terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Furna da Onça

Augusto e o boêmio Dourado
Os saudosos Dourado e Dom Augusto da Munguba, vistos pelo talento de Gervásio Castro


Furna da Onça 

Elmar Carvalho

Por ocasião da Expedição ao Sertão Colonial, na velha Oeiras, disse ao amigo José Augusto Nunes, ex-presidente da Agespisa, que, muitos anos atrás, quando passava por Oeiras, em viagem de fiscalização da SUNAB, a caminho de São João do Piauí ou São Raimundo Nonato, ao ver o bar Furna da Onça, me dava uma vontade de tomar uma dose da “branquinha”, mas nunca o fiz. De sorte que esse meu pequeno sonho de consumo ficou mesmo como apenas um sonho frustrado e nada mais. Me respondeu ele que eu ainda iria realizar esse desejo, embora hoje a Furna tivesse cerrado suas portas. Agora, recebo dele o seguinte e-mail, pelo qual constato que jamais matarei essa minha vontade:

“Conheci Martinho muito cedo. Desde a época da sua labuta no campo, no bar que montou e fechou, por não suportar ébrios cuspindo no seu ambiente. Na eleição que tio João Nunes perdeu para Valdemar Freitas, elegeu-se vereador do município de Oeiras. Presenciei acalorados debates, no espaço reservado à Câmara, na antiga prefeitura situada na praça Costa Alvarenga. Martinho era sempre muito sereno, lúcido e seguro em suas afirmações. Em 1993, quando também me elegi vereador, pude conviver mais de perto com ele por intensos 04 anos. Foi um tempo de muito aprendizado.  Certa vez, ao encontrá-lo no gabinete da presidência da Câmara, disse-me que os maiores problemas que enfrentamos na vida são sempre os caseiros.  Isso é verdade, ele tinha razão! Desde quando iniciei o meu mandato de vereador, nunca mais me distanciei de Martinho.  Sempre que ia a Oeiras, era certo encontra-lo na calçada de sua casa para uma prosa agradável, mesmo se tratando de um homem de poucas palavras. Educou, formou filhos e também sofreu a dor maior de um pai ao perder dois deles precocemente. A partida do Martinho, para o encontro com o pai celestial, deixa um vazio para toda cidade, especialmente para a família e amigos. Amigo como eu, que não o encontrará mais na sua calçada, olhando para a bela paisagem do café Oeiras, coreto e cine teatro.   Doravante terei de me acostumar sem as suas lições. Saudades, Martinho.”

Respondi ao prezado fidalgo José Augusto Nunes da seguinte maneira:

“Caro amigo José Augusto (e aqui me lembro dos dois José Augusto, o velho e o novo, cantores de minha admiração, tanto pelo repertório, quanto pela voz, que ouvi tantas vezes em disco de vinil, nas velhas "radiolas" de outrora.

O novo já ficou velho, assim como eu estou ficando ou já fiquei, e o outro partiu para o infinito e para a eternidade, há muitos anos, precocemente.

Ainda haveremos de desbravar a Furna da Onça, para tomarmos uma boa talagada de uma excelente calibrina, oportunidade em que daremos uma discreta (ou não tanto) cusparada no pé do balcão.

Eu já tive a minha "furna da onça", em Parnaíba. Era o bar do comandante Augusto, que ficava no bairro Munguba, perto de onde "as águas podres da vala da Quarenta tomam banho nas águas puras do Igaraçu", como disse num de meus poemas. 

Nesse boteco apenas eram tocados os velhos bolachas de borracha, mas exclusivamente pelas mãos do Augusto, que tinha ciúme de sua vitrola, e principalmente de seus discos. Escrevi um poema sobre esse saudoso bar, que segue abaixo.”

Eis o soneto a que me referi:


BAR DO AUGUSTO

Elmar Carvalho

No bar do Augusto
o passado era sempre presente,
e o futuro a Deus pertence.
No Recanto da Saudade

de outra dimensão do espaço-tempo
o Dourado continua a vestir a fantasia
de a sua própria pessoa ser ou não ser
heterodoxos heterônimos pessoanos.

Onde, agora, o Augusto?
Onde, agora, a vitrola, a música e o bar?
Como nos versos sublimes de Bandeira,

ficaram de pé, suspensos no ar. . .
Encantados no destempo de um tempo
sem passado, sem futuro, sem presente.   

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