sexta-feira, 8 de junho de 2018

O QUE É CRÔNICA? QUAIS CARACTERÍSTICAS?

A. Tito Filho na charge de João de Deus Netto. Fonte: Google/Picinez

O QUE É CRÔNICA? QUAIS CARACTERÍSTICAS?

José Maria Vasconcelos
Escritor e cronista

         Multidão de curiosos, especialmente jovens, circulava entre as estandes e corredores da UFPI, durante o SALIPI 2018 (Salão do Livro do Piauí). Entrei na Sala de Debates, sentei-me, aguardando a vez de Frei Hermínio, que me convidara para lançamento de seu livro, CRUZEIRO. Por alguns minutos, recordei-me de professor, que disparara, em outra época, a metralhadora da presunção, durante SALIPI: “No Piauí, não existe cronista...” Evocava suas “crônicas” como exemplo de aprendizagem. Eu, contumaz aprendiz desse gênero literário, contive-me para não aplicar um pitaco ao vaidoso debatedor. Entre muitos cronistas piauienses, não me esqueço de Professor Arimateia Tito Filho. Semanalmente, o mestre publicava crônica no jornal O DIA. Eu não perdia uma, seduzido pela linguagem familiar, irreverente, sutilezas nas entrelinhas, trivialidades maria-isabel, porém de sabor incomum. Cronista das presepadas noturnas, vivências de boteco.

         Com Arimateia Tito Filho aprendi que simples é tudo aquilo que não é composto: nada de pratos carregados de misturas indigestas, coberturas de compotas doces, salgadas, óleos e temperos, vistos em programas de tevê. Somente o básico, brevidade de tempo, espaço, trama, começo e fim, às vezes, com pitadas de humor.

         Crônica, um tipo de texto curto, geralmente produzido para meios de comunicação, por exemplo, jornais, revistas. O crítico Antônio Cândido afirmava, em artigo: “A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero menor. “Graças a Deus”, seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica mais perto de nós. E para muitos pode servir de caminho não apenas para a vida, que ela serve de perto, mas para a literatura”. Alguns escritores brasileiros, porém, destacaram-se: Machado de Assis, Drummond de Andrade, Rubem Braga, Luís Fernando Veríssimo, Fernando Sabino, Carlos Heitor Cony.

         Há diversos tipos de crônica: a jornalística, a mais comum na atualidade, em que parte de um episódio e penetra na reflexão dissertativa. Esta fórmula é meu fraco. Há ainda a crônica descritiva, narrativa e histórica. A Carta de Pero Vaz de Caminha, uma crônica histórica. Crônica humorística, geralmente para ironizar políticos, sociedade e personagens destacadas. A crônica argumentativa (dissertação) parte de um tema atual: a fome, preços dos combustíveis, Copa do Mundo, meio ambiente. Ou histórico: Tiradentes, Cristo e sua época. A crônica argumentativa, como diz o termo, exige profunda reflexão nas específicas áreas em discussão.

         Aquele professor, de branco só tinha os cabelos, porque, nos imensos meandros da crônica, continua preto o senso de se aprofundar no gênero das sutilezas e cenas do cotidiano. Talvez tenha razão para não ver que, no Piauí, vicejam muitos cronistas.  

6 comentários:

  1. Prezado conterrâneo:

    Há tempos lhe venho observando os textos, ou melhor, suas crônicas. E daí tirei preliminarmente uma conclusão: são realmente crônicas todos esses textos valentes, sutis, engraçados, irônicos, debochados, atuais, locais, nacionais etc que V. tem escrito há bastante tempo.
    V. é um cronista de primeira água, assim como alguns aí do Piauí. Também gosto muito do José Ribamar Garcia neste gênero da crônica, assim como no campo da ficção.
    Esse gênero sempre me foi caro do ponto de vista teórico assim como de longa prática de leituras dos maiores cronistas nacionais e estrangeiros, porque, em língua inglesa, por exemplo, se cultiva a crônica que lá costumam denominar "essays."
    O "essay" , neste caso, não se confunde com o "essay," que é o nosso ensaio, tanto quanto, no domínio da língua inglesa.
    V. cita o nome do A. Tito Filho e eu concordo com V. Ele exemplifica bem esse tipo de cronista de coisas miúdas e graúdas, com uma quantidade considerável de crônicas escritas com leveza, verve, linguagem não rebuscada e grande vivacidade, ou melhor, vitalidade, por os textos de A.Tito Filho fascinam ao espírito e ao conhecimento, têm algo de sinestésico no emprego das palavras e das expressões locais, como "teresinar," escolhidas a dedo e com uma naturalidade surpreendente.
    Foi por isso que o ensaísta e grande tradutor, o saudoso Paulo Rónai, há muito anos no "Jornal do Brasil" teceu justos elogios a um livro de A. Tito Filho.
    A. Tito Filho foi o melhor professor de Portuguê, mormente de literatura que tive aí em Teresina, no Liceu Piauiense, na década, princípios, de 1960.
    Conto isso no meu livro de memórias, "Apenas memórias"(2016).
    Não sei a quem se referiu sobre um guru daí metido a besta que se diz entendido em crônica.
    De qualquer forma, queria, pois, registrar esse mal alinhavado comentário sobre tema que me fascina tanto.

    Um abraço do Cunha e Silva Filho.

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  2. Errata:
    Em vez de:
    "por,"leia-se "pois" (linha 18)
    "Portuguê, leia-se Português(linha 25)

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    1. josé maria vasconcelos8 de junho de 2018 às 15:09

      Meu querido Cunha e Silva, enleva-me saber que você também faz parte dos bons cronistas da terra e reconhece que a safra aqui bomba que só folguedos juninos. Grato pelo comentário à minha crônica, na qual abordo a figura do mestre Arimateia Tito Filho, que tanto me fez acreditar no gênero. Beijo no coração. José Maria Vasconcelos

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  3. Estimado cronista e conterrâneo, sinto-me presenteado cmo as suas palavras amáveis e estimulantes. Muito obrigado. Estarei aqui ao seu dispor.
    Fraternal abraço do
    Cunha

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  4. Caro Cunha,
    Fico satisfeito, até mesmo feliz, quando vejo uma pessoa reconhecer o mérito ou o talento alheio, como você o fez, com tanta elegância e pertinência.
    No mais das vezes, o que notamos é a má-vontade, senão mesmo a triste inveja.

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  5. Estimado Elmar Carvalho:
    Mais feliz ainda me sinto com as suas palavras ditadas pela sinceridade que sempre demonstra ter por mim.
    Que a nossa amizade seja sempre mais profunda para a alegria nossa!
    Abraços do amigo e admirador
    Cunha

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