domingo, 24 de junho de 2018

SOU POETA

Fonte: Google


SOU POETA

Elmar Carvalho

Também sou poeta,
Alcides Pinto,
sou poeta.
E estou de mal com a vida
que nos acena
com miragens
que jamais irá cumprir.
Sou poeta, Alcides Pinto,
nunca neguei, sou poeta.
Mas sou puto com a vida,
megera encarquilhada
que nos acorda dos sonhos
que sonhamos acordados
pelo prazer de ser ma’drasta.
Sou um poeta
da vida, das putas,
das lavadeiras, dos ladrões,
dos assassinos, dos botequins
de cachaça, das (in)confidências
mineiras, dos deserdados da sorte,
dos enteados da vida.
Sou um poeta
das putas
mas não sou pu(e)ta
dos políticos
que tanto mentem
pro povo
que tanto enganam
o povo.
Não sei de
            física.
Não sei de
            metafísica.
Sei de
            metabolismo basal
e sei que o povo
passa fome.
Sei que
algum dia o
te’ar’pão
virá tecido no (te)ar
pelo arpão do povo
e pão haverá.
Sei que
alguma coisa está errada
porque o povo era pra ser
tudo
e agora não é nada.
Sei que
existem pássaro e flor
e sei
que o amor existe:
mas pássaro é canto, é liberdade,
e  flor é vida, é alegria,
e o amor é tudo
mas tudo
está morto e triste
como uma catacumba
encravada
nas masmorras do inferno.
Quero
aproveitar a oportunidade
para comunicar a quem interessar
possa ou não, e deixar registrado
           – ad infinitum –
com certidão passada em cartório
que o sofrimento do povo me deixa
triste e me incomoda, e que
– saibam todos – no dia em que eu
disser o contráriooirártnoc
nesse dia – por medo – estarei
mentindo (e por favor não me
acreditem/creditem)
ou então
me terão feito
uma lavagem cerebral.
Sou poeta,
Alcides Pinto, sou poeta,
juro que sou poeta.    

3 comentários:

  1. Belo poema de sua lavra! Li-o há muito tempo, quando das minhas análises de sua poesia Valeu a pena me debruçar sobre ele e outros. Abraços do Cunha e Silva Filho

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  2. Caro Cunha,
    Comentários como o seu sempre me animam e me gratificam, de modo que fico achando que sempre valeu a pena o meu esforço em meu caminho na literatura, talvez a mais esquecida das manifestações culturais, ao menos em nosso Piauí.

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    1. Tem, razão, estimado amigo. Mas, a sua contribuição, malgré eux, sempre estará inscrita na história literária do Piauí. Aos invejosos, a indiferença e o silêncio. E o silêncio é, muitas vezes, eloquente, ou seja, vencedor. Forte amplexo do
      Cunha.
      Boa noite, poeta!

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