quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

As minhas Copas do Mundo de Futebol (3)

Fonte: Google


As minhas Copas do Mundo de Futebol (3)

José Pedro Araújo
Romancista, cronista e historiador

A Copa do Mundo de 1986 deveria ter sido realizada na Colômbia. No entanto, as dificuldades econômicas sofridas pelo país à época, somada às exigências das marcas comerciais aliada às da própria FIFA que solicitava, além de grandes estádios, inúmeras regalias para os dirigentes da entidade, levaram o país sul-americano a renunciar à escolha da sede. Assim, houve uma disputa entre México, Estados Unidos e Canadá para definir o novo anfitrião do Mundial. Como o torneio havia sido realizado dezesseis anos antes no país latino com enorme sucesso, os mexicanos venceram de maneira unânime o pleito realizado em 1983, tornando-se os primeiros a abrigar duas Copas diferentes.

Nessa copa do mundo já estava residindo na minha própria casa, onde moro até hoje, e me preparei para ela comprando uma televisão maior que a da copa anterior, de 20 polegadas, o maior tamanho encontrado no mercado naqueles distantes tempos. Era uma Sharp com controle remoto, e com uma imagem de tirar o fôlego. E o melhor: além da mulher, tinha agora três filhos para animar a festa. Mas, apesar disso, e do mundial ser disputado no México, país em que ganhamos a nossa última copa, não estávamos tão confiantes assim, pois a seleção brasileira havia se classificado sem brilho nas eliminatórias, enquanto a Argentina havia passado voando baixo pelo seu grupo. E ainda contava com Maradona, o melhor do mundo na época. Aquela copa haveria de ser deles, por tudo que o Pibe fez. Apesar de contarmos com alguns craques da copa anterior, o time estava muito mudado, e já não apresentava a mesma qualidade da anterior.

Até que fomos bem na primeira fase: vencemos as três partidas jogadas. Sem muito brilho, é bem verdade, mas mesmo assim, vencemos. 1x0 na Espanha, 1x0 na Argélia e 3x0 na Irlanda do Norte. Parecia que melhorávamos jogo após jogo. Fui me empolgando, e os preparativos para os jogos foram melhorando também em minha casa: bandeiras, camisas, a música que antecedia aos jogos, e um grupo de amigos que aumentava jogo a jogo. O campeonato agora tinha uma nova distribuição de fases. Assim, passamos para as oitavas de final em jogo eliminatório, quem perdesse voltava para casa, como acontece hoje em dia. Ganhamos de forma incontestável da Polônia por 4x0, classificando-nos para a fase seguinte, as quartas-de-final. E isso nos animou bastante. Fomos para o jogo contra a França de Michel Platini com a maior confiança possível. A seleção estava engrenando dentro do torneio, crescendo jogo a jogo, e a adversária, apesar de não ser uma carne-frita, não era uma ganhadora de copas.

Foi um jogo nervoso e que terminou empatado em 1x1. E como era eliminatório, fomos para os pênaltis e, para grande desgosto, eliminados. Voltamos mais cedo para casa mais uma vez. As festas acabaram aqui em casa. Os amigos não apareceram mais para ver os jogos solidariamente. E ainda vimos os nossos piores adversários, a Argentina de Maradona, ganharem a copa com uma vitória sobre a Alemanha. Decepção total!

A Copa do Mundo de 1990 foi disputada na Itália, e não estávamos tão confiantes com o time que mandamos para lá, a começar pelo treinador, um tal Sebastião Lazaroni. Apesar de tudo, em casa preparamos tudo mais uma vez para festejarmos o evento com o maior carinho. A nossa TV ainda era a mesma que fora adquirida para a copa anterior, pois não havia necessidade de uma nova. A chamada seleção do Dunga não nos empolgou na primeira fase, apesar de termos ganho todas as três partidas. O placar apertado nos jogos sobre adversários fracos, ia nos preparando o espírito para o pior. E isso aconteceu da pior forma possível: contra o nosso adversário mais intragável, a Argentina. Até jogamos melhor, mas perdemos o jogo por 1x0. A copa do mundo passou a ter a qualidade de uma festinha do tipo tertúlia, com o mesmo sabor de quando temos que dançar com uma irmã.

E enquanto para nós transcorria tudo na maior desanimação, íamos vendo a Argentina de Maradona crescer dentro da competição, ultrapassando adversários poderosos até chegar a final contra a Alemanha. Para nós, aquela copa ia ficando cada vez mais intragável, sem graça. Preparamos uma festinha chocha, sem muito emoção, para vermos a final, todos torcendo contra a nossa vizinha de América do Sul. Menos mal que a Alemanha venceu e nos deu um pouco de alento ao bater a Argentina na final. Ficou aquele gostinho aético de nos alegrarmos com a derrota dos outros. Mas gostamos do resultado mesmo assim.

Em fim, chegamos à Copa do Mundo de 1994 a ser disputada nos EUA, país sem nenhuma tradição no futebol. Filhos já crescidos, foram eles que conduziram a animação, pois eu mesmo não comecei muito empolgado aquela copa. E para demonstrar isso, basta dizer que fiz reserva de hotel em São Luís para passar alguns dias de férias com a família exatamente no período coincidente com as semifinais do torneio. Não acreditava que o Brasil chegasse até lá. Mas, mesmo assim, comprei uma televisão nova de 29 polegadas, tela plana. Queria me utilizar das novidades que teríamos nas transmissões, situação propagandeada pela Globo diariamente.

Passamos bem pela primeira fase, com vitórias sobre a Rússia, Camarões, e empate com a Suécia. Apesar de tudo, o Brasil jogava um futebol de pouco brilho, levado pela genialidade de um certo baixinho letal, Romário, coadjuvado por outro azougue, Bebeto. Passamos para as oitavas-de-final com certo louvor, em primeiro lugar do grupo. Encaramos os donos da casa, os Estados Unidos, e passamos com um apertado 1x0. Enquanto isso, os Argentinos foram eliminados pela Romênia: dupla vitória nossa.

Nas quartas-de-final enfrentamos um adversário que se tornaria frequente em copas do mundo: a Holanda. Dessa vez vencemos por 3x2. Estava começando a me animar com aquela copa do mundo, e a torcida só crescia em casa. A decoração para as festas também.  Mas, como já afirmei, tive que assistir às partidas semifinais em um apartamento de hotel em São Luís do Maranhão. Assisti aos jogos dessa fase sem festa e quase sozinho, pois os meninos preferiam aproveitar a piscina do hotel. Passamos outra vez pela Suécia em jogo muito difícil, adversário da primeira fase com quem havíamos empatado em 1x1. Ganhamos o jogo com um gol de Romário. Sempre ele.

Animei-me para assistir à final em um lugar mais alegre e festivo, e viajei para o meu torrão natal, Presidente Dutra, a convite do meu irmão que praticamente inaugurava a sua casa nova. Lá a festa estava armada. Na área da piscina estava toda a família, além de alguns amigos queridos. Se a churrasqueira não parava de funcionar, o freezer não fazia feio também e vomitava cervejas estupidamente geladas. Quanto à partida contra a Itália, já faz parte da história: empatamos no tempo normal e na prorrogação, e fomos ajudados pelo craque deles, Roberto Baggio, que chutou o último pênalti para fora. Foi de Baggio o mote para o “gran finale”: fomos todos comemorar dentro da piscina. Como coube tanta gente, não sei explicar. Foi a única partida de Copa do Mundo que assisti pela TV na minha terra natal até hoje. E foi inesquecível a comemoração do Tetra Campeonato buscado pelo Brasil desde aquela festa monumental no México, 24 anos passados.  

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