quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

FILÓSOFO OU DEMAGOGO?



FILÓSOFO OU DEMAGOGO?

Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

                Ao que parece, não só o guru do atual presidente da república, de seus familiares, amigos, simpatizantes e maria vai com as outras é um cidadão havido por filósofo, ainda que, segundo se soube, nunca  haja concluído curso de graduação, pós-graduação, especialização ou doutorado em Filosofia, nem precisava, porque, segundo professor de português dos idos de nossa adolescência, “Filosofia é a ciência (?) – assim mesmo, interrogativamente - das causas e dos porquês”; logo,  não há como se concluir algo que sempre está em fase de criação, renovação, atualização, enfim, vivo, evoluindo;  também nosso ministro da Educação, ex-professor, colombiano, ilustre desconhecido até ontem, diz-se filósofo, nos moldes concebidos pelo velho mestre, uma vez que, a despeito da investidura em função pública de tamanha importância, faz o ministro questão de valer-se dos porquês, sem se preocupar, mensurar ou ponderar os possíveis efeitos de sua fala a respeito do que considera educação, matéria que, no mínimo, mereceria zelo e valorização de sua parte, por motivos óbvios: é seu mister cuidar dela.

                Pois bem, alardeou o ministro filósofo – não ouvimos nada que contrariasse a informação publicada, ou que viesse a transformá-la em notícia falsa, inverdade, pós-verdade – que as universidades públicas deveriam ser reduto ou espaço destinado às elites intelectuais. Se isso não é uma digressão filosófica, provavelmente, não seria também uma metáfora, mas uma falácia, asnice, uma demonstração de demagogia. Fechem-se, então, as universidades estatais – como aconselhou aqueloutro professor fosse feita às portas de delegacias voltadas ao atendimento da população feminina, em razão de situações absurdas por ele descritas -, porque, certamente, as intelectualidades elitizadas melhor se revelam quando passam a conviver em um mesmo – público e/ou privado - espaço cultural ou instrucional, com os não excepcionais gênios da inteligência e do saber. Cercear, de cara, o direito de ocupar tais recintos ao suposto proletariado intelectual é uma aberração somente digna de ser pensada por alguém despreparado para assumir um ministério governamental do quilate do da educação; ou, quem sabe, talvez, por um indivíduo que nutra pretensões – se sua intenção não é outra senão apenas agradar àquele que o indicou ao cargo – de desconstruir todo o arcabouço pedagógico, filosófico e educacional construído por um brasileiro havido como um dos maiores pensadores da Educação – mero arrivista, na visão míope do governante federal. Aliás, tivesse inepto ministro  dedicado um pouco de seu tempo em examinar quem são os componentes, aqueles que, de fato, conseguem chegar até elas, perceberia ou concluiria que eles não são parte de uma elite intelectual, mas a própria, porque não se chega aos campus e campi universitários públicos -- mesmo se levando em consideração específicos grupos de indivíduos que recebem incentivo legal extra, na forma de cotas, como justa paga de uma dívida histórica para com seus ancestrais -,  sem razoável bagagem intelectual, cultural, instrucional e educacional; claro que, nem sempre, fornecida ou dispensada por entidades públicas de ensino fundamental e médio; portanto, já são as instituições públicas de ensino superior, habitat temporário de nossa elite intelectualizada. Se essas organizações não conseguem ter ou manter parte dela em seus recintos ou sob sua orientação, que se reinventem, para não permitirem fugas ou perdas dos melhores cérebros para instituições mais sérias e competentes.

                Se o conceito-tese que quis dar o ministro da educação em relação ao que considera elites intelectuais foi de que elas não são o conjunto formado por aqueles indivíduos mais bem preparados para absorverem e disseminarem conhecimentos e informações, mas aquela clientela composta de cidadãos com melhor e maior poder aquisitivo, mais bem aquinhoada economicamente, dir-se-ia, então, que ele agiu não como o filósofo que se soube seria, mas como um demagogo, talvez hipócrita. Menos mal, que a figura é um tanto desconhecida, ainda.

                Parece insofismável que quanto mais bagagem intelectual e cultural acumula o indivíduo, mais isso o torna capaz de adaptar-se às diversas e adversas situações existenciais; entretanto, naturalmente, tais virtudes, por si sós, não transformam quem as possui em competentes governantes, conselheiros, nem em irretocáveis servidores públicos; para que isso ocorra, não raro, faz-se necessário aliar a essa fortuna pessoal boa dose de humildade, de modéstia, seriedade e de comprometimento.

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