(ASCOM APL) -- Como foram
selecionadas as obras da Coleção Centenário, quais critérios adotados?
Acredito que no início a coleção
não tivesse bem um caráter, assemelhado talvez a outra importante coleção, que
foi os Grandes Textos, com noves exemplares, três dos quais foram também
reciclados para Coleção Centenário. No entanto, eu vejo que desde o começo
passou a ter um padrão, de expor as tessituras da literatura e da pesquisa
feitas no Piauí ou sobre o Piauí, como um grande caleidoscópio cultural. Assim, em torno dos escritores da própria
Academia Piauiense de Letras, mas não só eles, inclusive outros bens
anteriores, como Leonardo Castelo Branco e Padre Antônio Vieira, que não
tiveram nada com a instituição. Foram
selecionadas as formas literárias, como poesia, contos, romances e crônicas, e
as obras técnicas de história, de geografia, de sociologia ou de economia, do
século XVII ao século XXI. Os autores
mais significantes tiveram mais de uma obra, como Higino Cunha, Clodoaldo
Freitas e outros. Em alguns casos,
aglutinou-se dois livros, como na obra de Renato Castelo Branco, que tem seu
romance Teodoro Bicanca junto com o clássico da sociologia local A Civilização
do Couro.
(ASCOM APL) -- À frente da APL,
qual foi o seu grande desafio?
O financeiro, sem dúvida, pois a
Academia Piauiense de Letras vive em meio a muita penúria e é surpreendente que
tenha sobrevido cem anos, pois do ponto de vista econômico já devia ter
perecido há muito tempo, como ocorreu com inúmeras outras instituições
semelhantes. A força interior da
instituição, sim, mostra-se muito poderosa e capaz de resistir a tudo, seja
pela perseverança, seja pela energia positiva que dela emana. Desse modo, tal deve ser meu principal
desafio para que ela possa ter recursos e mostrar toda sua pujança com a
publicação de obras, com a realização de evento e com a produção dos acadêmicos
nos principais jornais e revistas do Piauí.
Com a boa vontade do Governo do Estado e da Prefeitura de Teresina, foi
possível a Academia continuar a realizar seus propósitos, auxiliada ainda pela
Universidade Federal do Piauí, pela Gráfica do Senado Federal e pelos recursos
do Siec, além da boa vontade de muita gente.
(ASCOM APL) -- O que tinha
planejado fazer e não houve tempo hábil?
Faltou ligar a Academia Piauiense
de Letras ao século XXI e isto só vai ser possível quando melhorar muito seu
site www.academiapiauiensedeletras.org.br e quando interagir mais nas redes
sociais. Por hora, por mais relevante
que seja na vida social piauiense, a instituição está muito distante das novas
gerações, dos secundaristas e dos universitários, assim como das pessoas mais
pobres e dos que vivem fora de Teresina.
Não foi por falta de tempo, não, foi por pura incompetência, que nem eu,
nem os outros acadêmicos que tentaram me ajudar, avançamos na questão na
linguagem e da tecnologia. Espero,
agora, com muita coisa andando sozinha, ter mais tempo para me dedicar ao
aperfeiçoamento do site, que possamos oferecer alguns livros digitalizados em
pdf para acesso ao grande público, como o nome provisório de “Livros na Rede”,
alguns da Coleção Centenário, em 2018.
Por outro lado, acho necessário que a Academia participe de outras
mídias, como facebook, instagram, youtube e outros meios. Ah, apesar de não ser da responsabilidade
financeira da Academia, também não houve a premiação de cem mil reais do Enéas
Barros, no Concurso H. Dobal, mas vamos tentar resolver o problema, em 2018.
(ASCOM APL) -- Qual a sua meta
para o biênio 2018/2019?
A Academia Piauiense de Letras
vai ter o incremento de despesas com o funcionamento do Museu da Cultural
Literária Piauiense e com as festividades previstas para os próximos dois anos,
de modo que talvez meu maior objetivo seja dar sustentabilidade financeira para
a instituição. Tentei muito e consegui
bons recursos, com base na imagem da Academia, nos meus relacionamentos
pessoais e também com a boa vontade de muita gente das secretarias estaduais e
municipais e da Fundação Monsenhor Chaves, enfim, dos simples servidores
públicos aos principais gestores. Sinto,
porém, que não foi o bastante. É preciso
que tais recursos sejam permanentes e também que a instituição possa sobreviver
bem depois de concluído meu terceiro mandato, hora então de ir embora, mas
gostaria de deixar a casa arrumada para o próximo Presidente da Academia. Junto com o Prof. Fonseca Neto, Presidente do
Instituto Histórico e Geográfico Piauiense, pretende a Academia assumir a
gestão do prédio público estadual onde funcionou o Tribunal de Contas e depois
o fórum de Teresina, para transformá-lo em centro um cultural, tudo com base na
revitalização da área histórica da Capital.
(ASCOM APL) -- Quais projetos
pretende desenvolver?
