segunda-feira, 11 de março de 2019

PEQUENO ENSAIO FILOSÓFICO SOBRE TESES INÓCUAS

 

PEQUENO ENSAIO FILOSÓFICO SOBRE TESES INÓCUAS

Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com) 

                Sempre e onde quer que irrompam as crises econômicas, principalmente, mas também as políticas, com elas emergem os arautos da verdade absoluta, luminares, sábios, conhecedores de todas as causas e porquês.

                Como bombeiros que avisam sobre as possibilidades de grandes incêndios, mas que não são ouvidos nem chamados a debelá-los quando acontecem. Uma babel de estudiosos das ciências econômicas e administrativas, consultores generalistas, cientistas políticos,  experts em mídia, dialética ou retórica; meros oradores intrometidos ou disléxicos.

                Aqui, no Brasil, essas sumidades apresentam uma singularidade: no mais das vezes, já serviram ao estado e a governos na condição de auxiliares diretos ou de confiança dos governantes de plantão.  Todavia, quando lá estiveram, se não contribuíram para que as catástrofes emergissem, mostraram-se incapazes de orientar ou aconselhar seus comandantes quanto ao tratamento que lhes deveria ser aplicado. Longe do poder público, essas figuras, amiúde, não somente se lançam a fazer presságios, divagações, alertas terríveis acerca das possibilidade de novas crises, como se transformam em prolíficos fornecedores de soluções para evitá-las, criadores de salvaguardas e de fórmulas mágicas que, se postas em prática pelos gestores públicos, provavelmente, impediriam futuros sobressaltos, ou talvez minimizassem ou mitigassem os males intercorrentes ou consequentes à instauração das mesmas. Esses sábios, de uma hora para outra, passam a ensinar como consertar erros que contribuíram para que ocorressem ou permitiram que fossem cometidos; porém, não mais nos palácios governamentais ou ministeriais, mas em púlpitos, em entrevistas, seminários, convenções; e não mais como auxiliares de governos, mas na condição de palestrantes remunerados, consultores, enfim, insignes especialistas em economia e política.

                Outro dia, um veículo midiático convidou alguns desses experts - economistas, na maioria, ex-ministros das áreas econômicas; cientistas políticos, consultores e congêneres - a darem palpites e sugestões que pudessem, imediatamente, solucionar os problemas que impedem o Brasil de se transformar em um foguete desenvolvimentista. O saldo dessa experiência resultou em um ensaio filosófico sobre teses recorrentes, improváveis ou inócuas.

                A ironia ou demagogia que alguns dos iluminados convidados impingiram aos temas elencados pode ser sentida no posicionamento de três deles. Um, apesar de saber e afirmar que são direitos sociais, constitucionais e básicos de todos os brasileiros, dentre outros, a educação e a saúde de boa qualidade, entende que quem, necessária e, complementarmente, paga um plano de saúde e uma escola particular, a fim de ter a educação e o tratamento de saúde que os pertinentes sistemas públicos, mesmo obrigados, não oferecem, deveria abdicar de tais garantias legais, que ele chama de privilégios ou luxo, deixando para os menos aquinhoados a universidade pública e o sistema único de saúde. É, no mínimo, imoral qualquer sugestão imposta ao contribuinte no sentido de induzi-lo a abrir mão dos parcos direitos aos quais faz jus como contrapartida aos tributos que paga. Assim como o cidadão, o estado precisa cumprir as leis. O outro, romanticamente, acha que todo processo judicial teria que ser concluído em até três anos, ou o magistrado responsável por ele não seria promovido. Mera demagogia. A menos que o poder legislativo seja instado a mudar as leis que os juízes apenas aplicam, de modo a diminuir a quantidade de instâncias, recursos, apelações e protelações legais existentes, tudo vai continuar como antes, ou pior.

                O terceiro conselheiro crê que se toda mãe tivesse direito de votar em cada eleição tantas vezes quantos fossem seus filhos menores de dezesseis anos, os eleitos passariam a se preocupar, a longo prazo, com as questões previdenciárias, ambientais e as políticas de investimentos. Será? Ora, se já erramos com um voto per capita, com vários então...

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