Didi em fevereiro de 2010 |
Na Várzea do Simão, na proa do Tremembé, em 2016, vendo-se ainda Chico Ribeiro, Elmar e Natim Freitas (piloto) |
DIDI
Elmar Carvalho
Quando eu
voltava ao meio dia e meia para casa, vi o Didi a trabalhar na casa de um dos
meus vizinhos. Estava literalmente com as mãos na massa, razão pela qual elas
estavam sujas de argamassa. Enquanto o Didi trabalhava, meu vizinho enxugava
uma cerveja estupidamente gelada, a olhar o trabalho.
Parei o carro,
para cumprimentá-los. Fiz menção de pegar na mão do Didi, mas ele negaceou,
dizendo que suas mãos estavam sujas. Respondi que elas estavam sujas para ele
próprio, mas para mim estavam mais limpas do que as de certos engravatados,
mais limpas do que os colarinhos de certos políticos, sobretudo do Distrito
Federal.
Conheço-o faz
vinte e cinco anos, desde que vim morar no conjunto Memorare, onde resido até
hoje, onde eu e minha mulher criamos nossos dois filhos. Ele ganha a vida
prestando pequenos serviços aos moradores, sempre respeitador e bem-humorado,
sem nunca se queixar, sem nunca se maldizer.
Conquistou a
estima e a amizade de todos. Às vezes, amanhecia sem um centavo no bolso, mas
nunca demonstrava preocupação, e tudo acabava dando certo para ele. Didi sempre
me faz lembrar as palavras de Cristo, quando falava que as aves não têm
celeiro, mas nunca lhes falta o que comer; que os lírios do campo não fiam e
não tecem, mas que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestia como um deles.
Didi é mais
milionário do que muitos arquimilionários porque pouco possui, mas o que tem
lhe é o bastante, e nasceu desprovido da ganância e da ambição. Portanto, tem o
reino do céu, aqui mesmo na terra. Sem dúvida, é um bem-aventurado.
21 de fevereiro de 2010
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