Acima de tudo, a realização das
festividades alusivas ao Centenário da Academia Piauiense de Letras, com uma
longa programação em andamento, como a inauguração do Museu da Cultura
Literária Piauiense e da reforma de sua sede, na Av. Miguel Rosa, sul, no
começo do próximo ano, e a solenidade do Centenário, no dia 24 de janeiro, data
da instalação da Academia, antigo Dia do Piauí. Vai ser a reunião mais
relevante, inclusive com a entrega da Medalha do Centenário, em amplo
auditório. No primeiro semestre do próximo ano, continua-se a lançar obras da
Coleção Centenário e da Coleção Século XXI.
Deve ocorrer o lançamento também de série especial chamada Coleção
100 ANOS, inclusive com a obra do Des. Nildomar Silveira, O Livro do Centenário
da Academia Piauiense de Letras, e outras reedições, como Antologia da Academia
Piauiense de Letras, de Wilson Gonçalves, Os Fundadores, e, inéditos, História da APL, de Celso Barros, e, História
Piauiense: aventura, sonho e cultura, de minha autoria, com quase mil páginas,
em 17 de março de 2018. Dra. Fides
Angélica Ommati está me ajudando a organizar o Seminário Piauí 2100, que tem a
intenção de refletir sobre o Piauí e de como estará o mesmo no final do século
XXI, em termos de desenvolvimento econômico e social, de sustentabilidade, de
temperatura, e de cultura, que deve contar com palestra de encerramento do Min.
João Paulo dos Reis Veloso. Pretendemos
promover concurso literário para o ensino médio e também para o ensino
universitário, em poesia, conto e crônica, com premiação até setembro do
próximo ano, com recursos já assegurados. Em 2018, ocorrerá também o Centenário
da Revista da Academia Piauiense de Letras, com dois números previstos para o
próximo ano.
(ASCOM APL) -- O orçamento da
cultura é baixo, como o senhor sabe por já ter presidido o Conselho Municipal
de Cultura. Qual o orçamento disponível
da APL?
A Academia Piauiense de Letras
tem recursos próprios da venda dos livros por ela editados e também do aluguel
de imóvel na rua Álvaro Mendes, o que não é muito mas ajuda no seu
custeio. Parte do seu pessoal vem de
órgãos públicos, como cedidos, e outros contratados. A instituição também tem projetos junto a
Secretaria de Estado do Governo, com o Dep. Merlong Solano, junto a Fundação
Monsenhor Chaves, com o Dr. Luís Carlos, e junto ao Siec, sob a liderança do
Dep. Fábio Novo, além de tentar captar com a Lei Roaunet e também junto a Fundação
Roberto Marinho. Ou seja, prevê-se muitos projetos, de negociações e de
captações. Tivemos muito auxílio do
Grupo Claudino, mas hoje nossa parceira é com as Drogarias Globo. Não é fácil
conseguir recursos para a cultura, mas não é impossível, pois existem muitas
fontes.
(ASCOM APL) -- No momento, há
algumas vaga a ser preenchida?
Sim, a Cadeira nº 24 está vaga,
tendo a mesma por patrono Jonas de Moraes Correia, da qual Paulo de Tarso Mello
e Freitas era o quarto ocupante, tendo falecido no começo de 2017. Para o preenchimento da referida cadeira,
precisa-se de maioria absoluta, com vinte votos, dos trinta e nove com
validade, o que não foi preenchido no último edital, mesmo em dois turnos, em
que um candidato conseguiu muitos votos, mas não o suficiente para seu
sucesso. Assim, vai ser lançado novo
edital, tão logo a nova Diretoria tome posse e que acabe o recesso do mês de
janeiro de 2018; provavelmente em fevereiro próximo haja a abertura da
concorrência para a Cadeira nº 24.
Espero não ter nenhuma mais até o final da gestão, pois além de dar
muito trabalho é sempre triste ver a partida de um confrade. Apesar disto, vou contar uma anedota
atribuída ao Prof. Manoel Paulo Nunes, nosso grande líder ainda hoje, em que um
escritor veio lhe pedir o voto para uma vaga aberta ainda inexistente, pois
ninguém tinha falecido, ao que ele respondeu – “voto, desde que não seja na
minha vaga”.
(ASCOM APL) -- Como está o
processo de criação do Museu da Escrita?
Bem, a ideia mudou bastante, pois
como disse antes, estamos preparando a
inauguração agora em janeiro do Museu da Cultura Literária Piauiense, mas com
uma área sobre a escrita, inclusive com acervo que eu devo doar para o
mesmo. Teve-se que arquivar,
provisoriamente, o Museu da Cultura Piauiense, no antigo Meduna e hoje em um
shopping. Era previsto material interativo sobre a cultura local em todos os
seus aspectos, desde a literatura, a música, a dança, o teatro, as artes
visuais, o folclore e a arte popular. A ideia continua de pé e pretende-se
realizá-lo ainda, em parceria com o Prefeito Firmino Filho e com o apoio do
Prof. Charles Camilo. Também está no
radar, como já comentado, junto com o Instituto Histórico e Geográfico
Piauiense, de promover um centro cultural na antiga sede do Tribunal de Contas
do Estado, próximo do Palácio de Karnak.
As ideias são muitas, talvez falte dinheiro e tempo, mas como disse o
Max Weber, “só se consegue o possível, sonhando com o impossível”.
Fonte: Portal Entretextos
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