quarta-feira, 23 de maio de 2018

AUSÊNCIA DE UM POETA

Fonte: Google


AUSÊNCIA DE UM POETA

Valério Chaves
Des. inativo TJPI

            Foi com tristeza que recebi a notícia da morte do amigo, acadêmico, intelectual, poeta, jornalista, radialista, político, redator e editor dos principais veículos de comunicação do Piauí, Herculano Moraes, ocorrida em Teresina , dia 17 de maio.

            Trata-se de um amigo de convivência profissional durante longo tempo, a partir dos anos 60, militando no rádio em Teresina e em quase todos os veículos de comunicação do Piauí. Um pesquisador e divulgador da literatura piauiense, enfim, um amigo que foi embora sem avisar a hora levando consigo um pouco da gente.

            Mas a vida nos é dada por comodato estabelecendo condições de vigência. A concessão dada à vida de Herculano chegou ao fim sem conter nenhuma cláusula de renovação contratual.

            Partiu cedo, deixando contribuições profissionais e pessoais, porquanto sempre foi exemplo de companheirismo, valorização da ética, do conhecimento e da cultura piauiense.

            Sua esposa, suas crianças, seus amigos, seus confrades de academias, não o tiveram ontem, não o terão amanhã, não o terão nunca mais para ajudá-lo a apagar as velas do bolo dourado da vida. Vida que ele construiu com trabalho intelectual retratando a literatura piauiense através seus poemas e poesias inesquecíveis. Em Seca, Enchente, Solidão revela-se um poeta telúrico sentindo na carne os sofrimentos de sua gente:

            "Órfão de tudo, de minha pátria e do mundo,
            tenho lutado contra seca e contra enchente
               comido o pão que o diabo amassou!
             E não tenho vergonha nunca de falar de minha origem
              Pois o ferro do qual sou feito
            de tão rijo e tão perfeito
            não terá, jamais, fuligem" (p.9)         

            Todos, porém, entendem o choro da sua ausência porque o choro, como disse alguém mais entendido, é companheiro constante e voz antiga da dor que, por sua vez, é a teimosa mensageira da morte.

            Pobres mortais, só nos resta dizer ao mundo com a voz que Deus empresta aos inocentes: Aos olhos dos descrentes, parece ter morrido. Ele, porém, está em paz.

            Essa condição ele mesmo revela:

            "Se me perguntarem outra vez por que sou tão silencioso e triste, responderei:
          -Deixem-me em paz". (p.77)      

Nenhum comentário:

Postar um comentário