COINCIDÊNCIAS
E INCOINCIDÊNCIAS ENTRE OS CAPITÃES
Antônio de Pádua Ribeiro dos Santos
Escritor, poeta e cronista
Não resta dúvida o gosto de ambos pelas armas. O
primeiro, o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, recebeu o apelido de
Lampião exatamente porque sua capacidade de disparar
consecutivamente era impressionante, chegando a iluminar as noites escuras da
caatinga; o segundo, nosso Presidente eleito, em seu primeiro pronunciamento
depois da eleição, reforçou um dos seus propósitos de campanha que consiste na liberalização
das armas de fogo, principalmente aos homens do campo que delas muito
necessitam em suas propriedades para defesa contra os sem-terra (aqueles que
invadem propriedades alheias, como satisfação dos seus interesses mesquinhos, e
nada fazem de proveitoso à nação, cuidam apenas em desmatar sem critérios a
nossa terra dadivosa para depois abandoná-la), classe que, segundo afirma com
acerto, deve ser tratada como terrorista.
Em
segundo lugar, nosso chefe maior a partir de janeiro do próximo ano, tem o
título de Capitão que lhe fora outorgado, de forma regular, pelo brioso
Exército Brasileiro patroneado pelo herói Luís Alves de Lima e Silva, o duque
de Caxias; o outro, o erroneamente chamado de Robin Hood do Nordeste, não sendo
das fileiras militares, mas tendo incomensurável anseio ao posto, recebeu, por
sua sagacidade e ousadia sem limites, o mesmo honroso título por concessão de
Cícero Romão Batista, o padre Cícero, respeitado religioso brasileiro, em 12 de
março de 1926, no Juazeiro do Norte – Ceará, em memorável festa onde fora ovacionado
ao lado da família, fotografado e entrevistado, depois de condecorado,
recebendo na ocasião grande quantidade de munição para combater a Coluna
Prestes, liderada pelo propalado Cavaleiro da Esperança. Combate que jamais
aconteceu e que não se exaure numa simples crônica, merecendo um bem pensado
livro.
A
despeito destas coincidências que a história nos permite observar, vêm também
duas incoincidências. A primeira é que o capitão do Cangaço atuou com sucesso
no Nordeste Brasileiro, com exceção do Piauí e do Maranhão, não aparecendo nas
outras regiões do país; o capitão vencedor das nossas eleições, a despeito de
retumbante vitória, não teve maioria em nenhum estado do Nordeste, ali perdendo
para o Bolsa Família e outras estripulias.
A
segunda é que o cangaceiro-capitão patenteado teve como companheira uma Maria
que somente tinha de bonita o nome. Como ele, pegava em arma, não tinha
qualquer religião, embora temida e respeitada por sua bravura ante o inimigo; o
nosso capitão Presidente tem como companheira uma que não é Maria, não provoca
pavor nos outros, não pega em armas, mas é religiosa e mesmo não tendo o “bonita”
no nome, não se pode ignorar: tratar-se realmente de uma mulher bonita.
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